sexta-feira, 31 de maio de 2013

Nova Biblioteca Municipal de Setúbal anuncia-se



A futura Biblioteca Pública Municipal de Setúbal foi dada a conhecer hoje, proposta seleccionada por concurso público, concebida pelo atelier “Jordana Tomé, Vítor Quaresma, Filipe Oliveira”, com coordenação do arquitecto Joaquim Duque Duarte.
O projecto de concepção das futuras instalações da nova Biblioteca Pública foi seleccionado entre as 127 candidaturas, entre 99 portuguesas e 28 estrangeiras.

No concurso de concepção das futuras instalações bibliotecárias de Setúbal, enquadradas na classificação “BM3”, destinada a cidades com mais de 50 mil habitantes, foram ainda distinguidas as propostas de João Luís Carrilho da Graça, segunda classificada, e de Mónica Sofia Alves Margarido, terceira classificada. Coube ainda uma menção honrosa à proposta do atelier Embaixada Arquitectura, coordenada por José Paulo Ferreira Rodrigues.
[Foto: antevisão do que será a nova Biblioteca sadina]

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O poeta, segundo A. M. Pires Cabral


Foi para isso que os poetas foram feitos

semear tempestades
e assegurar que cresçam
foi para isso que os poetas foram feitos

esgrimir com a mais idónea
das espadas: a coragem
foi para isso que os poetas foram feitos

namorar a perfeição
e às vezes alcançá-la
foi para isso que os poetas foram feitos

A. M. Pires Cabral. A vista desarmada, o tempo largo (Lisboa: Quetzal)
[reproduzido em Resumo - A poesia em 2012 (Lisboa: Documenta / FNAC, 2013)]

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Para a agenda: "Deuses, túmulos e sábios" em Setúbal



Mais um evento com a assinatura Synapsis. Victor Gonçalves falará sobre vida, morte e magia nas antigas sociedades camponesas do Centro e Sul de Portugal. Entrada livre.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Mário Moura, o primeiro premiado Miller Guerra



Mário Moura (n. 1927), conhecido médio setubalense, quer pela actividade exercida profissionalmente, quer pela intervenção cívica que tem mantido regularmente, é a primeira personalidade a receber o prémio Miller Guerra, instituído pela Ordem dos Médicos, que será entregue amanhã.
O galardão visa contemplar um profissional da área da medicina que se tenha distinguido ao serviço dos doentes, assentando sobretudo na dimensão humanista da prática médica.
Mário da Silva Moura é autor de múltipla bibliografia no âmbito da medicina e também dos títulos E o homem novo? – Testemunhos de dez anos de actividade de um jornalista cristão (1995), A trajectória do amor: Ensaio sobre a medicina familiar (2000) e À conquista da liberdade (2013).
Um reconhecimento merecido!

Mia Couto, Prémio Camões

 

Parabéns, Mia Couto!

domingo, 26 de maio de 2013

O que fazemos do tempo quando nos deixamos arrastar por objectivos, resultados, pressas ou o que o tempo faz de nós


A nossa relação com o tempo e do tempo connosco, a necessidade da lentidão, a urgência de pensar e de reprimir a velocidade e a pressa das nossas vidas. Um texto bem interessante de José Tolentino Mendonça, na "Revista" do Expresso de ontem.


Paulo Morais em luta contra a corrupção, por um imperativo cívico

Paulo Morais, autor de Da corrupção à crise (Gradiva, 2013), fundador da Associação da Transparência e Integridade, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto na equipa de Rui Rio, é entrevistado na “Revista” do Expresso de ontem (nº 2117, pp. 46-52). Uma entrevista a ler, que explica muitos dos mistérios com que vamos sendo brindados no quotidiano. Uma entrevista a ler, porque temos de saber. Deixo alguns excertos.

