domingo, 27 de abril de 2014

Memória: Vasco Graça Moura (1942-2014)



“A realidade é sempre muito mais complicada. Tem sempre muito mais irisações e cambiantes do que a história que tecemos e destecemos sobre ela. Às vezes, a realidade reduz-se ao seu próprio osso, duro, despojado, impenetrável.” (Vasco Graça Moura. “Polímnia”. Morte no Retrovisor. Lisboa: Círculo de Leitores, 2009, pg. 206)

De Vasco Graça Moura fica uma obra longa, variada, de qualidade. A sua intervenção cívica, muitas vezes plasmada em crónicas de um estilo contundente e agressivo que nem sempre apreciei. O trabalho em prol da cultura e da história de Portugal, da nossa identidade. A oficina da palavra, num esmero que lhe deu prémios, honras, leitores e que nos deu um bom exemplo de escrita, um excelente autor da literatura portuguesa dos séculos XX-XXI.
Recordo a veemência de Vasco Graça Moura numa sessão no anfiteatro da Faculdade de Letras quando se começava a discutir o Acordo Ortográfico. Admirei-o pela verve, pela acutilância, pela qualidade da intervenção, pela argumentação expedita e culta, pela coragem, pelo “não” fundamentado a tal gesto. Uma contestação que nunca abandonou e que o levou a tomar decisões que foram contra o “establishment”, num remar certo e afirmativo, ainda que contra uma maré de oportunismo e de conveniência…
Não escondendo as suas raízes e influências literárias, Graça Moura estudou os seus mestres, traduziu-os e divulgou-os. E, como poeta grande que foi, celebrou os 50 anos da sua actividade literária (desde que, em 1963, publicou o volume de poesia Modo mudando) com uma obra que presta homenagem a um dos maiores poetas lusos, Camões – ‘Os Lusíadas’ para gente nova foi o título de 2012, numa operação de reconhecimento à literatura portuguesa e num gesto de partilha do épico com a juventude leitora de Portugal.
Suponho que o último título publicado por Graça Moura tenha sido A identidade cultural europeia (Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2013), ensaio brilhante, que chama a atenção para a dimensão cultural dessa identidade, ainda que o livro esteja eivado de algum pessimismo e de muitas reticências, reconhecendo que “os cidadãos não vivem, nem afectiva nem intelectualmente, uma sua pertença à Europa”.
É este espírito crítico e aberto, culto e informado, que nos fará falta. Para nos deliciar na arte da palavra, para nos elogiar e para nos criticar. Ainda bem que o poderemos continuar a ler!

