“Estava um dia o Juca na sala, a ver televisão, e os seus olhos começaram a fazer pisca-pisca. Era sábado e ele estava há quatro horas a olhar para os desenhos animados. Tão cansado estava que não resistiu ao sono que insistia em enroscar-se em volta dele. Até que adormeceu a sério. Logo que adormeceu, começou a sonhar… Um sonho lindo a cores!” Esta é uma forma perifrástica de dizer o clássico “era uma vez”, vocacionado para levar o ouvinte – neste caso, o leitor – para o reino da imaginação, acompanhando o sonho do Juca.
É o início da história infantil Fábula – O pequeno golfinho roaz, de José de Almeida (Setúbal: ed. Autor, 2010), obra que contém ilustrações feitas por Marta Tomé, jovem leitora da narrativa, e que foi apresentada publicamente no Dia Mundial da Criança com Cancro.
O conto acompanha Juca, numa viagem pelo mar, em busca do golfinho roaz chamado Fábula, personagem irrequieta, habilidosa e brincalhona. Nesta demanda, Juca sai de barco, a bordo da traineira “Milú”, na companhia de pescadores como o Mestre Afonso, o Zé Navalhas ou o Baltasar, para, depois, mergulhar e encontrar amigos como a Dona Sapateira, a Dona Alforreca, o Senhor Carapau ou a Dona Lula, que lhe vão falando do mar e do feitio de Fábula.
Num espaço limitado pelo Cabo Espichel, ponto em que um golfinho começa a seguir o barco, e pela Caldeira, parque de diversão onde Fábula comete as suas acrobacias, o mar vai-se revelando a Juca, que também vai observando aquilo que ao oceano vai tirando beleza, vivendo a descrição também com objectivos pedagógicos – “Enquanto nadava, o menino reparou numa coisa horrível. O fundo do mar estava um nojo com tanto lixo que tinha. Eram latas, garrafas de vidro, ferros ferrugentos, sapatos velhos, eu sei lá que mais. Como se pode preservar o mundo marinho com estes comportamentos? Quem teria atirado aqueles objectos para o fundo do mar? Esta colónia de golfinhos-roazes não merece e tem de ser defendida por todas as crianças e adultos…”
O desejo impossível de Juca é ter o Fábula dentro de um vasto tanque de vidro para que as crianças o possam ver brincar, algo que aflige o golfinho, mas que Juca contorna – depois de uma temporada, serão os meninos quem virá brincar para junto da colónia de roazes, assim aprendendo a conhecer o mundo da Natureza. E, quando o acordo estava prestes a ser celebrado, eis que… como acontece nos sonhos das felicidades de cada um, Juca é acordado pela mãe, que o encontra deitado no sofá, adormecido. Fica-lhe a aprendizagem da beleza dos roazes do Sado e o sorriso sobre o espectáculo que quase lhe foi dado viver…
A linguagem acessível, o recurso à personificação, as ilustrações com traço infantil e a estrutura simples da história bem fazem deste texto de José de Almeida um sonho afável, que abre as portas para o convívio com a Natureza e com o mundo que nos rodeia.
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