A sedução como corrupção – “Um político não se pode deixar contaminar, ou cair na sedução do croquete. Há a corrupção material, comprar pessoas, e há uma corrupção aparentemente menos grave mas gravíssima, que é a da sedução. Convites para jantar, fins de semana, quinzenas de férias, bilhetes, etc.”
Dominar o líder – “Os poderosos ou eliminam o líder ou dominam o líder. Foi o que aconteceu com Passos Coelho, que entrou relativamente solto.”
Dos mercenários – “Os que andam com a mão na massa, na sujidade, os mercenários, são 10 ou 15%. Mas são 15% que mexem em 90% do Orçamento. São pessoas que se sentem seduzidas pela função, vereadores, deputados, etc. Pelas borlas. Pelas facilidades e empregos.”
Corrupção em Portugal a aumentar – “A corrupção em Portugal está a subir. Nos indicadores internacionais, entre 2000 e 2010, passámos de 23º para 33º. Somos o país que mais caiu na transparência no mundo. O que mais regrediu. (…) Se a corrupção diminuir o país melhora.”
Partidos e (des)emprego – “No litoral, ou nas áreas metropolitanas, estar ligado a um partido é garantia de emprego. Nos pequenos municípios, no interior, não estar ligado é garantia para o desemprego.”
Da justiça – “Na justiça, para notificar um cidadão para prestar declarações, em vez de se fazer um telefonema manda-se uma carta registada assinada por um procurador a fazer de escrivão e vai um polícia fazer de carteiro. Kafkiano. Medieval. Justiça agressiva, medieval. A justiça é gongórica, muita pompa e circunstância. Togas e becas, frases bombásticas, e o tecto a cair da sala.”
As pontes sobre o Tejo, em Lisboa – “Expropriação, já, da ponte Vasco da Gama. Não é um negócio, é uma mentira. (…) Percebi ao fim de não sei quantos anos que os privados entraram com pouco mais de 20% do valor da ponte. E ficaram não só com aquela ponte como com a outra e com as travessias do Tejo.”
Resgate, qual resgate? – “Da troika prefiro nem falar. Devíamos ter tido uma intervenção externa se tivéssemos tido de facto um resgate. Mas não tivemos um resgate, tivemos uma intervenção para garantir que o Estado português continuava a pagar os empréstimos à banca. Um resgate é outra coisa. Existem resgates nas empresas, os chamados acordos de credores. Processos de reestruturação da dívida em que se isola a exploração do problema da dívida. Isto é um resgate. (…) Quando a primeira das despesas a efectuar é dívida, isto não é um resgate, é um sequestro. Não vale a pena dizermos que não vamos pagar, o que faz sentido é fazer um resgate a sério. Reestruturar a dívida.”
Gastar acima das possibilidades – “A história de que os portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades é o maior embuste. São as três maiores mentiras. Essa é uma, outra é de que não há alternativa à austeridade. E a terceira é a mania dos desvios, cada governo que vem diz que havia um desvio do governo anterior. (…) Na Administração Pública não pode haver desvios, as pessoas não têm a noção disto mas a despesa pública carece de orçamentação. (…) Dizer que há desvios é brincar com as pessoas.”
BPN e Alves dos Reis – “O caso BPN está para este regime como o caso Alves dos Reis para a I República. (…) Se houver uma investigação competente, conseguem identificar toda a gente. E confiscar os bens.”
Da censura e da intervenção social – “Acho que podemos criar uma forte censura social para dar a volta. Em Itália, durante a operação Mãos Limpas, os políticos entravam nos restaurantes e as pessoas atiravam-lhes moedas. O meu maior combate é contra o medo.”

quinta-feira, 23 de maio de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Para a agenda: a poesia de Resendes Ventura



A poesia de Resendes Ventura, pseudónimo de Manuel Medeiros, o livreiro açoriano de Setúbal, que também assinou como Manuel Pereira.
Do seu primeiro livro, Passos de viagem (Ponta Delgada, 1963), o poema "Quando chover":

Quando chover
Apanha na mão as gotas do beiral

E fica-te
Olhando o ruído abstracto
Das gotas pelo chão.

