quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Grandes entrevistas da História, com o "Expresso" (6)
Dois
falantes de língua portuguesa, uma de Portugal e outro do Brasil, entram no
último lote de dez entrevistados que constituem o derradeiro volume de Grandes Entrevistas da História,
abrangendo o período de 2007 a 2014 – Paula Rego (Eunice Goes, Expresso, 15-09-2007) e Chico Buarque
(Ana Cristina Leonardo, Expresso,
08-08-2009). Os restantes entrevistados são: Stephen Hawking (Xavi Ayén, La Vanguardia, 25-09-2008), Ferran Adrià
(Cristina Jolonch, Magazine,
21-02-2010), Bernard Madoff (Steve Fishman, New
York Magazine, 27-02-2011), Mikhail Gorbatchov (Jonathan Steele, The Guardian, 16-08-2011), Barack Obama
(Susan Page, USA Today, 03-09-2012),
Salman Rushdie (Clara Ferreira Alves, Expresso,
22-09-2012), Tim Berners-Lee (Paul Sagan, projecto Riptide da Nieman Foundation
for Journalism, da Universidade de Harvard, Abril de 2003) e Mark Zuckerberg
(Farhad Manjoo, The New York Times,
16-04-2014).
A
conversa com Paula Rego mostra o apego da artista a marcas de um Portugal rural
– “gosto da estética das feiras, das festas, do bobo da festa, e das pessoas
que lá trabalhavam” –, justificando a sua preferência pela figura feminina “por
causa dos fatos, das cinturas” e porque “há mais cumplicidade”, e assumindo a
situação de compromisso cívico que os seus quadros têm, através de evidentes
marcas contra a injustiça e retratando as relações de poder. A entrevista com
Chico Buarque debruça-se também sobre a arte, a literatura, e surge a propósito
da edição do seu livro Leite derramado
(2007). Mesmo dizendo que não é escritor, Chico Buarque consegue entender a
literatura como uma construção, aspecto muito mais interessante do que a
história que é contada – “eu, na verdade, o que menos me atrai na escrita de um
romance é a história. Me interessa mais trabalhar com a forma, a forma de
contar aquela história. A história em si não é nada, muitas vezes não é nada.”
No entanto, a sua vertente de leitor e de construtor de histórias leva-o a que
se apaixone por uma das suas personagens, o velho Eulálio, porque a conversa de
velhos tem sempre uma “memória selectiva, as fugas, as tergiversações, mesmo
aquelas mentirinhas ou lapsos de memória, coisas que voltam não exactamente
como eram..”
De
outras três áreas da cultura são os entrevistados Stephen Hawking, Ferran Adrià
e Salman Rushdie. O físico que fala através do computador (“à razão de uma
palavra por minuto”) paira numa entrevista, para nós curta, mas longa para ele,
atendendo às suas condições físicas. Aí, glorifica a ciência e conjuga-a com
Deus (“Se quisermos podemos chamar Deus às leis científicas, mas estas não são
um Deus pessoal que podemos interpelar”), ao mesmo tempo que não se põe de lado
em relação à política e que relança o seu permanente desafio à descoberta.
Ferran Adrià, o cozinheiro catalão, que “está para a culinária como Steve Jobs
está para a tecnologia” (no dizer do organizador do volume), surge-nos através
de uma peça que mais se aproxima do género reportagem, com o objectivo de ser
traçado o retrato do homem que esteve à frente do restaurante madrileno “El
Bulli”. O texto é baseado em conversas com o próprio retratado e com amigos e
familiares, o que o distancia do género entrevista, que originou esta obra.
Fica, porém, a partilha de aprendizagens importantes, como aquela que o levou a
descobrir que, “no âmbito profissional, mesmo que nos esforcemos, não somos o
que pensamos ser, mas sim o que os outros pensam que somos.” Salman Rushdie, o
escritor que teve um longo período de vida clandestina por razões de
sobrevivência e por causa da obra Versículos
satânicos (1988), é entrevistado a propósito de uma obra autobiográfica em
que relata esse tempo de clandestinidade a que foi obrigado pelo
fundamentalismo. Ressaltam as convicções, o papel da escrita, o valor das
amizades, a tristeza pelos que viram costas, mas salva-se o escritor – “Sou o
mesmo escritor. Uma vitória.”
O
domínio da política encontra dois nomes representativos do que foi a alteração
das relações políticas no mundo no início do século que vivemos – Mikhail
Gorbatchov e Barack Obama. O político russo estará para sempre associado à
“perestroika” e apresenta-se numa entrevista que está entre o balanço, alguma
paz de espírito e relativa amargura. Reconhece erros cometidos (não se ter
demitido do Partido Comunista e ter criado um partido reformista democrático,
não ter começado mais cedo a reforma da URSS e não ter dado mais poderes às
quinze repúblicas, não ter afastado através da diplomacia Ieltsin da cena
política). Na sua visão, surge a crença na reforma da China, bem como a
rejeição dos métodos de Putin, designadamente a mudança no sistema eleitoral.
Gorbatchov mantém o espírito de família e as marcas de proximidade, não
escondendo o seu afecto por Raisa, a mulher (já falecida na altura da
entrevista), que gostava de o ouvir cantar. Uma entrevista que é também um
pouco das memórias de um homem que contribuiu para que o mundo fosse diferente…
Do ocidente chega a entrevista com Barack Obama, conhecido como o primeiro
negro que chegou à presidência dos Estados Unidos, feita na altura em que ele
era candidato à reeleição. Obama, já não com a força do “yes, we can”,
demonstra as dificuldades, entre um mundo em convulsão, o apego à família (as
filhas “são um grande antídoto para evitar que me leve demasiado a sério”), e
respeito pelo adversário e as aprendizagens da política, ainda que
aparentemente simples, como perceber “a necessidade de se preocupar mais em
convencer as pessoas do país inteiro sobre as medidas que quer tomar, do que os
membros do Congresso na outra ponta da Pennsylvania Avenue”.
O
mundo das tecnologias ligadas ao poder da informática aparece representado
pelos nomes Tim Berners-Lee e Mark Zuckerberg, criadores da web e do facebook,
respectivamente. Berners-Lee relembra a motivação que o levou a pensar na
necessidade de criar um “hiperespaço aberto” e conclui com uma mensagem forte:
as tecnologias deverão permitir resolver problemas “sem cortar tantas árvores
para obter madeira e fabricar papel”, uma lição para os tempos de burocracia em
que, além de os documentos existirem virtualmente (o que parecia que iria
acontecer na sequência do uso generalizado dos computadores), vai havendo
orientações em muitos serviços no sentido de os mesmos serem impressos… numa
duplicação absolutamente acrónica. Zuckerberg, o criador da “maior nação
digital da internet”, é entrevistado com o objectivo de ser questionada a
capacidade de a empresa criar novos produtos, sabendo-se que alguns deles não
têm tido o sucesso esperado. A conversa liga-se também à discussão do privado e
do anonimato em termos de comunicação, acreditando o entrevistado que, de uma
forma ou de outra… se visa criar laços. Boas intenções!...
