«1.A saga da maior manifestação de sempre que fora precedida dessa história interminável sobre a reforma do ensino foi interrompida por breves momentos por causa dos exames - eis o resumo do ano lectivo que agora finda. Chegados a Junho, finalmente falou-se de alunos, não porque tenham batido em professores ou sido espancados por colegas. E desta vez falou-se também de conteúdos e de testes sem nos estarmos a referir ao programa da Educação Sexual e aos testes à sida que o IPJ pretende efectuar nas escolas, com um voluntarismo que faz falta nas matemáticas.
O caso é tão raro que merece ser assinalado. E é assombroso o que se conclui desta espécie de movimento de rotação a que os exames obrigam as escolas. Por exemplo, na prova do 12.º Ano de Literatura Portuguesa existe um pequeno glossário que dá aos alunos significados para palavras que constam no texto. E, assim, para alunos de Literatura Portuguesa, com 17 ou mais anos, dão os seguintes significados: acabrunhado: desolado; calabouço: cela ou compartimento prisional num posto de polícia; logro: engano; se espojava: se rebolava no chão. Isto, que está ao nível do 4.º ano de escolaridade, infelizmente está longe de ser uma excepção.
Nestes exames, alguém anda a fazer batota e desta vez não são os alunos. O que se está a ensinar? É suposto que se exija cada vez menos? Para que serve o GAVE, o gabinete do Ministério da Educação que tem a seu cargo a realização destas provas?
O Ministério da Educação é uma gigantesca máquina de colocar e administrar pessoal. Os conteú-dos e as técnicas de ensino estão absolutamente relegados da discussão e daquilo em que se ocupam. Mas, tal como a Terra se movia, apesar de alguns serem obrigados a afirmar o contrário, também a escola existe para lá das lutas entre os funcionários da 5 de Outubro e os das escolas.
Parafraseando o glossário da prova, o que se avista é mais ou menos um logro. É urgente que, na próxima campanha eleitoral, os partidos deixem de fazer declarações de amor à escola e definam muito claramente o que pensam sobre os conteúdos, a credibilidade do sistema de avaliação dos alunos, se estão ou não dispostos a ponderar o cheque-ensino e claro que também o estatuto dos professores. Mas outro ano com os alunos a servirem de quorum para a conflitualidade entre o Ministério da Educação e os seus funcionários é que não.»
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