Fica-te apenas
- Não digas nada -
Encostado ao umbral
Da tua porta aberta.

Em iniciativa da UNISETI. Para a agenda.

Luis Sepúlveda e a história de um gato e de um rato



            No dia em que Max decidiu pela escolha de Mix na Sociedade Protectora dos Animais de Munique, não sabia que essa opção poderia ser a origem de um livro como esta História de um gato e de um rato que se tornaram amigos, de Luis Sepúlveda (Lisboa: Porto Editora, 2013, com ilustrações de Paulo Galindro).
            Pelo título, o leitor é de imediato levado para as aventuras no relacionamento entre um gato e um rato, questão já habitual e nada surpreendente, haja em vista a expressão idiomática portuguesa “o gato e o rato”, que tanto exprime os desentendimentos contínuos como a falta de transparência ou o jogar às escondidas conforme as conveniências, ou relembre-se o leitor dos pares já clássicos da animação formados pelo gato Tom e pelo rato Jerry ou pelo rato Speedy Gonzalez e pelo gato Benny…
            No entanto, essa é apenas a impressão que nos pode deixar o título, pois a história de Mix vai além desses estereótipos, a começar pela sua própria figura, esteticamente superior. O próprio autor encarrega-se, no texto de abertura, “Umas palavras sobre esta história”, de nos desfazer esses mitos: “Quando conheci o pequeno Mix, o gato que o meu filho, Max, adoptou na Sociedade Protectora dos Animais de Munique, fiquei admirado com a sua enorme nobreza, apesar de não ser maior do que a minha mão. Mix cresceu e com ele o meu assombro porque tinha um focinho diferente de todos os outros gatos. Tinha um perfil estilizado, grego, que chamava a atenção. Mix teve um destino estranho que seria a causa de um grande sofrimento para qualquer outro gato, mas ele manteve sempre o seu bom humor, que exteriorizava ronronando.”  
            Um gato diferente, pois, numa história que celebra essa diferença. Esta narrativa de Sepúlveda é sobretudo uma história sobre a amizade, um percurso em que as personagens – Max e Mix, primeiro, e Mix e Mex, depois – ilustram uma espécie de mandamentos da amizade, uma lista que se aproxima do “decálogo” dos “verdadeiros amigos” que impõe: 1) “entreajudam-se, ensinam-se mutuamente, partilham as vitórias e os erros”; 2) “velam pela alegria [e] pela liberdade um do outro”; 3) “compreendem as limitações do outro e ajudam-no”; 4) “partilham o silêncio”; 5) “cuidam sempre um do outro”; 6) “partilham os sonhos e as esperanças [e] também partilham as pequenas coisas que alegram a vida”; 7) “quando estão unidos, não podem ser vencidos”; 8) “ajudam-se mutuamente a superar qualquer dificuldade”; 9) “partilham o melhor que têm”; 10) “Nunca, nunca, devemos enganar os amigos”.
A interligação entre as várias personagens é de tal forma intensa que o narrador começa a história de uma forma assertiva como esta: “Poderia dizer que Mix é o gato de Max, embora também pudesse afirmar que Max é o humano de Mix”. Mais lá para a frente no desenrolar dos acontecimentos, entre Mix e Mex haverá também um espantoso cruzamento, que, no termo do livro, é assim definido: “Mix viu com os olhos do seu pequeno amigo e Mex tornou-se forte com o vigor que emanava do seu amigo grande.”
Uma história simples, em que os animais impressionam os humanos, tal como aconteceu com o limpa-chaminés que, no final, fica confuso porque lhe pareceu ver, no telhado de uma casa, “um gato de perfil grego e um rato a admirarem o pôr do sol, e o mais curioso é que o gato parecia ouvir atentamente o rato”! Uma fábula que intensifica os valores da amizade num tempo em que tais valores devem ser bem apregoados contra o ódio que vai minando as formas de viver… e que justifica a advertência feita por Sepúlveda na nota introdutória: noutras circunstâncias, o velho Mix muito teria sofrido com aquilo que a vida lhe arranjou e o final da sua história seguiria o eixo da tristeza.