Bernard
Madoff, o nome que surge fortemente associado aos tempos de crise que vivemos,
um género de “dona Branca” gigante, é entrevistado a partir da prisão, numa
peça que é reconstituída sobre conversas telefónicas várias de Madoff para o
jornalista, ainda que todas elas pagas no destino. Há ainda os testemunhos de
familiares do preso e, por vezes, os desabafos veiculados por amigos, que
confidenciaram os sentimentos dos filhos de Madoff. A entrevista é o retrato de
um “arrependido”, que, explicando-se, tem dúvidas em aceitar-se, como se vê
logo pela abertura da peça jornalística, que reproduz o entrevistado em
discurso directo: “Como é que fui capaz de fazer o que fiz? Estava a ganhar
muito dinheiro. Não precisava de o ter feito.”
Grandes Entrevistas da História, obra editada pelo semanário Expresso, conclui com este volume o lote de setenta conversas com
outros tantos entrevistados, havidas num período entre 1865 e 2014. Todos os
nomes que por estas páginas passaram tiveram (têm) o seu papel no mundo que
conhecemos, uns associados ao bem, outros nem por isso, dependendo esta
categorização da nossa margem de simpatias. São estes setenta como poderiam ser
outros, mas as nossas curiosidades alimentam-se disto: a vontade de percebermos
como os protagonistas do nosso tempo chegaram aos limites que chegaram e em
nome de quê. Se nem tudo é dito nas entrevistas, ficam-nos, pelo menos, os
retratos dos heróis sobre os momentos em que foram considerados determinantes,
porque a História é feita desses mesmos momentos. E a História, podemos antologiá-la
ou contá-la, mas não a podemos prever…
Sublinhados
Existência – “Não existe maior emoção do que a da descoberta, a
de procurar incessantemente as respostas às nossas perguntas mais importantes:
quem somos? De onde viemos?” [Stephen Hawking. Entrevista a Xavi Ayén, em La Vanguardia (25-09-2008). Grandes Entrevistas da História 2007-2014.
Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 21]
Perguntas – “As perguntas hipotéticas não servem de muito.” [Mikhail Gorbatchov.
Entrevista a Jonathan Steele, em The
Guardian (16-08-2011). Grandes Entrevistas da História 2007-2014. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 79]
Medo – “O medo faz as pessoas fazer coisas más.” [Salman
Rushdie. Entrevista a Clara Ferreira Alves, em Expresso (22-09-2012). Grandes
Entrevistas da História 2007-2014. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 104]
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
Nos 150 anos do "Diário de Notícias": um suplemento a ler (e a guardar)
Há
150 anos, no dia de hoje, saía em Lisboa o primeiro número do Diário de
Notícias, assinalando como proprietários os nomes de Tomás Quintino Antunes e
de Eduardo Coelho, também redactor. Tinha quatro páginas, textos curtos e sem
título e um editorial que ainda hoje tem todo o sentido no que à coerência a
imprensa deve – pretendia “interessar a todas as classes, ser acessível a todas
as bolsas e compreensível a todas as inteligências”, queria afirmar-se por uma “compilação
cuidadosa de todas as notícias do dia, de todos os países e de todas as
especificidades, um noticiário universal” e prometia um “estilo fácil e com a
maior concisão”, visando informar “o leitor de todas as ocorrências
interessantes”. Na sua estrutura da primeira página, não fugia à tradicional
supremacia da família real e da religião, os dois pólos que garantiam os
primeiros textos – o primeiro, dizendo que “Suas Majestades e Altezas passam
sem novidade em suas importantes saúdes”, uma não notícia que sossegava as
preocupações; os seguintes, informações de teor religioso, fossem informações
ou registos de efemérides; depois, informação sobre as férias natalícias dos
tribunais. A seguir, um pouco de tudo, com destaque para algo que constituía
marca do tempo, como a aprovação de orçamento para apoio a construção de via
férrea em França.
Olhando
para a edição do Diário de Notícias de hoje, dirigido por André Macedo, as
quatro páginas passaram a quarenta, isto é, dez vezes mais, e se repararmos no
suplemento, com 144 páginas, a proporção vai para 36 vezes mais.
O
suplemento que hoje é publicado é um documento histórico para guardar, não
sendo por acaso que lhe é dado o título de capa de “150 anos de Portugal”. Com
efeito, um diário com a idade de século e meio será um bom repositório do
correspondente tempo da história do país, tal como, no final do editorial desta
edição de aniversário, escreve André Macedo: o jornal, bem como o seu director,
servem “para defender um património que pertence aos leitores e ao país, sem
esquecer os accionistas, sem os quais nada disto pode acontecer”.
Um
suplemento para guardar… porquê? É verdadeiramente um suplemento festivo, por
onde passa a história, a criação, o retrato, assente sobre três vectores: o
assinalar de 50 efemérides, com curto registo a propósito; os dias da História
de quinze escritores portugueses contemporâneos; ensaios, reportagens e
entrevistas de 15 áreas temáticas.
Relativamente
às efemérides, registam-se: nascimento do Diário
de Notícias (29-12-1864), carta de Vítor Hugo ao jornal a propósito da
abolição da pena de morte para crimes civis em Portugal (10-07-1867), Comuna de
Paris (27-05-1871), Ultimato inglês (13-01-1890), morte da rainha Vitória
(22-01-1901), regicídio em Portugal (01-02-1908), exposição pública dos Painéis
de S. Vicente depois de descobertos na igreja de S. Vicente de Fora
(06-05-1910), implantação da República (05-10-1910), fim da Grande Guerra
(11-11-1918), assassínio de Sidónio Pais (14-12-1918), chegada de Gago Coutinho
e de Sacadura Cabral aos rochedos de São Pedro e São Paulo (19-04-1922), golpe
do 28 de Maio (28-05-1926), chegada de Oliveira Salazar a chefe de Governo
(05-07-1932), revolta na Marinha Grande (18-01-1934), início da Segunda Grande
Guerra (01-09-1939), inauguração da nova sede do Diário de Notícias na Avenida da Liberdade (24-04-1940), exposição
do Mundo Português (23-06-1940), rendição da Alemanha (07-05-1945), bomba
atómica (06-08-1945), entrada de Portugal na ONU (14-12-1955), ataque de
nacionalistas angolanos à Casa de Reclusão e ao quartel da PSP em Luanda
(04-02-1961), conquista da Taça dos Campeões Europeus pelo Benfica
(31-05-1961), queda da Índia portuguesa depois da operação Vijay lançada por
Nehru (18-12-1961), assassinato de Kennedy (22-11-1963), incêndio do Teatro D.
