Um conjunto de “artigalhadas” e “espirros”, assim indicou Luiz Pacheco como sendo o conteúdo do seu livro Isto de estar vivo (Palmela: Contraponto, 2000), que inseriu ilustrações de Alice Geirinhas. No total, 35 textos, que foram outras tantas crónicas publicadas na imprensa.
Opiniões e lembranças, notas sobre livros e autores, num percurso resultante de leituras, ora em edições acabadas de sair, ora encontrando textos já antigos (em incansáveis idas às bibliotecas, sobretudo à Municipal de Setúbal), ora comentando a vida literária sentida em Portugal. Por aqui passam nomes como Alexandre Herculano, Fernando Pessoa, José Gomes Ferreira, José Régio, Vitorino Nemésio, António Gedeão, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Jorge Amado, Viana Moog, Agustina Bessa-Luís, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, António Maria Lisboa, Clara Pinto Correia, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Helena Marques, Luísa Beltrão, Julieta Monginho, Manuel Alegre, António Lobo Antunes e Jostein Gaarder; temas como o seminário na formação de muitas personalidades, a escrita para concursos, os brandos costumes, a censura, Salazar ou o papel do Teatro do Salitre; e memórias e retratos do "escriba", quase sempre rápidos, em alusão breve.
O leitor encontra-se com a crítica certeira produzida por um Pacheco que se ri das andanças do mundo, sobretudo do mundo intelectual, e que se justifica quanto ao seu tom: “Perdoe-se-me: sou homem e nada do que é humano me é alheio.” Não esconde o seu estado de espírito – “Fico por aqui que a minha tensão está a subir” – nem uma aproximação aos leitores – sobre um texto de António Sérgio, cuja eventual republicação ignorava, pedia “Faço aqui um apelo: alguém me poderá indicar onde, se foi republicado; ou conseguir uma fotocópia desse texto?” – nem o prazer de viver – ao lembrar um espectáculo do Teatro do Salitre dos idos de 40, conclui: “A minha memória cai no passado e paro para não me entregar a devaneios saudosistas. É que morreu quase essa gente toda. Quem vive? O Rebello, o Artur Ramos e um lote de esplêndidos actores. E eu, oh!”
O último texto, “Memorial do recolhimento”, de cariz autobiográfico, relata a sua experiência de vida num lar, em Palmela, reflectindo sobre a idade e sobre a morte, mas sempre com uma certeza, trazida pelo trabalho e pela edição (que continuava a fazer): “Se padeci sustos e flatos e, às vezes, isto parece uma casa de orates, não perdi a vontade de rir de mim, principalmente, o que é óptimo sintoma. Dêem-me os parabéns.”
Opiniões e lembranças, notas sobre livros e autores, num percurso resultante de leituras, ora em edições acabadas de sair, ora encontrando textos já antigos (em incansáveis idas às bibliotecas, sobretudo à Municipal de Setúbal), ora comentando a vida literária sentida em Portugal. Por aqui passam nomes como Alexandre Herculano, Fernando Pessoa, José Gomes Ferreira, José Régio, Vitorino Nemésio, António Gedeão, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Jorge Amado, Viana Moog, Agustina Bessa-Luís, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, António Maria Lisboa, Clara Pinto Correia, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Helena Marques, Luísa Beltrão, Julieta Monginho, Manuel Alegre, António Lobo Antunes e Jostein Gaarder; temas como o seminário na formação de muitas personalidades, a escrita para concursos, os brandos costumes, a censura, Salazar ou o papel do Teatro do Salitre; e memórias e retratos do "escriba", quase sempre rápidos, em alusão breve.
O leitor encontra-se com a crítica certeira produzida por um Pacheco que se ri das andanças do mundo, sobretudo do mundo intelectual, e que se justifica quanto ao seu tom: “Perdoe-se-me: sou homem e nada do que é humano me é alheio.” Não esconde o seu estado de espírito – “Fico por aqui que a minha tensão está a subir” – nem uma aproximação aos leitores – sobre um texto de António Sérgio, cuja eventual republicação ignorava, pedia “Faço aqui um apelo: alguém me poderá indicar onde, se foi republicado; ou conseguir uma fotocópia desse texto?” – nem o prazer de viver – ao lembrar um espectáculo do Teatro do Salitre dos idos de 40, conclui: “A minha memória cai no passado e paro para não me entregar a devaneios saudosistas. É que morreu quase essa gente toda. Quem vive? O Rebello, o Artur Ramos e um lote de esplêndidos actores. E eu, oh!”