sábado, 26 de abril de 2014

Escrever 40 anos de Abril em 40 poemas



O 40º aniversário do 25 de Abril foi pretexto para uma antologia de poetas setubalenses sob o título Abril – 40 anos 40 poemas, publicamente apresentado ontem, que constitui, simultaneamente, a primeira edição da Casa da Poesia de Setúbal, movimento em formação.
O livro reúne 29 autores (a maioria dos quais com obra já publicada) – Alexandrina Pereira, Ana Wiesenberger, António Galrinho, Arlindo Mota, Carlos Rodrigues, Deolinda da Conceição, Eduarda Gonçalves, Fernanda Esteves, Fernando Guerreiro, Fernando Paulino, Filipe Gonçalves, Helena de Sousa Freitas, João Carlos Raposo, João Santiago, Joaquina Soares, José-António Chocolate, José Nobre, José Raposo, Linda Neto, Luís Filipe Estrela, Manuela Matos Silva, Maria Clementina, Maria do Carmo Branco, Maria Sol, Maurícia Teles da Silva, Miguel de Castro, Resendes Ventura, Vanda Solho e Virgínia Costa.
Os quarenta motivos para evocar Abril podem congregar-se na frase que abre o prefácio, assinado por Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, ao dizer: “Abril também se fez na poesia. E pela poesia.” Esta chave será apenas metafórica, mas é exactamente desse sentimento que partem todos os dizeres, uns mais dominados por ligações afectivas e quase íntimas, outros assentando no jogo das palavras, alguns evocando o momento de há quatro décadas, uns tantos reclamando o cumprimento de Abril, muitos apoiados numa crítica resultante de alguma desilusão, vários insistindo na ideia da liberdade. Este trajecto poético pela lembrança de Abril adquire, assim, matizes de diversidade.
A predominância surge marcada por uma certa disforia, ao mesmo tempo que pelo sentir a necessidade de ser retomado o ideal. À crítica presente nos versos de José-António Chocolate, quando se interroga anaforicamente sobre o mundo da representação (“Onde nos leva esta gente que anda tão contente / como só seus olhos vissem donde a alegria lhes vem./ … / Onde nos leva esta gente que anda tão contente / como se milagre houvesse estando Deus ausente. / … / Onde nos leva esta gente que anda tão contente / como se trajasse saúde estando tão doente. / … / Onde nos leva esta gente que anda tão contente, / alheia a quem sofre, em seu ar emproado e impertinente.”), ou de José Raposo, quando se revolta com uma certa desfaçatez (“Mas há quem viva brincando / com a nossa Liberdade, / esquecendo talvez o pranto / dos que sofreram por ela, / no corpo sentindo a dor / mas lutando com fervor / Liberdade, como és bela.”), responde a intenção de Ana Wiesenberger, construída sobre a antítese da reduzida dimensão geográfica e da forte intensidade da palavra (“Portugal, meu Portugal pequenino / É urgente que as tuas gentes inundem as Praças / Que os nossos gritos sejam farpas / Que o nosso hino traje de novo / A transparência desejada / O fim dos conluios que nos arruínam / A solidez da veracidade nos caminhos”) ou de Deolinda de Jesus, com versos em jeito de palavra de ordem (“É urgente devolver a paz ao povo / E com seu poder criar um país novo / A união dum povo tem a força da razão.”).
A esperança é algo que inunda muitos dos poemas aqui presentes, alicerçada sobre o sentimento e a vivência da liberdade, como se pode ver nas palavras de Maria do Carmo Branco – “Neste país apertado de tristeza / onde a dor e o desalento se acentua, / construiremos de novo o poema, / quebraremos a força da algema, / erguendo a Palavra em cada rua…” Por estes caminhos cravados de dizeres e de expressão do que vai na alma, Alexandrina Pereira retoma a imagem do cravo e personifica-o como o elemento capaz de ser transportador da esperança – “Meu cravo de Abril com alma de povo / Volta por favor a florir de novo!”
A imagem do cravo é forte no texto de Helena de Sousa Freitas, num poema que joga com palavras e conceitos sob o título de “A (r)evolução dos (es)cravos”, cujos dois primeiros versos assumem um tom provocatório – “Cairá por evolução ou por aférese / o ‘r’ da revolução, assim decapitada?” O poema evolui no sentido de uma resposta igualmente desafiadora, presente no último terceto: “E, se nos pedem o desfalque da palavra, / nós rebatemos com perpétuos ideais. / Pois somos cravos… ainda, sempre e muito mais!” E por aqui se chega à responsabilidade que na afirmação da liberdade tem cada um, poeta ou não, como propõe João Santiago no final do seu interrogativo título “Remédio?”, a sugerir que a solução não poder vir através dos outros, mas do compromisso de todos: “No uso da liberdade / que em ninguém delego, / ouso dizer: / que a haver luz, / se luz houver, / ou é a luz a vir de ti / ou não é luz.”
Evocação e compromisso, mesmo que apenas poético, é este livro, que surge uma década depois de outro construído com o mesmo objectivo, 25 de Abril – Revolução dos Cravos – 30 anos 30 poemas (Setúbal: Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, 2004). Os dez anos que separam estas antologias (entre as quais só há seis autores comuns) podem também permitir uma leitura simultânea das duas obras, gesto que colocará o leitor perante um desafio: o que se nota que mudou no “espírito de Abril” através da palavra poética? Fica o convite para essas leituras…

sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 de Abril - 40 anos, hoje (2)



O 40º aniversário do 25 de Abril na leitura de Luís Afonso no Público de hoje. Resposta? Uma responsabilidade participada.

25 de Abril - 40 anos, hoje (1)



O cartaz do 40º aniversário do 25 de Abril, concebido por Júlio Pomar e Henrique Cayatte para a Associação 25 de Abril. Resposta? Uma responsabilidade participada.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Dia Mundial do Livro...



... é hoje! Uma celebração que vale a pena.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Para a agenda: Sérgio Godinho e "A Naifa" nos 40 anos do 25 de Abril



Dois momentos importantes de espectáculo e de festa dos 40 anos do 25 de Abril em Setúbal: Sérgio Godinho, a 24, e "A Naifa", a 25. Para a agenda!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Para a agenda: Militares, política e o 25 de Abril, em Setúbal



Para o serão de 25 de Abril, muitas das histórias que o fizeram. Militares e política - O 25 de Abril, sexta, pelas 22h00, na Casa da Cultura, com João Madeira e Luísa Tiago de Oliveira, a autora. Para a agenda.

