De vez em quando surgem as notícias sobre o plágio ou sobre o "copianço" e, por vezes, a explicação para tais casos - um texto que estava no computador, a sobreposição com as fontes, etc. Há bem pouco tempo, foi o caso de uma tese de doutoramento que terá sido decalcada a partir de uma outra defendida no estrangeiro; há dias, um investigador debruçava-se sobre o acto de copiar, puxando o assunto para trabalho académico e apresentando resultados avassaladores; há uns anos, foi o caso de uma colunista que, num artigo para uma revista, inseriu, sem indicar a proveniência, parte de um texto de outro autor publicado no estrangeiro... No quotidiano, na escola, vamos assistindo ao confronto entre o copianço e a seriedade, nem sempre saindo a última como vencedora. A net tem dado uma ajudinha nesta tentação, mas também tem servido para pôr a descoberto as quedas... Na última edição do Correio da Educação (da editorial ASA), o seu director, J. Esteves Rei, docente universitário, aborda o assunto de uma forma que merece a nossa atenção. De lá transcrevo.
«(…) É estranho que os alunos cheguem às universidades sem conhecerem claramente a dimensão ética da aprendizagem ou a relação entre o aprendente e aprendizado, tal como entre a fonte e a recepção da informação e do conhecimento.
Olhada a situação do lado do docente, também se estranha que, à primeira falta de clareza dessa relação, o professor não alerte o aluno dessa falha ética, apontando-lhe os riscos que corre perante a lei.
Do lado dos princípios, há que considerar os pressupostos e as grandes linhas de acção. Entre os primeiros, tenhamos presente que não há comportamento humano, individual ou colectivo, sem uma dimensão ética a envolvê-lo. Daqui decorre que cada indivíduo deverá identificar os princípios lógicos ou a razão ética, subjacentes às suas decisões, condutas ou comportamentos.
Na constituição desse conjunto de princípios há quem tome como ideia central o dever, ou o uso da razão, que no momento de agir se transforma em dever moral. As dificuldades na aceitação desta perspectiva nascem da impossibilidade de hierarquizar princípios quando surge o conflito entre dois deveres. Exige-se, então, ao indivíduo que saiba ponderar a importância de optar por um ou pelo outro.
Há, porém, quem escolha os princípios em função da utilidade das acções, em ordem a satisfazer o bem-estar dos agentes envolvidos e da sociedade, hoje ou no futuro. Neste caso, as reservas perante um princípio advêm da dificuldade em quantificar os riscos, danos e prejuízos, ao determinar a sua aceitação ou rejeição.
Como princípios gerais de uma ética aplicável a estudantes e professores, destacam-se os seguintes. A exigência de formação humana, intelectual e profissional deve ser timbre de qualquer escola, confrontando com ela o jovem, de qualquer idade. Por outro lado, não é possível crescer e agir humanamente sem pautar a sua vida por valores, assumidos pelo próprio e reconhecidos pela sociedade.
Num segundo patamar, situa-se a responsabilidade de aprender, pelo aluno e pela escola. Sem ela, não existem, nem esta nem aquele. A escola foi sempre uma zona franca para o espírito, um lugar amigável de encontro e descoberta do saber. Mas para isso exigem-se tolerância, abertura de espírito e respeito perante as dúvidas, as diferentes apreciações, os interesses e os ritmos de aprendizagem do outro, cujos limites se situam no dogmatismo, parcialidade, violência e falso consenso.
Por último, é indispensável a liberdade de opinião, método e pensamento. Tal atitude, a valorizar pedagogicamente, é propiciadora de soluções positivas para a resolução da maior parte dos problemas da sociedade. Todavia, a sua plena actualização tem como verso de medalha a solidariedade perante o outro e as regras aceites e sempre em reavaliação.»
J. Esteves Rei. “Quando copiar é uma fraude - Ética no ensino e na aprendizagem”. Correio da Educação. ASA: 17.Junho.2010.
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