Sublinhados:
Voar – “Nenhum pássaro sabe voar quando nasce, mas, quando chega o momento em que o apelo do ar é mais forte do que o medo de cair, a vida ensina-os então a abrir as asas.”
Vida – “A vida mede-se pela intensidade com que é vivida.” 

sábado, 18 de maio de 2013

Jorge Calheiros: a biografia do músico Rui Serodio



O livro que temos perante nós e que aqui nos trouxe hoje (Jorge Calheiros. “Je suis le pianiste!” – A vida e a música de Rui Serodio. Linda-a-Velha: DG Edições, 2013) valerá por muitas razões, mas sobretudo por esta: é uma prova de amizade. Assim, sem adjectivos, sem intensificadores. Uma prova de amizade em tudo aquilo que estas palavras querem dizer. Poderemos vir a gostar deste livro por muitas razões, mas continuaremos a apreciá-lo por este gesto intenso que é o de um livro falar sobre alguém e ser-lhe dedicado ou oferecido, em simultâneo. Uma prova de amizade, de irrefutável amizade, pois.
Jorge Calheiros nunca terá pensado escrever um livro. No entanto, fê-lo. E a mola que o impulsionou foi a mesma que consolidou um relacionamento de anos de convívio e de amizade. Sem outros alcances que não os do afecto e de manter a memória. Viva, claro, porque a memória é sempre uma forma viva de se estar.
Veja-se o primeiro parágrafo do “prefácio”: “Nunca fui, não sou, e provavelmente nunca serei um escritor. Mas decidi escrever um livro, o que me colocou desde logo inúmeras questões. A primeira de todas foi: como fazê-lo?” Expressas as dúvidas e as hesitações, a reflexão chega a uma certeza: “Sentado na minha varanda, com um café já meio frio, numa contínua pesquisa da inspiração, encontrei a solução: Vou escrevê-lo com o coração! E assim ficou definida a forma como escrevi este livro.”
Quanto ao título, não tem o leitor dúvidas: é uma biografia e, como tal, conta-nos a vida de alguém. Cruzando o título com o que o prefácio relata, outra certeza o leitor terá: é a vida de alguém, narrada por quem também entra na história. Esta obra vai então muito além da biografia, uma vez que é também testemunho de uma amizade vivida e, se dúvidas existissem, bastaria estarmos atentos à forma como o herói desta história é tratado – o seu nome quase sempre antecedido do determinante “o”, que revela a familiaridade do protagonista biografado com o protagonista que é também o biógrafo. Esta obra não fala apenas “de” Rui Serodio; fala sobretudo “do” Rui. Uma escrita de afecto, ainda por cima partilhada por várias mãos.
“Je suis le pianiste!” – A vida e a obra de Rui Serodio é um livro que se constrói com base numa trindade: por um lado, o relato da vida do Rui segundo uma perspectiva nada isenta de amizade, como vimos; por outro lado, os textos de Rui Serodio, uns narrativos, outros críticos, muitos autobiográficos; de outro ângulo ainda, os apontamentos testemunhais de mais de três dezenas de amigos do Rui (lista em que estou incluído). Chamei “trindade” a esta conjugação porque é impressionante o retrato que resulta no final, sobretudo do ponto de vista da conjugação de observações, da sobreposição de opiniões: não é um rol em que os convidados vão todos dizer bem; é um conjunto de experiências muito diversificadas no calendário, na duração, nas condições, nos propósitos, em que as opiniões testemunhadas se rendem perante a particularidade e a genialidade de uma figura como a de Rui Serodio, na sua bonomia, no seu saber, na sua sensibilidade, na sua postura perante a vida, na sua superioridade de homem bom, disponível e aberto. Se todas as testemunhas deste círculo tivessem combinado previamente o que iriam fazer, o retrato não sairia por certo nem tão completo, nem tão coincidente!...
A escrita de Jorge Calheiros acompanha o percurso biográfico de Rui Serodio em variadas áreas: na profissional, na artística, na familiar, sempre com o preceito da informação exacta e objectiva, eivada de histórias presenciadas, de situações de humor, frequentemente dando a palavra ao biografado, seja através da evocação de acontecimentos, seja pela reprodução de mensagens trocadas. O tom, ora narrativo ora descritivo, de precisão, permite ao leitor o convívio com Rui Serodio. E quem o conheceu facilmente o ouvirá ou o sentirá ali ao pé, com o seu humor e simplicidade desarmantes, como nesta situação: “Muita gente tratava Rui Serodio por maestro, ao que ele normalmente respondia: Eu não sou maestro! (…) Um dia comentou: Não sei por que raio as pessoas me chamam maestro! Talvez seja do cabelo e barba branca, que dão assim um ar distinto…