Maria em Lisboa (02-12-1964), centenário do Diário
de Notícias (29-12-1964), eliminação de Portugal do Mundial de 1966 e
lágrimas de Eusébio (26-07-1966), inauguração da ponte sobre o Tejo em Lisboa
(06-08-1966), presença de Paulo VI em Fátima no que foi a primeira visita papal
ao santuário (13-05-1967), chegada de Marcelo Caetano a presidente do Conselho na
sequência de avc sofrido por Salazar (26-09-1968), chegada do homem à Lua
(20-07-1969), morte de Salazar (27-07-1970), revolução “dos Cravos”
(25-04-1974), “fim” do processo revolucionário em Portugal (25-11-1975), morte do
Primeiro Ministro Francisco Sá Carneiro em desastre aéreo (04-12-1980), Carlos
Lopes com medalha de ouro em Los Angeles (12-08-1984), entrada de Portugal na
CEE (12-06-1985), eleição de Mário Soares como Presidente da República
(16-02-1986), primeira maioria absoluta em eleições obtida pelo PSD com Cavaco
Silva (19-07-1987), incêndio no Chiado (25-08-1988), derrube do Muro de Berlim
(09-11-1989), libertação de Nelson Mandela (11-02-1990), início da Expo 98 com
publicação do “Diário da Expo” a cargo do Diário
do Notícias (22-05-1998), atribuição do Nobel da Literatura a José Saramago
(08-10-1998), morte de Amália Rodrigues (06-10-1999), ataque às Torres Gémeas
nova-iorquinas (11-09-2001), independência de Timor-Leste (20-05-2002), derrota
de Portugal na final do Euro 2004 (04-07-2004), eleição de Barack Obama
(04-11-2008) e morte de Eusébio (05-01-2014).
Os
quinze escritores portugueses convidados a participar no dossiê intitulado “A
que dia é que eu queria regressar?”, coordenado por João Céu e Silva, foram:
António Lobo Antunes (n. 1942), sobre o dia em que soube do nascimento da sua
primeira filha (22-06-1971); Afonso Cruz (n. 1971), sobre “hoje”; António Mega
Ferreira (n. 1949), sobre o 5 de Outubro de 1910; Gonçalo M. Tavares (n. 1970),
sobre o dia do assassinato do arquiduque austro-húngaro por Gavrilo Princip,
que deu início à Grande Guerra; Hélia Correia (n. 1949), sobre a estreia de “Ballets
Russes”; J. Rentes de Carvalho (n. 1930), sobre o dia do fim da Segunda Guerra
Mundial (08-05-1945); Lídai Jorge (n.1946), sobre uma memória da infância, em
1954, 3m dia de nevão; Luísa Costa Gomes (n. 1954), sobre a inauguração do
monumento a Cristo Rei (17-05-1959); Manuel Alegre (n. 1936), sobre a campanha
de Humberto Delgado (31-05-1958); Maria Teresa Horta (n. 1937), sobre várias
datas relacionadas com o feminismo; Mário de Carvalho (n. 1944), sobre a
campanha de Humberto Delgado em Lisboa (16-05-1958); Mário Cláudio (n. 1941),
sobre a sua data de nascimento (06-11-1941); Miguel de Sousa Tavares (n. 1952),
sobre o desembarque dos Aliados na Normandia, em texto epistolar usando a
assinatura de Salazar (07-06-1944); Nuno Júdice (n. 1949), sobre o dia da morte
de Fernando Pessoa (02-12-1935); Valter Hugo Mãe (n. 1971), sobre o dia que constou
como sendo o do fim do mundo (12-08-1978).
Relativamente
à terceira área, em que se destacam alguns ensaios relacionados com a história
e com o espólio do Diário de Notícias,
é preenchida com os textos: “Um país de emigração maciça e baixa literacia”, de
Manuel Villaverde Cabral; “Do censo dos 5 réis a um futuro com chips no bolso”,
de Patrícia Jesus; “Antigos, porcos e maus: retrato passado menos que perfeito”,
de Fernanda Câncio; “Quando o submarino Hunley afundou um navio da União e
acabou a inspirar Júlio Verne”, de Leonídio Paulo Ferreira; “Eduardo Coelho, a
vida dele dava um jornal”, de Ferreira Fernandes; “A caixa-forte dos seis
milhões de mistérios”, de Artur Cassiano; “Títulos diários mais do que
centenários”, de Abel Coelho de Morais; “A língua portuguesa como princípio e
fim, numa universidade aberta ao mundo”, de Rui Marques Simões, incluindo
entrevista com João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra; “’Do
prémio que lhe sair por sorte na extracção da loteria’ à crise que atinge a
classe média”, de Miguel Marujo, com entrevista a Manuel de Lemos, presidente
da União das Misericórdias Portuguesas; “Torre do Tombo: Quase cem quilómetros
para contar a nossa história”, de Maria João Caetano, com entrevista a
Silvestre Lacerda, director do Arquivo Nacional da Torre do Tombo; “Um ‘excesso
de natureza’ talhado pelo homem com vista para o mundo”, de David Mandim, com
entrevista a Manuel Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos Douro e Porto; “A
associação para funcionários, famílias e ‘credores de gratidão’ que se tornou o
sexto maior banco”, de Céu Neves, com entrevista a Paula Guimarães, directora
do Gabinete de Responsabilidade Social do Montepio Geral; “Eça de Queirós – De Port
Said a Suez”, com reprodução das quatro crónicas ecianas de 1870 a propósito da viagem para assistir à
inauguração do canal de Suez; “Caça à entrevista de Hitler pelas cervejarias de
Munique”, de Ferreira Fernandes, com reprodução da entrevista de António Ferro
a Hitler; desenhos de André Carrilho sobre o que será o mundo em 2164.
O
suplemento finda com a reprodução do número inaugural do Diário de Notícias, que acrescenta mais uma razão às oitenta
anteriormente indicadas para um assinalar interessante de uma efeméride que,
mais do que marcar a longevidade, destaca o a função do jornalismo e da
informação.
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
João Magueijo: um olhar sobre Inglaterra
“Estou
no cimo de uma serra, estou no céu, ou se calhar voo pelos ares de asas abertas
numa nuvem sem borbotos, e vai-se a ver estou a nadar no mar alto sem ter
fundo, que ao fim e ao cabo isto vai dar tudo ao mesmo: uma grandessíssima arrelia.
Não se enxergava uma polegada britânica à frente do nariz, com os cristais de
gelo sobre as pálpebras parecia que nem o próprio nariz se via. E é isto vir de
férias nesta ilhota do mar do Norte.” Assim começa Bifes mal passados (Lisboa: Gradiva, 2014), a obra de João Magueijo
(n. 1967) que, entre Junho e Novembro, atingiu onze edições e que tem por
subtítulo o explicativo dizer: “Passeios e outras catástrofes por terras de Sua
Majestade”.