Para a agenda - 40 poemas de Abril, pela Casa da Poesia



40 poemas para 40 anos do 25 de Abril. Uma partilha de poetas com os leitores, uma partilha do 25 de Abril, uma partilha de poesia, uma partilha. O 25 de Abril com poemas, um por cada ano da idade da data. Em 25 de Abril, pelas 17h00, no edifício da Câmara Municipal de Setúbal. Para a agenda!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Memória: Joana Luísa da Gama (1923-2014)



Em que data conheci a Joana Luísa? Não o sei. Tenho a sensação de que a conheço desde sempre, tão aberta e certa foi a nossa relação ao longo dos tempos: da minha parte, porque queria saber sobre o Sebastião da Gama e a sua obra; da parte de Joana Luísa, porque gostava de falar sobre o seu Sebastião e a sua poesia, porque gostava de mostrar a obra do marido, porque acalentava docemente a memória e preservava fervorosamente a obra do seu poeta.
Desde que, num dia cuja data desconheço, a contactei para saber coisas sobre o poeta e a sua ligação à revista Távola Redonda (1950-1954), nunca mais nos esquecemos de contactar.
O que mais admirei na sua postura foi a atitude de franqueza e de abertura relativamente a tudo o que a Sebastião da Gama dissesse respeito e o facto de não esconder o espólio, a obra, os sentimentos, a emoção que por ele nutria.
Quando foi criada a Associação Cultural Sebastião da Gama, a que fui chamado a presidir, o apoio de Joana Luísa foi incansável. Queria que a obra do marido fosse conhecida, sentia-se feliz porque tinha uma instituição que a ajudaria a divulgar a obra e a mensagem do seu Sebastião. Fui a múltiplas sessões, em escolas e em associações, sempre tendo por companhia a pessoa de Joana Luísa, numa posição de testemunhar, de ensinar, de oferecer a partilha.
Fizemos vários quilómetros e sempre a Joana Luísa trazia um sorriso estampado depois de ajudar a apresentar o homem e o artista que se revelava através dos versos. E era vê-la, radiante e disponível, no fim de cada sessão, conversando com alunos e com professores que ainda queriam saber mais!...
Aprendi muito com Joana Luísa. Sobre os afectos e sobre a figura gigantesca que Sebastião da Gama foi, sobre o empenho cultural, sobre a intervenção cívica, sobre…
Quando, há dois anos, um avc afectou Joana Luísa, as coisas mudaram: deixei de poder contar com a sua presença, a sua tolerância e os seus ensinamentos. Fui deixando de poder contar com o seu saber e com a sua memória. As histórias foram-se apagando ao ritmo que a vida se esvaía e fui-me habituando a ter de viver sem a segurança que constituíam o saber e a experiência de Joana Luísa.
Quando ontem pela manhã, indo a caminho de Lisboa, a sobrinha Ana me telefonou a comunicar que Joana Luísa partira na noite de terça-feira, não me espantei, pois o momento era já esperado, ainda que não desejado. A falta passaria a definitiva e a tristeza desta irreversível separação dominou-me.
Se a obra de Sebastião da Gama é hoje conhecida a Joana Luísa o devemos. Ao ter vivido mais de 60 anos de viuvez divulgando a obra do marido, foi Joana Luísa quem tornou possível o conhecimento da obra do poeta e do professor. Não fosse a sua força e, hoje, talvez não soubéssemos o que tinha sido o seu Diário; não fosse o seu empenho e hoje talvez ignorássemos o ritmo e as verdades de máximas como “Pelo sonho é que vamos” ou “o segredo é amar”… Com efeito, a obra publicada como póstuma de Sebastião da Gama é também acção sua, obra sua. Legitimamente. Sebastião da Gama poderia ter sido apenas o autor dos três livros de poesia que publicou em vida e, provavelmente, seria um autor esquecido, menor no contexto da literatura portuguesa. Mas Joana Luísa manteve as amizades do marido, não escondeu o acervo legado, permitiu que se estudasse a sua obra, contribuiu enormemente para a divulgação do poeta.
Devo-lhe grande parte do que sei sobre Sebastião da Gama. Devo-lhe a amizade e o respeito. Devo-lhe essa revelação do quão grande o poeta era. É essa memória que quero conservar. Tal como quero imaginar que, agora, lhe será possível o máximo encontro com o seu poeta, o gozo da eternidade, a continuação da história que, num dia de 1946, Sebastião da Gama lhe prometeu num poema como “Madrigal”.
Obrigado, Joana Luísa!
Ler mais aqui.
[Foto: Joana Luísa, numa ida à Arrábida, em Alportuche, em Maio de 2006]

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Para a agenda: Setúbal tem 154 anos de cidade



