O "Natal dos Hospitais" é programa já tradicional nos hábitos portugueses. O que nem toda a gente saberá é que essa tradição começou com o "Natal das Crianças dos Hospitais", iniciativa devida à poetisa Lutgarda Guimarães de Caires (1873-1935), algarvia, de Vila Real de Santo António.
No seu primeiro livro, Glicínias (Lisboa: Livraria Ferreira Editora, 1910), o poema "Noite de Natal", que reproduzo, eivado de um total sentimento cristão, faz-me lembrar uma outra história associada ao Natal, devida a Hans Christian Andersen. Lembram-se de "A menina dos fósforos"?
No seu primeiro livro, Glicínias (Lisboa: Livraria Ferreira Editora, 1910), o poema "Noite de Natal", que reproduzo, eivado de um total sentimento cristão, faz-me lembrar uma outra história associada ao Natal, devida a Hans Christian Andersen. Lembram-se de "A menina dos fósforos"?
Noite de Natal
Tudo são cantos, tudo alacridade:
É noite de Natal, repicam sinos, –
A grande noite em que se entoam hinos,
Enaltecendo a santa caridade.
No degrau duma porta já dormiam
Dois pequeninos, muito abraçadinhos;
O frio era cortante, e os seus bracinhos,
De enregelados, não se desuniam.
Através dessa porta ouve-se o riso.
Lá dentro festejava-se o Natal,
A noite santa, a noite sem igual,
Que às criancinhas traz o paraíso.
Mas essas que vagueiam sem ter pão,
Que dormem sem um tecto protector,
A essas, já sem mãe, sem um amor,
A neve cai-lhes sobre o coração!...
Há quanto aquele sono duraria,
Sabiam-no, talvez, só as estrelas,
Que os pobrezinhos tinham-nas a elas,
E a ninguém mais, naquela noite fria.
A meia-noite acaba de soar,
Nasceu Jesus, o nosso Redentor.
Hinos de graça e divinal amor
Estão no céu os anjos a cantar.
De súbito, uma luz bela e fulgente
Como chuva de estrelas luminosas,
Transforma a branca neve em lindas rosas
E a pedra fria em leito brando e quente.
E, então, naquele berço vaporoso,
No perfume das rosas nacaradas,
As duas cabecinhas desmaiadas
Descansam num remanso misterioso.
Caía a neve em flocos, de mansinho,
Em volta do seu berço encantador,
Estendendo um tapete de esplendor,
Como um manto real de níveo arminho.
Doce visão celeste ajoelhou,
Curvada sobre o berço alvinitente,
E o manto que levava, docemente,
Sobre os dois pezinhos desdobrou.
E o pranto de seus olhos deslizava,
Caindo no seu manto redentor, –
Estrelas deslumbrantes de fulgor
As lágrimas que a Virgem derramava.
Depois, ao envolvê-los nesse manto,
De estrelas fulgurando recamado,
Estreita-os ao seu seio imaculado.
No calor do seu peito sacrossanto.
…………………………………………………………
E os anjos entoando um coro alado,
Em mística doçura celestial,
Cantavam essa noite de Natal,
No céu, de luz divina iluminado:
“A meia-noite acaba de soar, –
Ajoelhai, cristãos! Nasceu Jesus,
Aquele que, pregado numa cruz,
Só por amor de vós veio a expirar.
Nossa Senhora, a Sua Santa Mãe,
Celeste e pura Mãe de abandonados,
Foi socorrer os pobres enjeitados,
Porque essa Mãe nunca enjeitou ninguém.
A Caridade, que Jesus pregou,
Exercê-la, no mundo, mal sabeis!
Vede as crianças, como as esqueceis,
Essas crianças que ele tanto amou.
Bem-vindos sejam nossos irmãozinhos
Que a Virgem Santa à terra foi buscar:
A vida eterna aqui virão gozar,
Porque no céu jamais há pobrezinhos.
Ajoelhai, cristãos, nasceu Jesus!
E Sua Mãe, a Santa Virgem pura,
À terra foi livrar da desventura
Aqueles por quem Deus morreu na cruz.”
…………………………………………………………
E foi assim, em noite abençoada,
À hora Santa em que Jesus nasceu,
Que os pobrezinhos foram para o Céu
No manto azul da Mãe imaculada.
Tudo são cantos, tudo alacridade:
É noite de Natal, repicam sinos, –
A grande noite em que se entoam hinos,
Enaltecendo a santa caridade.
No degrau duma porta já dormiam
Dois pequeninos, muito abraçadinhos;
O frio era cortante, e os seus bracinhos,
De enregelados, não se desuniam.
Através dessa porta ouve-se o riso.
Lá dentro festejava-se o Natal,
A noite santa, a noite sem igual,
Que às criancinhas traz o paraíso.
Mas essas que vagueiam sem ter pão,
Que dormem sem um tecto protector,
A essas, já sem mãe, sem um amor,
A neve cai-lhes sobre o coração!...
Há quanto aquele sono duraria,
Sabiam-no, talvez, só as estrelas,
Que os pobrezinhos tinham-nas a elas,
E a ninguém mais, naquela noite fria.
A meia-noite acaba de soar,
Nasceu Jesus, o nosso Redentor.
Hinos de graça e divinal amor
Estão no céu os anjos a cantar.
De súbito, uma luz bela e fulgente
Como chuva de estrelas luminosas,
Transforma a branca neve em lindas rosas
E a pedra fria em leito brando e quente.
E, então, naquele berço vaporoso,
No perfume das rosas nacaradas,
As duas cabecinhas desmaiadas
Descansam num remanso misterioso.
Caía a neve em flocos, de mansinho,
Em volta do seu berço encantador,
Estendendo um tapete de esplendor,
Como um manto real de níveo arminho.
Doce visão celeste ajoelhou,
Curvada sobre o berço alvinitente,
E o manto que levava, docemente,
Sobre os dois pezinhos desdobrou.
E o pranto de seus olhos deslizava,
Caindo no seu manto redentor, –
Estrelas deslumbrantes de fulgor
As lágrimas que a Virgem derramava.
Depois, ao envolvê-los nesse manto,
De estrelas fulgurando recamado,
Estreita-os ao seu seio imaculado.
No calor do seu peito sacrossanto.
…………………………………………………………
E os anjos entoando um coro alado,
Em mística doçura celestial,
Cantavam essa noite de Natal,
No céu, de luz divina iluminado:
“A meia-noite acaba de soar, –
Ajoelhai, cristãos! Nasceu Jesus,
Aquele que, pregado numa cruz,
Só por amor de vós veio a expirar.
Nossa Senhora, a Sua Santa Mãe,
Celeste e pura Mãe de abandonados,
Foi socorrer os pobres enjeitados,
Porque essa Mãe nunca enjeitou ninguém.
A Caridade, que Jesus pregou,
Exercê-la, no mundo, mal sabeis!
Vede as crianças, como as esqueceis,
Essas crianças que ele tanto amou.
Bem-vindos sejam nossos irmãozinhos
Que a Virgem Santa à terra foi buscar:
A vida eterna aqui virão gozar,
Porque no céu jamais há pobrezinhos.
Ajoelhai, cristãos, nasceu Jesus!
E Sua Mãe, a Santa Virgem pura,
À terra foi livrar da desventura
Aqueles por quem Deus morreu na cruz.”
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E foi assim, em noite abençoada,
À hora Santa em que Jesus nasceu,
Que os pobrezinhos foram para o Céu
No manto azul da Mãe imaculada.
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