Não
vá o leitor enganar-se e pensar que está perante um livro de viagens, o
subtítulo desengana logo e o primeiro capítulo não lhe fica atrás. Sugestivamente
intitulado “weekend”, esse texto de abertura relata uma ida a Helvellyn, em
Lake District, caminhada cheia de peripécias demasiado catastróficas para se
recordar um bom passeio. Essa abertura serve ainda para o autor mostrar a sua
ligação a Inglaterra e para se justificar do tom a utilizar: “Tendo vivido
vinte e tal anos em Inglaterra, depois de acumular duras experiências, munido
da sagacidade que a rude prática nos traz, hoje em dia, quando quero ir de
férias, espairecer um bocado, desaparecer um fim-de-semana, a primeira coisa que
faço é comprar um bilhete de avião. E fugir deste ilhéu a sete pés!” Não é,
pois, feliz o retrato que vai ser feito do país de acolhimento do autor…
Ao
longo das quase duas centenas de páginas, o leitor vai conquistando a surpresa
do mal-estar que invade a memória do narrador. Com efeito, o livro, extensa
crónica de vivências diversas, com opiniões que partem de histórias do acaso, é
também um repositório memorialístico, já que as experiências aconteceram na
primeira pessoa e contêm a marca autobiográfica. Por lá passam apreciações da
paisagem, dos hábitos, das pessoas, em suma, de uma identidade do outro,
perscrutada por um estrangeiro que acaba por se habituar e por se inserir na
sociedade de que tanto se ri e sobre outro tanto ironiza.
À
medida que os comentários sobre Inglaterra vão correndo, vai o leitor
percebendo que a vida do narrador se alicerça sobre o conjunto de experiências
que vai vivendo e sobre as memórias que vai tendo do seu país, de Portugal, ora
pela evocação de tempos da sua infância e juventude em Sesimbra ou no Alentejo,
ora pelo conhecimento que detém de uma certa forma de ser português, mais
prático, mais imediato, mais popular, a tentar compreender um mundo novo, que
não tem semelhanças com o de origem.
O
tom de riso ou de humor é logo marcado pelas epígrafes que abrem a obra, de
Petrónio e de Jerome K. Jerome, e, ao longo do escrito, há ainda referências a
Orwell, a Bergerac, a Baudelaire, a Eça, a Rentes de Carvalho, todos eles suficientemente
críticos e praticantes de humor e de dizeres sobre outros povos. Apesar disso,
vai-se o leitor interrogando sobre o ponto a que chegará esta obra, tão intenso
é o tom crítico, atingindo por vezes um certo mal-estar no que se lê, seja por
algum aparente exagero, seja por não se saber muito bem a partir de que ponto
uma experiência pessoal pode passar a marca generalizada…
O
capítulo designado “Epílogo” faz as pazes ou estabelece a harmonia entre o
narrador, o leitor e o mundo que foi (re)criado. O título que lhe é dado contém
também uma chave para a leitura – “Agridoce”. E é num desabafo que essa chave
se inicia: “agradeço a quem me leu até aqui por ter aturado as graçolas de mau
gosto, mas espero que tenha ficado claro que não são gratuitas – se as disse é
porque esta é a única forma de lidar com este país sem recorrer ao suicídio.”
Daqui para a frente, o autor revê-se na sorte que teve em ter passado esse
tempo em Inglaterra – “Foi esta a pátria adoptiva que me permitiu fazer o que gosto: a
minha vida como físico e cosmólogo tem sido uma longa história de amor com as
tradições científicas britânicas, que não são perfeitas, longe disso, mas também
não é isto amor platónico, é uma relação carnal que aprecia a sua verrugazita.
Pelo contrário, se tivesse ficado em Portugal teria sido a asfixia.” A justificação
para o tom de gozo e de ironia utilizado expõe-na João Magueijo numa observação
sobre o auto-retrato que os ingleses de si mesmos produzem: “Uma das
particularidades do humor britânico é que frequentemente é self-deprecating, auto-depreciativo: consiste em fazer pouco de si
próprio, levado a um extremo que deixa os estrangeiros constrangidos.” Com esta
reflexão, o autor assume já o seu quê de britânico, melhor, de inserido no
espírito do país que o recebeu e de que ele se ri, porque, afinal, o riso e a
gargalhada surgem sobre as suas experiências, não as que lhe passaram ao lado
mas as de que ele foi protagonista.
Por isso, a crónica encerra com algo que pode ser um
princípio salutar: “As pessoas às vezes levam-se demasiadamente a sério. Não há
nada mais saudável do que rir às gargalhadas de si próprio.” E é isso que
ressalta neste Bifes mal passados: as
aventuras de um português que assume um percurso de descoberta e de inserção em
terras de Sua Majestade… nem sempre agradável, é claro, mas que serve para se
inserir e para a afirmação da sua identidade também.
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Para a agenda - Evocar Fran Paxeco
Fran Paxeco (1874-1952) vai ser evocado em Setúbal, sua terra, numa organização conjunta entre a respectiva Câmara Municipal e a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão).
A iniciativa conta com uma exposição, em que serão mostrados documentos do espólio do homenageado, e com uma conferência a cargo de António Cunha Bento, o setubalense que mais tem investigado a história e a obra de Fran Paxeco. Uma excelente oportunidade para se conhecer um nome que talvez seja mais conhecido no Brasil do que em Portugal... Em 20 de Dezembro, na Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal. Para a agenda!
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Para a agenda - José Ruy em Setúbal
José Ruy é nome incontornável na cultura portuguesa, especialmente na banda desenhada. Autor de extensa obra, por ela têm passado as biografias de personalidades importantes como João de Deus, Fernão Mendes Pinto, Aristides Sousa Mendes, a adaptação de obras literárias devidas a Camões, Gil Vicente ou Alexandre Herculano, ou histórias da cultura portuguesa como a da língua mirandesa.
Os setubalenses vão ter mais uma vez a oportunidade de se encontrar com José Ruy, numa iniciativa em que estão envolvidos o programa cultural "Muito cá de casa" e a livraria Culsete. Na Casa da Cultura, em conversa com Cristina Gouveia, na noite de 19 de Dezembro. Para a agenda!
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Para a agenda - Lápide bocagiana regressa ao antigo Quartel do 11, em Setúbal
As antigas instalações do
designado “Quartel do 11”, onde esteve alojado o respectivo Regimento de
Infantaria e que albergam hoje a Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, vão
voltar a exibir na fachada principal a lápide alusiva ao ingresso de Bocage no
então Regimento de Infantaria de Setúbal, ocorrido em 1781.
A lápide, ali colocada
inicialmente em 1980 por iniciativa do capitão José Rebelo, foi retirada
durante as obras de remodelação do edifício. A LASA (Liga dos Amigos de Setúbal
e Azeitão) tomou a iniciativa da sua recolocação, ainda que numa réplica, acto
que vai ocorrer pelas 11h00 de 21 de Dezembro, dia em que se assinala a morte
de Bocage (em 1805).