Em 19 de Abril, Setúbal assinalará o 154º aniversário da sua elevação a cidade. O programa preparado pela Câmara Municipal faz a ponte entre o passado e uma cidade do futuro. Para a agenda!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Monumentos aos Combatentes da Grande Guerra e do Ultramar em livro



São três centenas e meia de páginas de registo fotográfico aquelas que constituem a obra Monumentos aos Combatentes da Grande Guerra e do Ultramar, produzida pela Liga dos Combatentes (Lisboa: 2013), divulgando pouco mais de trezentas evocações de arte pública sobre o tema, sendo que um terço se relaciona com a Grande Guerra e as restantes com as campanhas no Ultramar, embora alguns dos monumentos correspondam à memória de uns e de outros.
Nas palavras do general Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, constantes no “Proémio”, a justificação da obra é pertinente: “que este livro seja inspirador do estudo da História, da promoção do amor à Pátria, em especial junto da juventude, bem como da defesa intransigente dos valores morais e históricos de Portugal.”
Os monumentos são documentos importantes para se atestar a memória de um povo. E praticamente não há recanto de Portugal que não possua o seu busto, a sua estátua, num desafio à acção do tempo e num perpetuar de uma obra válida. No que respeita aos combatentes, essa presença é demasiadamente evidente, associando com frequência o monumento a propósito à toponímia.
Esta obra dá conta dessa intensa presença dos combatentes na memória, construída sobre fotos existentes no acervo da Liga dos Combatentes, organizadas por distrito e, em cada um deles, por ordem alfabética das localidades, divididas essas obras de arte pública nos grupos dos combatentes da Grande Guerra e dos combatentes do Ultramar.
Interessante do ponto de vista de recolha e levantamento das obras existentes (o esforço de registo trouxe mesmo ao leitor a listagem dos monumentos portugueses no estrangeiro), o livro poderia conter alguma informação condensada sobre cada uma das obras apresentadas que fosse além da indicação do autor do projecto e do ano de inauguração, dados que nem estão presentes em todos os casos.
Da lista dos monumentos alusivos à Grande Guerra são os seguintes os marcos apresentados: a) Aveiro: Anadia (1929), Aveiro (1934), Espinho (1957), Espinho – Regimento de Engenharia 3 (sem data), Estarreja (1922), Ílhavo (1924), Murtosa (1929), Oliveira de Azeméis (1930), Oliveira do Bairro (1926), Ovar (1925), São João da Madeira (1937) e Vagos (1923); b) Braga: Barcelos (1930), Braga (s.d.), Fafe (1931), Vila Nova de Famalicão (1927) e Vila Verde (1931); c) Bragança: Bragança (1928); d) Castelo Branco: Castelo Branco (1924), Covilhã (1930) e Penamacor (1921); e) Coimbra: Coimbra (1932), Condeixa a Nova (1921), Figueira da Foz (1928), Lousã (1927), Mira (1932), Oliveira do Hospital (1935), Penacova (s.d.), Penela (s.d.), São Pedro de Alva (s.d.), Soure (1934) e Vila Nova de Oliveirinha (1941); f) Évora: Estremoz (1941), Évora (1933), Évora – Regimento de Artilharia Ligeira 3 (s.d.), Montemor o Novo (1923), Reguengos de Monsaraz (s.d.) e Vendas Novas (1927); g) Faro: Lagos (1940) e Tavira (1933); h)Guarda: Almeida (1940), Guarda (1940), Pinhel (1922) e Vila Nova de Foz Coa (s.d.); i) Leiria: Batalha (1921), Caldas da Rainha (na Escola de Sargentos do Exército, 1953), Cortes (1919, o mais antigo em Portugal, de acordo com os registos das datas indicados), Leiria (1929), Marinha Grande (1935), Monte Redondo (s.d.) e São Mamede (s.d.); j) Lisboa: Alenquer (1959), Arruda dos Vinhos (1929), Cascais (1925), Lisboa (1931), Lisboa – Alto de S. João (1929), Lisboa (Regimento de Artilharia Ligeira (1987), Lisboa – Regimento de Engenharia 1 (s.d.), Loures (1929), Oeiras (1940) e Sintra (1940); k) Portalegre: Elvas (1938) e Portalegre (1935); l) Porto: Marco de Canavezes (1927), Penafiel (1927), Porto (1928), Póvoa de Varzim (1933), Vila do Conde (1932) e Vila Nova de Gaia (1925); m) Santarém: Abrantes (1940), Cartaxo (1922), Mação (1938), Santarém (1932), Tancos – Escola Prática de Engenharia (s.d.), Tomar (1932), Torres Novas (1927) e Vila Nova da Barquinha (1936); n) Setúbal: Palmela (2012, o mais recente memorial em homenagem aos mortos da Grande Guerra, particularmente aos naturais do concelho), Seixal (1934) e Setúbal (1931); o) Viana do Castelo: Valença (1951) e Viana do Castelo (1922); p) Vila Real: Chaves (1922), Mondim de Basto (1930) e Vila Real (s.d.); q) Viseu: Lamego (1932), Tondela (s.d.) e Viseu (1928); r) Açores: Ponta Delgada (1936) e Vila do Porto (1929); s) Madeira: Funchal (1936). Na Figueira da Foz, consta ainda o monumento a António Gonçalves Curado, o primeiro soldado português a morrer na Flandres. A lista é ainda completada com os monumentos portugueses no estrangeiro: a) Angola: Gabela (s.d.), Luanda (1934), Luena (s.d.) e Môngoa (s.d.); b) França: Ambleteuse (1919, com a indicação de ser o “primeiro monumento erguido no mundo em memória dos combatentes da Grande Guerra”, iniciativa da Cruz Vermelha Portuguesa em 30 de Junho de 1919), La Couture (1928) e Richebourg – L’Avoué (dois, s.d.); c) Macau (1938); d) Moçambique: Maputo (1929) e Mecula (s.d.).