O último texto, “Memorial do recolhimento”, de cariz autobiográfico, relata a sua experiência de vida num lar, em Palmela, reflectindo sobre a idade e sobre a morte, mas sempre com uma certeza, trazida pelo trabalho e pela edição (que continuava a fazer): “Se padeci sustos e flatos e, às vezes, isto parece uma casa de orates, não perdi a vontade de rir de mim, principalmente, o que é óptimo sintoma. Dêem-me os parabéns.”
Frases que ficam
Viver – “Ninguém se arrogue a pretensão de viver, sempre, dias interessantes, dignos de menção. Era o que faltava!”
Crítico – “Eis um crítico literário a meu gosto. Fala daquilo que ama e de quem ama; eleva um Autor, sem rabulices tecnicistas, à estima do leitor comum.”
Encosto – “Será pessimista ou negativo, por exagerado, reconhecer que um escriba andando sempre colado ao Sistema, aos vários poderes dos vários sistemas (e tantos eles foram nos derradeiros 50 anos) não se pode arrogar, depois, fazer-lhe a crítica… que por dentro será arrojada, talvez suicida, por fora redundará em folclórica: inócua, supérflua, literatelha.”
Saber – “Houve o tempo dos almanaques. E até ficou conhecida, em pejorativo, em degradante, uma dita ciência de almanaque, que designava um amontoado de noções rápidas, amacacadas, nomes, datas, caganifâncias inúteis com as quais se podia aparentar, para ignaro ver, alguma cultura. Não fazia mal a ninguém, entretinha, iludia quem queria ser e merecia ser iludido.”
Lar – “Aqui há meses, chateadíssimo de viver sozinho, resolvi recolher a um lar da terceira-idade. Calcula-se o que é. Antros de horror, para onde os velhos são atirados porque aborrecem ou incomodam em casa da família, dos filhos. Não sei ao certo de onde veio esta moda, mas calculo. E veio para ficar. Normas comunitárias, subsídios que transformam idosos incapazes em rendosa matéria-prima; despojos humanos vampirizados por gente sem escrúpulos nenhuns e gulosa dos apoios oficiais, apenas. Lares? Meros depósitos de pré-cadáveres. Pobre gente no derradeiro patamar da vida, apoquentada pela idade avançada, a insânia do caruncho, a doença, a invalidez física.”
Crítico – “Eis um crítico literário a meu gosto. Fala daquilo que ama e de quem ama; eleva um Autor, sem rabulices tecnicistas, à estima do leitor comum.”
Encosto – “Será pessimista ou negativo, por exagerado, reconhecer que um escriba andando sempre colado ao Sistema, aos vários poderes dos vários sistemas (e tantos eles foram nos derradeiros 50 anos) não se pode arrogar, depois, fazer-lhe a crítica… que por dentro será arrojada, talvez suicida, por fora redundará em folclórica: inócua, supérflua, literatelha.”
Saber – “Houve o tempo dos almanaques. E até ficou conhecida, em pejorativo, em degradante, uma dita ciência de almanaque, que designava um amontoado de noções rápidas, amacacadas, nomes, datas, caganifâncias inúteis com as quais se podia aparentar, para ignaro ver, alguma cultura. Não fazia mal a ninguém, entretinha, iludia quem queria ser e merecia ser iludido.”
Lar – “Aqui há meses, chateadíssimo de viver sozinho, resolvi recolher a um lar da terceira-idade. Calcula-se o que é. Antros de horror, para onde os velhos são atirados porque aborrecem ou incomodam em casa da família, dos filhos. Não sei ao certo de onde veio esta moda, mas calculo. E veio para ficar. Normas comunitárias, subsídios que transformam idosos incapazes em rendosa matéria-prima; despojos humanos vampirizados por gente sem escrúpulos nenhuns e gulosa dos apoios oficiais, apenas. Lares? Meros depósitos de pré-cadáveres. Pobre gente no derradeiro patamar da vida, apoquentada pela idade avançada, a insânia do caruncho, a doença, a invalidez física.”
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