Habituados que andamos a ver a formiguinha a labutar, sempre gregariamente, assim dando nas vistas, pouco reparamos nos outros insectos, mesmo porque desde há muito nos ensinaram que neste mundo mais vale ser formiga do que cigarra, ainda que talvez não tenha que ser sempre assim. A acrescer a este hábito, há ainda aquele sentido da palavra “insecto” que pode ser para designar uma “pessoa insignificante”, que outra prova não é senão a do humano desprezo por esses seres a que a entomologia se dedica. E até nos podemos lembrar da narrativa em que Kafka transforma o caixeiro-viajante Samsa num “gigantesco insecto”, processo de metamorfose (é esse o título da história, datada de 1913) com irreversibilidade, que leva Samsa à morte, por rejeição e para alívio da restante família… E ainda podemos avocar as expressões que inserem os insectos, usadas nem sempre por boas razões… tudo a provar que a relação do humano com o insecto pode ter sido muitas coisas menos pacífica!
E os insectos, seres minúsculos e misteriosos, não andarão longe da fantasia, assim a queiramos ver e descobrir um mundo novo, assim tentemos reparar no mundo que frequentamos. Reparar, com a carga repetitiva sobre o “parar”, para podermos ver o que óbvio não é. De outra metamorfose precisamos nós, algo próximo daquilo que Sebastião da Gama, o poeta da Arrábida (quase tão arrábido como ela), cantou, quando revelou: “Minha alma abriu-se… / Que linda janela / que é a minha alma! / Não!, linda não é ela: / lindas são as vistas / que se avistam dela. // (…) // Como são tão belas / as coisas lá por fora! / Minha alma em tudo, / em tudo se demora.”
As fotografias de José Costa são pinceladas da paisagem que se avista dessa janela, ponto de ver o mundo, tornando-nos próximas coisas que desconhecemos ou rejeitamos, anulando a distância que vai entre o observador e o minúsculo observado, ampliando a proximidade, mas também a figura, quase nos parecendo aqueles seres de uma grandeza desmesurada, que nos fitam e que passam no seu caminho de sobrevivência, certos da sua continuidade, alguns quase nos remetendo para a fantasia do desenho animado, revestidos de cores muitas, muitas mais do que a paleta das conjugações permite.
Há nestas fotografias momentos de fixação e segmentos de vida. E todas estas criaturas sustentam incólumes a Natureza, transformando-a, dando-lhe corpo, voz e movimento. Maravilhado e a ver os homens através dos animais, Sebastião da Gama fazia ecoar noutro passo, em jeito de elegia, que “de Amor cantavam todos os rios, / todas as serras, todas as flores, / todos os bichos, todas as árvores, / todos os pássaros, todos os pássaros, / todos os homens, todos os homens.” Harmonia perfeita, acordes sublimes, comunhão conseguida.
E a labuta prossegue. Com insectos que acordam flores, que posam, que amam. E nos surpreendem no fundo de um olhar atento, num gesto de acrobacia, num acto de elegância, num equilíbrio indispensável, num ensimesmar de alheamento. Maneiras positivas de ser Universo. Como não há-de a fantasia revestir-se de beleza?
E os insectos, seres minúsculos e misteriosos, não andarão longe da fantasia, assim a queiramos ver e descobrir um mundo novo, assim tentemos reparar no mundo que frequentamos. Reparar, com a carga repetitiva sobre o “parar”, para podermos ver o que óbvio não é. De outra metamorfose precisamos nós, algo próximo daquilo que Sebastião da Gama, o poeta da Arrábida (quase tão arrábido como ela), cantou, quando revelou: “Minha alma abriu-se… / Que linda janela / que é a minha alma! / Não!, linda não é ela: / lindas são as vistas / que se avistam dela. // (…) // Como são tão belas / as coisas lá por fora! / Minha alma em tudo, / em tudo se demora.”
As fotografias de José Costa são pinceladas da paisagem que se avista dessa janela, ponto de ver o mundo, tornando-nos próximas coisas que desconhecemos ou rejeitamos, anulando a distância que vai entre o observador e o minúsculo observado, ampliando a proximidade, mas também a figura, quase nos parecendo aqueles seres de uma grandeza desmesurada, que nos fitam e que passam no seu caminho de sobrevivência, certos da sua continuidade, alguns quase nos remetendo para a fantasia do desenho animado, revestidos de cores muitas, muitas mais do que a paleta das conjugações permite.
Há nestas fotografias momentos de fixação e segmentos de vida. E todas estas criaturas sustentam incólumes a Natureza, transformando-a, dando-lhe corpo, voz e movimento. Maravilhado e a ver os homens através dos animais, Sebastião da Gama fazia ecoar noutro passo, em jeito de elegia, que “de Amor cantavam todos os rios, / todas as serras, todas as flores, / todos os bichos, todas as árvores, / todos os pássaros, todos os pássaros, / todos os homens, todos os homens.” Harmonia perfeita, acordes sublimes, comunhão conseguida.
E a labuta prossegue. Com insectos que acordam flores, que posam, que amam. E nos surpreendem no fundo de um olhar atento, num gesto de acrobacia, num acto de elegância, num equilíbrio indispensável, num ensimesmar de alheamento. Maneiras positivas de ser Universo. Como não há-de a fantasia revestir-se de beleza?
[conjunto de fotografias e texto a partir do catálogo da exposição "Arte para uma cultura de segurança",
presente no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, em Setúbal.]
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