segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Uma outra leitura da história da cigarra - diferente da do ministro Macedo


A gente percebeu o que queria dizer o ministro Miguel Macedo na sua resposta de hoje, quando lembrou algo do género: há cigarras a mais e formigas a menos... Só que, como todas as histórias com um fundo de moralidade, a leitura não é apenas uma... E ir buscar a fábula para explicar que os portugueses andam a viver acima das suas possibilidades é algo caricato.
Na verdade, o discurso da vida acima das possibilidades foi uma motivação que tem carecido de demonstração. Os portugueses têm andado a viver acima das possibilidades ou as políticas seguidas quiseram pôr Portugal acima das possibilidades? E quem lucrou em qualquer dos cenários? Era a modernização do país, era a corrida desenfreada aos euros, era o alcatroamento da terra, era... era... era...
Mas vamos a uma outra interpretação do papel da cigarra, de todo diferente da que o ministro lhe atribuiu, mais apaziguadora e mais convergente com as diferenças. Foi contada por Sebastião da Gama no Diário, corria o dia 18 de Fevereiro de 1949... e veja-se como a interpretação é muito mais interessante.
«Pertinho da sala 19 mora um pintassilgo (ou pássaro que o valha... ). Volta não volta lá se põe ele a cantar e é um gosto ouvi-lo: há alegria, há ternura na sua cantiga. Por importante ou urgente que seja o que estou dizendo, é muito mais importante e muito mais urgente ouvir o pintassilgo: quebro, mal o oiço, ou a frase ou a palavra ao meio. Todos escutam. E o Américo, que tem uns olhos profundos e marotos, ou o Poeta ou qualquer outro, diz logo: «Por isso é que eu não gosto da Formiga.»
E sabem os senhores de onde nasce a observação? Nada mais nada menos do que do julgamento da Formiga e do elogio da Cigarra, que constituíram o corpo desta aula. Que me perdoem 'os amplos e maçudos livros morais de exemplos e de estudos'. Eu não posso admitir que seja louvada junto de crianças a crueldade, a ironia ruim e sem coração de Dona Formiga. E não admito também que se chame inútil à Cigarra — quando a Cigarra vive para alegrar os outros. Mas vamos ao prato do dia...
Chamei o Aragão, para ser ele a fechar a Semana do Animal. Encontrei, como esperava, um colaborador inteligente e sensível. O diabo do moço punha entusiasmo no que dizia, vibrava na defesa, em que me acompanhou, da pobre Dona Cigarra.»
Afinal, a cigarra também deve merecer a nossa admiração!...

2 comentários:

Anónimo disse...

... mas cigarras, afinal, são estes bem falantes que sequer palavras e actos consequentes dizem e ou fazem que jeito tenham.

a cigarra, neste tempo de protesto,é a voz dos explorados e dos roubados enquanto as formigas são os trapaceiros do governo que asfixiam a republica e pervertem valores conssagrados pelo sistema moral do estado social instalado em 25 de abril de 1974 pelo roubo e pela sua desvergonha impunes!!!



daniel nobre mendes

Anónimo disse...

É possível a ASS. S. da Gama,enviar,à cobrança;um "DIÁRIO" ao Sr. Ministro com as pag devidamente assinaladas (para poupar trabalho)?
Como sócio poderei contribuir com algum desde q tenha dedução em sede de IRS.
aqrosa