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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Para a agenda - Uma visita a alguns pergaminhos do vinho
Um contributo para os pergaminhos da história do vinho na região de Setúbal, Palmela e Arrábida ou os 180 anos da marca José Maria da Fonseca em exposição no Museu Sebastião da Gama, em Azeitão, a inaugurar amanhã, 12 de Dezembro, e a visitar até 25 de Janeiro. Para a agenda.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Para a agenda - Do vinho, dos poetas, da solidariedade
Numa realização do movimento Casa da Poesia de Setúbal, vão os vinhos servir para evocar poetas. Um gesto de solidariedade com a Cáritas de Setúbal e o apoio da Casa Ermelinda Freitas, em que serão vivas as palavras de Maria Adelaide Rosado Pinto, Cabral Adão, Bocage, Calafate e Sebastião da Gama. Em 14 de Dezembro, à tarde, na Casa da Baía. Para a agenda!
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Grandes entrevistas da História, com o "Expresso" (5)
Entrevistas
realizadas na última década do século XX e no primeiro lustro do século XXI
constituem o sexto volume de Grandes
Entrevistas da História, que o semanário Expresso está a publicar, sendo
protagonistas desta série: José Saramago (Clara Ferreira Alves, Expresso, 02-11-1991), João Havelange
(Andrés Mercé Varela, La Vanguardia,
17-04-1994), António de Spínola (José Pedro Castanheira, Expresso, 30-04-1994), Osama Bin Laden (Robert Fisk, The Independent, 22-03-1997), Michael
Jackson (Edna Gundersen, USA Today,
14-12-2001), Gilberto Gil (Joaquim Ibarz, La
Vanguardia, 05-01-2003), Hugh Hefner (Lluís Amiguet, Magazine, 13-04-2003), Bansky (Simon Hattnestone, The Guardian, 17-07-2003), Dalai Lama (Luke
Harding, The Guardian, 05-09-2003) e
Tony Blair (Jeremy Webb, New Scientist,
01-11-2006).
A
entrevista de José Saramago tem como pretexto a publicação do seu romance (que
gerou polémica) O Evangelho segundo Jesus
Cristo e serve para o autor falar de cristianismo, de comunismo, de
ideologia e da história do mundo. Na conversa, Saramago explica-se: “A tese
escondida é a de que eu digo, em primeiro lugar, que o cristianismo não valeu a
pena; e em segundo, que se não tivesse havido cristianismo, se tivéssemos
continuado com os velhos deuses, não seríamos muito diferentes daquilo que
somos”. Se se justifica quanto ao livro e quanto às ideias feitas sobre a
religião, também se afirma relativamente ao Partido Comunista e à ideologia – “a
União Soviética não é nem nunca foi, para mim, uma referência política ou ideológica”,
chegando a afirmar que sairá do partido “se um dia se sentir mal”. A questão da
sua escrita no que se relaciona com a dimensão histórica, do tempo, também lhe
merece aprofundamento: “Agrada-me pensar que o tempo não é essa diacronia, essa
sucessão de momentos, agrada-me pensar no tempo como uma espécie de imensa tela
onde se projectam e se fixam os acontecimentos.”
O
outro português sentado nesta mesa das entrevistas é António Spínola, o homem
que povoou as primeiras páginas dos jornais durante muito tempo, sobretudo a
propósito dos acontecimentos decorrentes
do 25 de Abril de 1974. É uma entrevista de memórias quanto ao que se
passara anos antes, oscilando entre a dedicação ao 25 de Abril e um certo
ajuste de contas com políticos e sectores, como o MFA (Movimento das Forças
Armadas) e o PCP. Nem tudo é pormenorizado ao ponto de o leitor poder avaliar
as posições. Certo é que o militar se sobrepõe ao político. Não escondendo a
razão de ser do monóculo (algo que usava por tradição recebida dos oficiais de
cavalaria), explica-se quanto ao que viveu na Guiné e quanto à emergência que
era a independência daquele território. Personalidades como Costa Gomes, Rosa
Coutinho ou Vasco Gonçalves não são poupadas e, na história política que viveu,
não esqueceu a parte do MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal).
Ao seleccionar o seu maior sucesso político, optou: “ter colaborado abertamente
nos objectivos previstos no 25 de Abril, que, em última análise, se resumiram à
restituição da liberdade e da democracia ao povo português”. E quanto ao
sucesso militar, destaca, a fechar a entrevista: “ter participado como
voluntário na Guerra do Ultramar, onde tive o privilégio de correr riscos ao
lado dos nossos extraordinários soldados, lídimos representantes do ancestral
patriotismo do povo português”.
Do
Brasil, foram convocados também dois nomes: primeiro, o de João Havelange,
fluminense que presidiu à FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado)
entre 1974 e 1998, numa conversa que passa pelo vasto mundo do futebol a nível
mundial, com ideias sobre inovações, com responsabilidades, tocando, entre
outros, os problemas da massificação e da arbitragem. A fechar o encontro,
Havelange refere: “penso no futebol, que é a grande paixão do mundo actual, e
tento dar o equilíbrio para que esta paixão seja um elemento civilizador da
nossa sociedade”. O outro entrevistado é Gilberto Gil, músico e político do
governo de Lula da Silva (em que interveio como Ministro da Cultura), em
conversa tida com o jornalista no dia em que tomou posse no cargo. A conversa
ficará marcada por esse momento, uma vez que o tema foi a política cultural a
implementar, com destaque para o fomento da criatividade, uma vez que “a
política cultural não pode deixar todos os seus trunfos à mercê de ventos,
sabores e caprichos do deus Mercado”.
Da
área da política aparecem mais três nomes: Dalai Lama, Tony Blair e Osama Bin
Laden. Quanto ao primeiro, o décimo-quarto Dalai Lama do Tibete, um monarca que
perdeu o reino por imposição do governo chinês, deixa uma entrevista pincelada
pela amargura do exílio forçado e pela dúvida quanto ao futuro no que toca ao
sucessor. Apesar destes traços, o discurso é apaziguador – “a melhor solução
para um problema consegue-se através do diálogo”. No caso de Tony Blair, a
conversa, atendendo à publicação que a reproduziu, toca um tema candente como
seja a ligação da política com a ciência, defendendo Blair a necessidade de a
política britânica ter de considerar “a ciência tão importante como a
estabilidade económica”, assim como a urgência de académicos e empresários irem
à escola com o objectivo de despertarem “entusiasmo nos alunos, não só pelas
descobertas científicas, mas também pela infinidade de oportunidades laborais”
existentes na área. O tema vinha a propósito de acontecimentos ocorridos no
tempo da governação de Blair – a clonagem, as culturas transgénicas e as
recusas por parte da população na administração de algumas vacinas. O terceiro
entrevistado, Bin Laden, faz girar a conversa em torno da guerra santa contra
os Estados Unidos, quase único inimigo, bem como a dose de ameaças
relativamente à América, que o entrevistador não sublinhou convenientemente, só
a tendo valorizado após o 11 de Setembro. A peça jornalística, cujo autor
chegou três vezes à fala com Bin Laden, oscila entre os géneros entrevista e
reportagem, já que também narra, com algum pormenor, a viagem ao encontro do
dirigente fundamentalista.