A lista dos monumentos alusivos aos combatentes do Ultramar compreende os seguintes, grande parte deles erigidos no século XXI: a) Aveiro: Anadia (sem data), Antes (2009), Arouca (2010), Castelo de Paiva (2000), Dornelas (2009), Ílhavo (2008), Oliveira de Azeméis (2001), Oliveira do Bairro (2005) e Sever do Vouga (s.d.); b) Beja: Beja (2009), Castro Verde (2002 e 2011), Cuba (1997), Mértola (2013), Moura (2010) e São Teotónio (2011); c) Braga: Barcelos – Oliveira (2008), Cabeceiras de Basto (2005), Esposende (2011), Esposende – Antas (s.d.), Fafe (2005) e Louredo (2013); d) Bragança: Bragança (2004), Mirandela (2006) e Torre de Moncorvo (2013); e) Castelo Branco: Belmonte (2005), Orjais (2008), Penamacor (2011), Silvares (1976), Teixoso (2008), Tortosendo (2002), Unhais da Serra (s.d.) e Vila Velha de Ródão (2008); f) Coimbra: Arganil (2004), Cantanhede (2005), Carapinha (2010), Coimbra (1971), Cordinhã (2009), Covas (s.d.), Figueira da Foz (2009), Góis (2005), Midões (2008), Pomares (2006) e Tábua (2007); g) Évora: Borba (2007), Mora (2010) e Reguengos de Monsaraz (2001); h) Faro: Albufeira (2008), Faro (2009), Lagoa (1993), Olhão (2013) e Vila Real de Santo António (2011); i) Guarda: Aguiar da Beira (s.d.), Forninhos (2011) Freixo (2012), Gouveia (2011), Guarda (s.d.), Horta do Douro (2012), Manteigas (2007), Mêda (2004), Sabugal (2012), Santo Estêvão (2012), Seia (2008), Seixas (2012), Vale de Espinho (s.d.) e Vila Nova de Foz Coa (2011); j) Leiria: A-do-Barbas (2009), Abiul (2012), Alcobaça (2001), Almoinha Grande (2004), Alvados (2013), Alvorninha (2013), Arrimal (2012), Atouguia da Baleia (2009), Bajouca (2012), Barreira (2010), Benedita (2010), Burinhosa (1988), Leiria (1966 e 2009), Maiorga (1973), Marinha Grande (1965), Marrazes (2011), Moita (s.d.), Monte Real (2013), Ortigosa (2010), Pataias (2005), Pedrógão Grande (s.d.), Pombal (2006), Reguengo do Fetal (s.d.), Santa Catarina da Serra (2012), São Martinho do Porto (2009) e Souto da Carpalhosa (2009); k) Lisboa: Aveiras de Cima (2002), Azambuja (1973), Azueira (2011), Cadaval (2013), Carnaxide (1972), Cascais (1972), Covas de Ferro (2013), Encarnação (2002), Igreja Nova (2009), Lisboa (1994), Lisboa – Regimento de Lanceiros (1987), Lisboa – Regimento de Transportes (1987), Lourinhã (2005), Mafra (1988), Moledo (2005), Oeiras (1997) e Torres Vedras (2003); l) Portalegre: Elvas (2008), Gavião (2009), Sousel (1964) e Vila Boim (2009); m) Porto: Águas Santas (2005), Amarante (s.d.), Arcozelo (s.d.), Ermesinde (2009), Fânzeres (1971 e 2008), Felgueiras (2009), Freamunde (s.d.), Lavra (2009), Lixa (2009), Lousada (2008), Marco de Canavezes (2005), Matosinhos (2011), Paranhos (2010), Paredes (2009), Santo Tirso (2002), Senhora da Hora (2013), Vila Chã (s.d.), Vila do Conde (2010) e Vila Meã (2012); n) Santarém: Almeirim (2009), Arronquelas (2009), Chamusca (1982), Entroncamento (2005), Fátima (1997), Glória do Ribatejo (2013), Lapa (2011), Mação (2009), Malaqueijo (2013), Marinhais (2008), Ourém (1991), Rio Maior (2005), Tancos (1968), Tomar – Regimento de Infantaria 15 (s.d.), Rodrigos (1974) e S. Sebastião (2013); o) Setúbal: Alcácer do Sal (2013), Pinhal Novo (2012) e Sesimbra (2008); p) Viana do Castelo: Barroselas (2001), Monção (2008 e 2012), Vila Nova de Cerveira (2008) e Vila Praia de Âncora (2009); q) Vila Real: Chaves – Regimento de Infantaria (s.d.), Mondim de Basto (2001), Montalegre (2005), Ribeira de Pena (2009), Sanfins do Douro (2005), Valpaços (2011) e Vila Real (2000); s) Viseu: Beijós (2008), Campia (1999), Canas de Senhorim (2009), Currelos (2007), Mangualde (2010), Nagosela (2012), Penedono (2011), Repeses (2001), Santa Comba Dão (2010), Santar (2005), Tondela (2002) e Vila Chã da Beira (1966); t) Açores: Angra do Heroísmo (2000), Horta (2005), Lagoa (2004), Lajes do Pico (2007), Madalena do Pico (2011), Ponta Delgada (2005), Praia da Vitória (1997), Santa Cruz da Graciosa (2010), S. Mateus da Calheta (2001), S. Roque do Pico (2005), Terra Chã (2004) e Vila Nova do Corvo (2004); u) Madeira: Funchal (2003), Machico (2013) e S. Vicente (2013). A lista é ainda preenchida com os monumentos portugueses no estrangeiro: a) Bósnia; b) Canadá: Toronto (2010), Winnipeg (2009); c) Estados Unidos: Lowell (2000). O monumento mais antigo será, em concordância com as datas fornecidas, o de Sousel, de 1964; no ano de 2013, várias localidades foram contempladas com um monumento em memória dos Mortos do Ultramar.
O livro fecha com a força da palavra memória, fotografada a partir de uma inscrição e registada na contracapa: "À memória de todos os soldados que morreram ao serviço de Portugal".