Ao longo das quase 130 páginas de discurso biográfico, fica o leitor perante uma história completa, com certezas e emoções, acompanhando as inconstâncias e as paixões de uma vida. O relato é de tal  forma vivo e dinâmico que, por vezes, se tem a ilusão de que se está a ler (ou a ouvir) uma conversa entre Rui Serodio e Jorge Calheiros, um género de tertúlia em que se vai contando uma vida, repondo histórias.
No grupo de textos de Rui Serodio impressiona o ritmo da escrita, ficando o leitor com a sensação de que, muitas vezes, se oscila entre um trecho musical, a cena de um filme ou o próprio texto escrito, tal é o poder descritivo e narrativo, tal é o empenho que o narrador empresta ao discurso. O primeiro texto, uma magnífica evocação da mãe, intitulado “Berta”, assenta na perspectiva autobiográfica, aliando coisas aparentemente inconciliáveis – a história de um certo desprendimento entre pessoas que se admiram e amam, a amargura pelo que não se partilhou e a confidência com a memória, tudo rematado com uma homenagem salutar e revitalizante: “Conservei muito do que ela me transmitiu: a resignação, a reserva comedida das atitudes, o respeito pelos outros, o silêncio em vez do espavento, o convencimento de que, se existimos, é para cumprirmos uma missão que nos foi destinada, sem pedir nada em troca. E, se nascemos com um dom especial, não nos devemos vangloriar disso, mas sim cultivá-lo e partilhá-lo com quem o queira apreciar. E agradecer a Deus por nos ter concedido o privilégio da diferença. E nunca – mas nunca – querer parecer ou ser o que se não é.” Este parágrafo é muito mais do que uma lembrança: é uma herança que se reconhece, é um testemunho, um acto de amor e um testamento. Que belo conjunto de ensinamentos para se poder estar num mundo melhor!
Por estes textos passam as imagens da(s) mulher(es) da sua vida, retratos de Setúbal, a valorização do autor e do respeito pela criação artística, as pequenas epopeias de uma vida, o humor sobre si próprio, a pedagogia pela música, a prática auto-reflexiva, o registo de pequenos momentos de prazer que a vida vai segredando e até um texto para memória futura – umas quase memórias póstumas – teatralmente intitulado “A cerimónia de encerramento”. Tão importantes como as suas composições musicais, estes textos de Rui Serodio captam o essencial das coisas, bem tecidos, certeiros, delicados, tendo sempre a acompanhá-los um narrador experimentado e em estado de bem com a vida.
Quanto aos testemunhos dos amigos, a sua leitura complementa os anteriores, pois impressiona ver como, sendo oriundos de diversas longitudes de convivência ou de variadas latitudes de geografia, todos se rendem a essa figura ímpar que foi o Rui Serodio. Fica a sensação de que não se está perante a homenagem forçada e conveniente, antes se caminha na estrada da sinceridade e na linha da descoberta e da aprendizagem que foi ter encontrado esta personagem em dado momento do percurso. Esta perspectiva é tanto mais aliciante quanto alguns dos que testemunham nem sequer conheceram o Rui pessoalmente, mas só através da comunicação virtual e, claro, com a música como mediadora, como ponte, que é como quem diz com a sensibilidade do Rui.
Fecha o livro o “epílogo”, assinado pelo autor desta obra, escrito sob a forma de carta, dirigida pelo biógrafo ao biografado. É a satisfação pelo cumprimento de um dever – o da amizade, o da preservação da memória. É o prazer por este bocado de tempo, em mais de trezentas páginas, ter permitido a recordação de muitos momentos de aproximação. É o assumir da emoção como um dos motores e uma das condicionantes desta obra. É o confronto com a insuficiência em que a palavra se torna quando o que está em causa é a amizade. É a manifestação da impossibilidade de voltar a viver tudo de novo: “Tentei contar a tua história. Mas nunca, mesmo nunca, os versos da Manuela de Freitas significaram tanto como neste momento. Na verdade… eu só sei contar a história / da falta que tu me fazes.”
Como leitor que fui desta obra quando ela estava já em gestação adiantada e como amigo que também tive a sorte de ser do Rui, termino com a expressão que Ana Carvalho relembra ser usada pelo Rui de cada vez que acontecia um ensaio do grupo “Afina Setúbal”: “hoje fez-se magia”! E devemos agradecer isso ao Jorge Calheiros e ao Rui Serodio!