Do
mundo do espectáculo e da arte são os outros três entrevistados: Michael
Jackson, Hugh Hefner e Bansky. O encontro com Jackson resulta numa entrevista
fortemente condicionada, já que a conversa teve a presença de assessores do
artista, que impediram que algumas perguntas fossem feitas ou desviaram a
atenção das respostas, sobretudo quando relacionadas com a vida privada do
artista ou com os escândalos que o acompanharam. Jackson aceitou apenas falar
de música, de “show”, ainda que se deslumbre a falar dos filhos e que tenha
confessado ter tido uma infância perdida. A razão de entrevista tão
condicionada é exposta por Jackson: “se aceitasse entrar na esfera pessoal,
seria o único assunto de que as pessoas falariam”. Assim, forte é a paixão pela
música e pelo reviver de alguns momentos em palco e com os seus fãs. Hugh Hefner
surge entrevistado sem ser para a publicação que fundou e com que alcançou fama
e sucesso, apesar de o pretexto da entrevista serem os 50 anos sobre a fundação
dessa revista, a Playboy. Assim, o
diálogo versa sobre as vitórias e dificuldades do projecto, visando uma nova
ideia do homem moderno, em muito criado e vivido na própria personalidade do
fundador Hefner. Com o ar mais solene, o entrevistado comenta: “Sempre disse
que a Playboy não é uma revista de
sexo, mas sim uma publicação sobre estilos de vida que dedica especial atenção
ao sexo, porque o sexo é uma parte importante da vida”. E uma curiosidade: a
revelação de que o primeiro número da publicação não teve data registada
porque, por razões económicas, não havia a certeza de vir a ser feito um
segundo número…
O
último entrevistado deste lote é Banksy, o artista de paredes que ninguém
identifica. Sem fotografia, Banksy ajuda a construir o seu próprio anonimato,
tomando posições contra marcas e códigos, comprazendo-se com o viver no fio da
navalha para não ser descoberto. Com orgulho, afirma: “a lista dos trabalhos
que recusei é muito mais extensa do que a dos trabalhos que fiz. É como um
currículo ao contrário, é estranho.” Depois, é o desenrolar de histórias sobre
os desenhos em paredes, seguindo o princípio do graffiti quanto à efemeridade,
mas com a eficácia da crítica e do fazer pensar, porque “a graça está em
dedicar menos tempo a fazer o desenho do que as pessoas a observá-lo”.
Tempos
de crise, de mudanças, de reflexão sobre o tempo e a forma de se estar
constituem esta dezena de entrevistas, que acentua a quantidade de questões que
o século XXI tem ainda para resolver, se é que essa vai ser uma preocupação…
Sublinhados
Música – “A música é um mantra que alivia a alma. É terapêutica. É algo necessário
para o corpo, como o alimento. É muito importante compreender o poder da
música. Seja onde for, num elevador ou numa loja, a música influencia a forma
de comprar ou a forma como tratamos a pessoa que temos a nosso lado.” [Michael
Jackson. Entrevista a Edna Gundersen, em USA
Today (14.Dezembro.2001). Grandes
Entrevistas da História 1991-2006. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 70]
Religião – “As religiões tanto servem para sobreviver às
perseguições como para fazer perseguições, e os perseguidos vão por seu turno
refugiar-se noutra religião que fará outros perseguidos.” [José Saramago.
Entrevista a Clara Ferreira Alves, em Expresso
(02.Novembro.1991). Grandes Entrevistas
da História 1991-2006. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 17]
[Com a próxima edição do Expresso, o último volume da série, o nº 7]
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domingo, 7 de dezembro de 2014
O Natal de 1914 e a confraternização dos dois lados da "terra de ninguém"
Recordação de um Natal... em 1914, na fúria das trincheiras. Ou de como o homem pode construir a paz! Na "Revista" do Expresso de ontem (nº 2197, pg. 114), a memória assinada por Luís Pedro Nunes sobre o Natal em que soldados dos dois lados da trincheira confraternizaram, umas tréguas decididas por eles mesmos, sem a concordância ou a autorização das chefias. Já era sabido, como o autor lembra, que "a humanização do inimigo é o pior que um general pode desejar às suas tropas"...
sábado, 6 de dezembro de 2014
Grandes entrevistas da História, com o "Expresso" (4)
As
dez personagens reveladas no quinto volume de Grandes Entrevistas da História (em publicação a cargo do semanário
Expresso), que abrange o espaço
temporal entre 1971 e 1990, são: Margaret Thatcher (Terry Coleman, The Guardian, 02-11-1971), Stanley
Kubrick (Gene Siskel, Chicago Tribune,
13-02-1972), Yasser Arafat (Oriana Fallaci, Intervista
con la Storia, 1974), Álvaro Cunhal (Oriana Fallaci, L’Europeo, 06-06-1975), Amália Rodrigues (Miguel Esteves Cardoso, Se7e, 24-11-1982), Pablo Escobar
(Yolanda Ruiz, RCN Radio, 1988), Steve Jobs (Bob Burlingham e George Gendron, Inc., 04-1989), Jack Nicholson (Gene
Siskel, Chicago Tribune, 12-08-1990),
Luciano Pavarotti (Màrius Carol, Magazine,
02-09-1990) e Ayrton Senna (Gerald Donaldson, McLaren, 09-1990).
Na
entrevista com Amália, além de surpreender o tom de abertura e de rapidez com
que a conversa se desenrola, é ainda de enaltecer o formato de texto devido a
Miguel Esteves Cardoso, perguntas e respostas segmentadas em dez partes, cada
uma delas tendo como título um mandamento, resultante do conteúdo e da dose de
revelação que surge nas respectivas respostas. Uma estratégia coerente, pois
que o jornalista se metaforiza em profeta, logo no início do texto: “A partir
de hoje, podem chamar-me Moisés. Subi à montanha de São Bento e a Deusa
falou-me e transmitiu-me os seus Mandamentos. Agora esculpo-os numa pedra. Numa
pedrada de divindade e de Fado.” A entrevistada surge em diálogo com as marcas
que já lhe eram habituais, sem certezas, mas num tom pessoal expressivo.
Cantora ou fadista? “Nem uma coisa nem outra. Não sei se sou fadista, se não
sou. Era pequenina e cantava. Um dia disseram-me que aquilo era fado.