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Para a agenda - Agostinho da Silva e Sesimbra



Pedro Martins e António Reis Marques assinam os trabalhos que levam ao encontro com Agostinho da Silva em Sesimbra, prefaciado por António Cândido Franco. Uma produção do Centro de Estudos Bocageanos para a sua colecção "Clássicos de Setúbal". Na Casa da Cultura, em Setúbal, às 16h30. Para a agenda.

Para a agenda - Dina Barco e Zé Nova, a dupla num livro



Dina Barco nas palavras. Zé Nova nos desenhos. Os nossos olhos sobre as páginas de Poemas para nada, saído da imaginação dos dois. Na Casa da Cultura, em 12 de Abril, pelas 21h30. Para a agenda.

Para a agenda - Manuel da Silva Jorge em "Manuel de Instruções"



Manuel Silva Jorge apresenta Manuel de Instruções. Na Casa da Cultura, em 12 de Abril, às 15h00. Para a agenda.

Para a agenda - Associação Agostinho da Silva convida


Ao assinalar o 20º aniversário da partida de Agostinho da Silva, a Associação que o tem como patrono promove uma série de eventos em Setúbal. No dia 12: "O céu 'strela o azul e tem grandeza. António Vieira e Agostinho da Silva: nexos e extrapolações", por Ricardo Ventura, na Casa do Bocage. Para a agenda.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Alves Redol inicia "Livros Proibidos" no "Público"



