Há umas semanas, consegui adquirir, em alfarrabista, o livro Poesias, de Olavo Bilac (18ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1940), reunindo a obra poética deste escritor brasileiro, nome sério para a bibliografia sobre Bocage (ainda há poucos anos o Centro de Estudos Bocageanos reeditou um ensaio sobre o poeta setubalense, devido a Bilac) e que, em Setúbal, está homenageado, em monumento, desde 1965 (vai fazer no próximo ano 45 anos), na Praça do Brasil.
O último livro reunido nesse volume de poesia completa tem como título Tarde, obra que foi editada postumamente, em 1919 (Bilac falecera no ano anterior). É deste último livro que retiro o soneto "Natal" e aqui o divulgo.
Natal
No ermo agreste, da noite e do presepe, um hino
De esperança pressaga enchia o céu, com o vento...
As árvores: "Serás o sol e o orvalho!" E o armento:
"Terás a glória!" E o luar: "Vencerás o destino!"
E o pão: "Darás o pão da terra e o pão divino!"
E a água: "Trarás alívio ao mártir e ao sedento!"
E a palha: "Dobrarás a cerviz do opulento!"
E o tecto: "Elevarás do opróbrio o pequenino!"
E os reis: "Rei, no teu reino, entrarás entre palmas!"
E os pastores: "Pastor, chamarás os eleitos!"
E a estrela: "Brilharás, como Deus, sobre as almas!"
Muda e humilde, porém, Maria, como escrava,
Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos;
Sendo pobre, temia; e, sendo mãe, chorava.
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