Disseram-me que era fado… mas eu não faço questão.” Falará das músicas, de
trivialidades, de histórias, da simbologia que lhe foi atribuída, de poemas e
do que de si ficará para a memória: “Sim, vai em mim essa pieguice, de querer
continuar nas pessoas. A coisa mais bonita que podem dizer de mim, depois de
morta, seria ‘Coitadinha da Amália, já morreu…’! ‘Tadinho’ é uma das palavras
mais portuguesas, gosto muito dela. Tenho essa pieguice porque sei que, depois
de morrer, o universo acaba comigo.” E, no final, um humor brilhante: Esteves
Cardoso quer inverter os papéis e, em vez de lhe pedir uma mensagem final: “A
senhora quer fazer a última pergunta?” Resposta imediata, certeira: “Obrigada,
mas não pergunto nada, com medo das respostas.”
O
outro português entrevistado nesta obra, Álvaro Cunhal, deve a sua entrada ao
trabalho da jornalista italiana Oriana Fallaci. É uma entrevista dura porque
Fallaci assume contestar muitas afirmações de Cunhal, que profere afirmações
polémicas do ponto de vista político (que, aliás, mereceram muitas reservas em
várias latitudes, depois de conhecida a publicação) e mantém um secretismo
assumido quanto à sua vida pessoal. A entrevista tem uma longa introdução, que
a autora preparou para a integrar no seu livro Intervista com la Storia, em que o político português é retratado e
biografado, numa tentativa de explicação da personagem, chegando Fallaci a
interpretar o silêncio sobre o privado como o “gosto pelo mistério [que] surgiu
em consequência do seu passado como conspirador e, também, da tal renúncia que
é tão típica de alguns comunistas”. Cunhal mostrou convicções que, lidas hoje,
acentuam as marcas epocais no vocabulário usado – “nós, comunistas, não
aceitamos o jogo das eleições”, já que elas “pouco ou nada têm a ver com a
dinâmica revolucionária”; “garanto-lhe que em Portugal não haverá um
Parlamento”; “Portugal já não tem qualquer hipótese de estabelecer uma democracia
ao estilo das que vocês têm na Europa ocidental”; “o 25 de Abril não foi um
golpe (…) foi um movimento de forças democráticas no seio do Exército”;
“Portugal não será um país com as liberdades democráticas e os monopólios, não
será companheiro de viagem das vossas democracias burguesas”. Assumiu a sua
concordância com a intervenção soviética na Checoslováquia, a frontalidade com
que respondeu ao embaixador americano sobre a permanência de Portugal na NATO,
dizendo-lhe: “por agora, não queremos discutir esse problema”. Em vários
momentos, a conversa mais parece um jogo de fuga: Fallaci quer saber de onde
veio Cunhal quando chegou a Portugal em 1974 e a resposta mostra-se
evasiva – “Não lhe digo onde estava. Vocês, os
jornalistas, gostam tanto do mistério
como nós, os comunistas”; noutro passo, a jornalista insiste com a ideia do
“imperialismo soviético” e a refutação surge sob a forma de alteração das
regras – “Um dia hei-de entrevistá-la a si acerca do imperialismo soviético”.
De
Oriana Fallaci é ainda a entrevista com Arafat, outro encontro em que as
respostas constituem um enigma sobre a personagem. Uma parte significativa do
texto, no início é a reconstituição possível da história do líder palestiniano
nascido egípcio, que, na conversa, rejeitas várias vezes responder a perguntas
sobre a sua vida pessoal e centra o discurso num jogo em que foge,
frequentemente, ao que lhe é perguntado, mais interessado na luta contra Israel
– “só agora começámos a preparar-nos para o que será uma longa, longuíssima guerra,
uma guerra destinada a prolongar-se por gerações”; “deve perguntar até onde
poderão resistir os israelitas, porque não pararemos até ao dia em que possamos
regressar a casa e tenhamos destruído Israel”. A própria jornalista é vista
como uma representante dos adversários e é desafiada – “Se têm assim tanto
interesse em dar uma pátria aos judeus, dêem-lhes a vossa. Há muita terra na
Europa, na América.” E termina o diálogo com uma quase confissão: “Nunca
encontrei a mulher certa. E agora não é o momento. Casei-me com uma mulher
chamada Palestina.”
O
universo da política tem ainda encontro com Margaret Thatcher, numa entrevista
dominada pelos acontecimentos do momento, a do leite nas escolas, apoio cortado
pelo governo, e pela imagem que da governante se faria. Ressalta uma figura
enérgica, contrapondo às marcas negativas do seu retrato as decisões tomadas em
prol das melhorias, às questões mais problemáticas uma explicação que finda com
a pergunta “não é?”, ao mundo das dificuldades o seu próprio percurso, aos
comentários dos adversários uma certeza – “os insultos dizem mais sobre quem os
profere do que sobre quem é alvo deles, não é?”
Pretendendo
ter intervenção política, sobretudo pelo condicionamento que fez nessa área,
surge Pablo Escobar, o colombiano que associou o seu país ao narcotráfico, com
um discurso que, conjugado com o que se sabia e se veio a saber sobre o
entrevistado, configura situações de vitimização, de paradoxo, de representação,
de discurso para tratar a imagem perante o seu país e o estrangeiro – “sou uma
pessoa que respeita muito as ideias alheias”; “sempre estivemos abertos ao
diálogo e pessoalmente considero que a falta de diálogo é a causa principal da
violência no país”; “existe uma preocupação com o consumo de drogas”; “as
drogas vieram para ficar”; “todas as pessoas acusadas publicamente de pertencer
ao narcotráfico são, na verdade, as únicas pessoas que investem no país, isto
é, as únicas que dão trabalho ao povo da Colômbia”.
Do
mundo do cinema, o encontro é com um realizador, Kubrick, numa entrevista curta
que toma como referência o filme Laranja
Mecânica e a opinião sobre política e ambiente social, sempre na
perspectiva de que a autoridade pode levar à repressão. O outro entrevistado é
Nicholson, o actor que demonstra uma forma sadia de lidar com a fama e com o
sofrimento (real, por razões familiares), bem como com a felicidade (na ternura
com que fala da filha bebé que lhe nascera aos 53 anos, por altura da
entrevista) ou com a opção de viver sozinho. Ainda do mundo do espectáculo é
Pavarotti, o tenor que trouxe a música clássica para os estádios, falando dos
seus prazeres, da sua música e da sua pintura, revelando-se sempre um
imperfeito, um trabalhador incansável a lidar com os seus dotes, um
“superperfeccionista” – “acho sempre que tudo aquilo que faço, por muito bem
que esteja, pode sempre ser melhorado”.
A
entrevista com Ayrton Senna é um encontro com um homem do risco e das manobras
arriscadas. Senna é apresentado como um tímido muito por responsabilidade do
próprio autor da entrevista, que reproduz toda a conversa em discurso
indirecto, só dando a palavra ao entrevistado no final, numa mensagem.