Com a edição do Público de hoje começou a ser publicada a colecção “Livros Proibidos”, de autores portugueses, em edições facsimiladas, cada uma delas inserindo o relatório do censor em que a proibição é justificada. Obras com primeira edição surgida entre a década de 1930 e a de 1960, todas demonstram até onde iam os argumentos da censura, que zelava pela manutenção da ordem e dos bons costumes.
A lista compreende treze títulos, com saída a ritmo semanal, e foi iniciada com Gaibéus, de Alves Redol, impresso no final de 1939. Considerado hoje um dos títulos mais importantes do Neo-Realismo, este romance de Redol foi proibido por despacho de 26 de Abril de 1940, dizendo o censor estar-se perante “um autor de forte poder de análise”, com um livro que, “além de juntar a cores fortes um quadro de miséria dolorosa, foca também o aspecto social do drama dos humildes ceifeiros”. Como resultado, não se está perante “um livro revolucionário porque os personagens são humildes mesmo perante a brutalidade dos capatazes”, mas… o último parágrafo do parecer justifica a proibição: é que “há páginas neste livro que chocam pelo realismo, que nalgumas se transforma em pornografia e prejudiam o seu incontestável valor.”
Os outros doze títulos que compõem a série são: Histórias de Amor (1952), de José Cardoso Pires (em 17 de Abril); Fátima: Cartas ao Cardeal Cerejeira (1955), de Tomás da Fonseca (em 24 de Abril); Povo (1947), de Afonso Ribeiro (em 1 de Maio); Quando os Lobos uivam (1958), de Aquilino Ribeiro (em 8 de Maio); O Encoberto (1969), de Natália Correia (em 15 de Maio); Vagão J (1946), de Vergílio Ferreira (em 22 de Maio); Rã no Pântano (1959), de António de Almeida Santos (em 29 de Maio); Minha Cruzada Pró-Portugal: Santa Maria (1961), de Henrique Galvão (em 5 de Junho); Um Auto para Jerusalém (1964), de Mário Cesariny de Vasconcelos (em 12 de Junho); Diário VIII (1959), de Miguel Torga (em 19 de Junho); Refúgio Perdido (1950), de Soeiro Pereira Gomes (em 26 de Junho); Escritos Políticos (1969), de Mário Soares (em 3 de Julho).

David Magno, um português em La Lys, em 9 e 10 de Abril de 1918



[9 de Abril] “O bombardeamento aberto às 4h15 vai alastrando, crescendo e aproximando-se como um imenso incêndio numa seara. (…)
Estou (…) assistindo (…) ao bombardeamento, ao despejo contínuo dessa cornucópia infernal, que em volta de nós vasa projécteis espantosos, muitos dos quais de trajectória mais curva se ouvem vir, uivando e dando a impressão da morte, a chegar de instante a instante!
A terra treme, o ar vibra, o arvoredo geme e a minha caserna oscila até aos alicerces. Nos seus subterrâneos, como os antigos cristãos que esperam a hora de serem lançados às feras, um punhado de almas rezam a oração do amor da Pátria e um punhado de corações batem uníssono de amor à vida. A igualdade da adversidade os une. Só eu não rezo, com medo de ter medo, mas em compensação alguém o faz por mim!
A ferme vai-se desconjuntando até que por fim vem a ser devorada pelo incêndio. Por aqui e por ali os tectos voam, as paredes fendem e os adobes despenham. A padieira e os umbrais a que me encosto esmagar-me-ão, mas… este é o lugar que o meu brio me determina! (…)
Chamo os poucos homens que me restavam, formo-os e parto mas, entretanto, a deslocação de ar produzida por uma granada de grande calibre sacode-nos. Os meus soldados lançam-se por terra para escaparem aos estilhaços e alguns até correm a procurar abrigos detrás das paredes de lona de uns anexos ao alojamento como se fossem paredes de aço! Depois erguem os olhos espavoridos para mim que, levantado, tenho rebuço de curvar a cabeça à morte que passa e continua a passar, assobiando árias macabras…
O espectáculo é como os nossos sentidos, habituados a bombardeamentos, jamais tinham visto. Campos de esmeralda a serem pontuados pelas explosões. Altos choupos decepados como vidas que desaparecem. O nevoeiro a envolver tudo em mais escura tragédia, porque o sol se recusa a iluminá-la. (…)”

[10 de Abril] – “Neste segundo dia, o fogo passou a ser mais renhido, incluindo granadas de gás, e as perdas sensíveis , principalmente entre os escoceses.
Com efeito, adiante de nós todos, nas primeiras e segundas linhas, já não existe desde ontem senão um extenso sepulcro português. Tantos corpos desfeitos na lama flamenga, embora com suas almas nimbadas de glória, devem sentir o peso das tropas e viaturas de um exército imperial. Os que não se renderam morreram. Sem dúvida, os mais heróis são estes. Os mais habitual e ingratamente esquecidos os mesmos. Mártires todos, sem deixar de contar os mutilados, feridos e gaseados. A aumentar o horroroso quadro, cadáveres inimigos em número muito superior se misturam com aqueles. Bandos de corvos, como águias negras, prussianas, vão assinalando a marcha vitoriosa.”
David Magno. Livro da guerra de Portugal na Flandres (vol. 1).
Porto: Companhia Portuguesa Editora, 1921

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Hoje, Dia Internacional do Livro Infantil



Em prol da leitura, do livro, do crescimento saudável e de Andersen, o Dia Internacional do Livro Infantil, a assinalar o dia em que o seu patrono nasceu quando corria o ano de 1805 (justamente o ano em que Bocage viria a falecer).