[Na apresentação do livro, ontem, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal.]

OBS 1: O projecto levado a cabo por Jorge Calheiros inclui, além da edição da biografia, a edição de 5 cd's com as composições musicais inéditas de Rui Serodio. Além de poderem ser adquiridos em livraria, estes materiais estão também disponíveis em http://www.m-oceans.com/

OBS 2: Documento videográfico desta sessão de apresentação, assinado por Simões da Silva, pode ser visto aqui.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Para a agenda: Nos 200 anos de Wagner



Um final de tarde com Wagner, Beethoven, Brahms, Falla e Massenet. Em Setúbal, no Club Setubalense. Com Miguel Sousa (piano), Eurico Cardoso (violino) e Luís Henriques (musicólogo). Para celebrar os 200 anos de Richard Wagner (que passam em 22 de Maio). Para a agenda!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

As bibliotecas, segundo Valter Hugo Mãe


No JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias de ontem (nº 1112, pg. 34), um belo texto de Valter Hugo Mãe sobre as bibliotecas. A ler.

A batalha do 9 de Abril de 1918 vista por Ferreira do Amaral



A batalha do Lys, conhecido feito militar em que os portugueses participaram em Abril de 1918, no decurso da Primeira Grande Guerra, quando estavam em campanha na Flandres, nem sempre reuniu o consenso na interpretação, sobretudo dentro de Portugal. Prova disso é a obra de João Maria Ferreira do Amaral (1876-1931) intitulada A batalha do Lys, a batalha de Armentières ou o 9 de Abril (Lisboa: Tipografia do Comércio, 1923), escrita quando o autor estava em Benguela, por 1920, inicialmente publicada “em folhetim no Jornal de Benguela”, depois em separata de um milhar de exemplares pelo mesmo periódico e, posteriormente, em volume autónomo, em Lisboa.
As razões para tal publicação, surgida no jornal logo dois anos depois do acontecimento da La Lys (e em livro cinco anos depois), refere-as o autor em “Explicação prévia”: “nunca será demais marcar factos que tão deturpados têm sido pela confusão política, que sobre tudo o que respeito diz à nossa participação na Guerra, se tem dito e escrito”. Assim, pisando um caminho em que é dada a voz justamente ao homem que coordenou o ataque à frente portuguesa, o general Erik Ludendorff (1865-1937, através da sua obra Souvenirs de guerre, de 1920), e ao general Gomes da Costa (1863-1929), que estivera nas funções de comando do Corpo Expedicionário Português na Flandres (através do seu escrito Batalha do Lys), Ferreira do Amaral insiste nas preocupações que o orientaram: elaborar “um vulgaríssimo trabalho de compilação e sobretudo um relato de pessoas, lugares, factos e datas, que a actual geração portuguesa não pode nem deve ignorar” e “apresentar os factos sem paixão, colocando-me tanto quanto possível como árbitro”. Assinalar essa ausência de paixão esbarra com o percurso do próprio autor, que esteve na Flandres e que, num outro livro, A mentira da Flandres e… o medo! (Lisboa: Editores J. Rodrigues & Cª, 1922), redigiu curta nota biográfica logo na página de rosto, dizendo que, enquanto esteve em França, “nunca quis vir de licença a Portugal” e que “marchou para França sem lhe competir por escala ou por escolha, mas simplesmente coagido por motivos de ordem pessoal e razões de ordem puramente militar”… No entanto, Ferreira do Amaral mostra-se coerente, pois não fala da ausência de paixão sem reconhecer também que desempenhará o papel de árbitro “tanto quanto possível”.