Apresentado com grande dose de humanismo e de carinho pelos seus fãs, Senna
mostra-se em reflexão, oscilando entre o risco e uma maneira própria de lidar
com a fama. No final do encontro, comove-se e fala dos artistas enquanto
símbolo: “Em muitos aspectos, não somos uma realidade para as pessoas, mas um
sonho. É uma coisa que nos fica gravada no pensamento. Mostra-nos até que ponto
podemos ter impacto na vida das pessoas. E, por mais que tentemos dar qualquer
coisa a essas pessoas, nunca será nada, comparado com o que elas sentem por nós
dentro delas e nos seus sonhos. E isso é muito especial… é muito, muito
especial para mim.” Como se sabe, Senna morreria em prova cerca de quatro anos
depois, em 1 de Maio de 1994, no circuito de Imola.
Steve
Jobs não pertence a nenhum dos mundos das outras personagens deste volume.
Ligado às tecnologias, a marcas extraordinárias no universo da informática,
Jobs apresenta-se na luta pela democratização das tecnologias numa perspectiva
de que o público exigirá sempre mais, de inovação nas empresas, de aposta na
criatividade dos colaboradores de abertura para a surpresa da vida. Não é da
entrevista (gerada em 1989), mas o organizador do volume, em nota final, retoma
um pensamento de Jobs, produzido em Junho de 2005, proferido na Universidade de
Stanford, quando ele já sabia estar doente, sem hipótese de recuperar:
“Lembrar-me de que em breve estarei morto é a ferramenta mais importante que
encontrei para me ajudar a tomar as grandes decisões da minha vida. (…)
Lembrarmo-nos de que vamos morrer é a melhor forma que conheço de evitarmos o
engano de acharmos que temos algo a perder.”
Vinte
anos de esperanças, de crenças, de contradições. Um tempo que oscilou entre os
grandes avanços no domínio da tecnologia e as instabilidades oriundas da
política a céu aberto…
Sublinhados
Computador – “Os seres humanos são basicamente fabricantes de
ferramentas, e o computador é a ferramenta mais extraordinária que construímos
até hoje.” [Steve Jobs. Entrevista a Bob Burlingham e George Gendron em Inc. (Abril de 1989). Grandes Entrevistas da História 1971-1990.
Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 108]
Experiência – “Se não adquirirmos um pouco de bom gosto e de
experiência enquanto jovens, nunca mais o faremos. A experiência faz aumentar o
prazer…” [Jack Nicholson. Entrevista a Gene Siskel em Chicago Tribune (12-08-1990). Grandes
Entrevistas da História 1971-1990. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 125]
Melhor – “As pessoas ficam mais motivadas a fazer coisas o melhor possível do
que a fazê-las de forma simplesmente correcta.” [Steve Jobs. Entrevista a Bob
Burlingham e George Gendron em Inc.
(Abril de 1989). Grandes Entrevistas da
História 1971-1990. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 112]
Passado – “Quando um homem tem um passado extraordinário,
este vem ao de cima mesmo que ele o esconda, pois o passado está gravado no
rosto, nos olhos.” [Oriana Fallaci. Introdução à entrevista de Yasser Arafat,
em Intervista com la Storia (1974). Grandes Entrevistas da História 1971-1990.
Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 36]
Com o Expresso de hoje, o 6º volume
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Para a agenda - João de Melo na Culsete com o seu mais recente livro
João de Melo, dono de vasta e reconhecida obra literária, açoriano, estará na Culsete, em Setúbal, para apresentar o seu mais recente romance, Lugar caído no Crepúsculo. No dia 6 de Dezembro. Para a agenda.
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Para a agenda - "A Restauração", jornal monárquico-integralista sadino, em conferência
Se quer saber sobre o jornal A Restauração, quinzenário que se assumia como "monárquico-integralista", em Setúbal na I República, dirigido por Augusto da Costa, o investigador e mestrando em História Contemporânea Diogo Ferreira vai conferenciar sobre o tema no Club Setubalense, na tarde de 6 de Dezembro. Para a agenda.
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Para a agenda - TAS em "Estórias contadas pelo vento"
O TAS (Teatro Animação Setúbal) com teatro para crianças em Estórias contadas pelo vento, numa interpretação de Célia David. Durante uma semana, a partir de 6 de Dezembro. Para a agenda.
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Para a agenda - Pintura de António Galrinho
António Galrinho, nome de diversidades criativas e artísticas, expõe "Quadros Quadrados Quadriculados" na Casa da Cultura, em Setúbal. A partir de 6 de Dezembro. Para a agenda.
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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Fernando Pessoa: 80 anos de "Mensagem"
Em
1 de Dezembro de 1934, há 80 anos, era posto à venda o título Mensagem, único livro que Fernando
Pessoa publicou em português. Para lá da simbologia que poderia haver na
escolha da data para a entrada do título no circuito comercial por parte da
editora Parceria António Maria Pereira, também é verdade que o livro esteve
para ter o título de Portugal.
Se
não o teve foi por influência de um amigo do autor e por uma decisão de
rejeição. Com efeito, o nome do país andava a ser usado comercialmente em
campanha promotora do nome “Portugal”. E Pessoa confessa num dos seus escritos:
“O meu livro Mensagem chamava-se
primitivamente Portugal. Alterei o
título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar – a observação era
por igual patriótica e publicitária – que o nome da nossa Pátria estava hoje
prostituído a sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia.”
Onésimo
Teotónio de Almeida cita texto de José Blanco a propósito do prémio atribuído a
Mensagem em 1934: “A Mensagem não chegava às 100 páginas
regulamentares, ao contrário do livro do padre Vasco Reis, pelo que concorreu à
categoria B (poema ou poesia solta). Foi, como se sabe, por intervenção directa
de António Ferro que o montante do respectivo prémio, para o qual a Mensagem tinha sido passada apenas por
uma simples questão de número de páginas, foi elevado para 5000$00, exactamente
o mesmo atribuído pelo regulamento à obra premiada na categoria A.” (in Pessoa, Portugal e o Futuro. Lisboa:
Gradiva, 2014)
Vasco Reis, sacerdote flaviense, ganhou o prémio com A Romaria, também publicado em 1934.
Mais tarde, passaria a assinar as suas obras, romances de teor colonial (entre
outros: Cafuso, 1956; Filha de Branco, 1960; Caminhos, 1961; Queimados do sol, 1966),
com o nome de Reis Ventura, pseudónimo de Manuel Joaquim Reis Barroso (1910-1992).
Em vários momentos, o autor de A Romaria
confessou que o verdadeiro vencedor do Prémio Antero de Quental de 1934 deveria
ter sido Mensagem.
1º de Dezembro, a Restauração
Pela segunda vez, o feriado comemorativo da Restauração da Independência não é assinalado. Por muitos discursos que se façam sobre a data - podendo mesmo virem do poder político - não foi um acto de coragem ter suspendido este feriado. Por ser fundacional, por ser evocativo de algo que cada vez vai estando mais ausente - o sentido de independência, de afirmação de um povo, de uma nacionalidade, de um país. Uma tristeza!...
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