Vicente Penim, um setubalense na Grande Guerra


«Ontem, pelas 15 horas e 25 minutos, na altura em que passava pela Rua 24 de Julho o eléctrico 328 repleto de passageiros, o conhecido e destemido gatuno Farruca dos Santos agarrou o eléctrico e meteu-o debaixo do braço desaparecendo para nunca mais ser visto. A polícia procura o paradeiro do gatuno e do eléctrico.»
Surrealista? Talvez. Seu autor? Um combatente setubalense na Flandres, em data incerta, entre 1917 e 1918. Objectivo? Aligeirar a tensão e alegrar os ânimos dos camaradas, oficiais incluídos, todos habituados ao sofrimento da guerra, inventando histórias que eram comunicadas como notícias, em imitação de leitura num qualquer número do Século ou do Diário de Notícias, nas edições que conseguiam chegar ao campo de batalha.
Socorro-me do testemunho de Pedro de Freitas (1894-1987), que foi contramestre de clarins do Batalhão de Sapadores de Caminhos de Ferro e rumou em 1917 para a Flandres, tendo, duas décadas depois, partilhado as memórias desse tempo na obra As minhas recordações da Grande Guerra (Lisboa: 1935), título que albergou também a sua lembrança do cruzamento e do contacto com o setubalense Vicente José da Silva Penim (1888-1957), ferreiro de profissão e, depois da Guerra, operário na Fábrica de Material de Guerra.
No retrato deste setubalense sobressai a sua faceta de bem-disposto, homem de narrativas interessantes, com refinado humor (como se depreende da “notícia” sobre o roubo do eléctrico) e também a de poeta, que, não tendo publicado livro, teve a sorte de encontrar Pedro de Freitas, responsável por ter passado a escrito os seus versos, por vezes entoados com o acompanhamento de uma improvisada guitarra de latão.
Os poemas que estão reproduzidos na obra acima mencionada versam o quotidiano dos soldados portugueses na Flandres, por vezes manifestando a opinião corrente, outras vezes satirizando situações, outras ainda evocando momentos desse dia a dia. Num dos poemas, Penim deixa passar o paradoxo do que é estar na guerra: “Guerra medonha, odiosa, / Que obrigas a criatura / A procurar sepultura / Na idade mais ditosa. / Tua atitude horrorosa / Como ambição encarei, / Razão porque detestei / O teu bárbaro destino: / Fazes de mim assassino / Obrigado pela lei.”
Num outro poema, em que relata o sofrimento sentido em La Lys em 9 de Abril de 1918, evoca a figura da mãe para redobrar a coragem no combate contra o alemão, como sugere no mote: “Quando a forte artilharia / Produz a explosão, / Julgo ver-te, pobre mãe, / Entre o fumo do canhão.” As décimas seguintes serão explícitas – logo a primeira: “Nesta guerra envolvido / Tendo da vitória a esperança, / Para defender a França / Eis-me pronto e decidido. / Ao lembrar-me o lar querido, / Fonte da minha alegria, / Profunda melancolia / O coração me invade; / E rebenta de saudade / Quando a forte artilharia.” E, na última estrofe: “Mãe, que deste à luz um filho / E que jamais o esqueces, / Mil elogios mereces / Por seu tormentoso trilho. / Dá-te orgulho, dá-te brilho, / A minha honrosa missão. / Resistindo ao alemão / Morro cheio de coragem / Por julgar ver tua imagem / Entre o fumo do canhão.”
Entre os designados fados da trincheira, ocorre um muito conhecido versando o tipo de alimentação, que tem a seguinte quadra como mote: “O corned-beef afamado / Zangou-se com o feijão. / Foi dado incapaz o vinho, / Anda de licença o pão.” O título foi buscá-lo o fado ao primeiro verso e, com frequência, é a letra mencionada como tendo sido escrita nas trincheiras. É verdade, como também é verdade que o seu autor, quase nunca indicado, a produziu em 25 de Setembro de 1917, mal sabendo ler e escrever, confiando o momento de inspiração a Pedro de Freitas: o fado do “corned-beef” tem como autor o setubalense Vicente Penim.