A primeira frase da sua monografia retoma o que vem da “explicação”: “Como é do conhecimento de todos, ninguém em Portugal chegou até hoje a ter uma noção aproximada do que foi o 9 de Abril”. Mas não é apenas esta ignorância que preocupa o autor, porque, umas linhas adiante, a acusação tem destinatário: “Toda a política do meu país, dos últimos seis anos, caiu [itálico do autor] sobre os soldados de Portugal, que na Flandres receberam um dos muitos e vários ataques com que os alemães procuraram vencer os aliados”. Uns parágrafos depois, o humor e a ironia de Ferreira do Amaral não perdoam as diferentes interpretações atribuídas aos democráticos e aos sidonistas, uns e outros culpando-se quanto à responsabilidade do que se passou na Flandres: por um lado, esqueceram-se ambas as ideologias “de que o general alemão Ludendorff não consultou nenhum dos partidos políticos de Portugal para tomar a deliberação de forçar o caminho de Calais nesse dia”; por outro lado, “ambos os adversários chamam desastre ao que se passou nesse dia com os portugueses, que procuraram evitar o avanço alemão até onde o seu máximo esforço o permitia”, sendo “caso para notar uma falta que ambos os partidos cometeram para se poderem acusar mutuamente – foi a de não terem enviado a tempo delegados especiais para assistirem ao desastre!”
Depois de acompanhar as leituras apresentadas por Ludendorff e Gomes da Costa, Ferreira do Amaral tenta desfazer os equívocos, apresentando os acontecimentos do 9 de Abril de 1918 como um episódio de um projecto mais vasto, ligado à estratégia militar e bélica germânica, de uma ofensiva que se iniciara em 21 de Março e teve conclusão em 18 de Julho (quando os franceses passaram a “muralha” dos alemães, assim se iniciando uma ofensiva dos aliados): “Não se julgue que o 9 de Abril se resumiu a um ataque isolado contra os portugueses, que estavam nesse dia a defender 12 quilómetros de frente. Até 25 de Abril, houve todos os dias… um 9 de Abril para ingleses e franceses, isto é, a batalha começou em 9 de Abril e acabou em 25 de Abril. (…) A anterior batalha [de Amiens] começara a 21 de Março e terminara a 4 de Abril. À batalha começada a 21 de Março chamaram os alemães a batalha da França. À que começou em 9 de Abril chamaram aliados e alemães a batalha de Armentières. Nós tomámos parte em um dia dessa batalha, o começo, e o general Gomes da Costa chama-lhe a batalha do Lys reservando assim um justo título para o nosso esforço entre os aliados, pois que nós não defendíamos Armentières, mas sim parte da bacia da ribeira de La Lys.” Se ainda assim se mantivessem os detractores da coragem portuguesa, Ferreira do Amaral deixava a lembrança: “de 18 de Julho em diante, tivera Ludendorff muitos 9 de Abril, tal qual ingleses e franceses os tiveram de 21 de Março até essa data”. E, para que dúvidas não restassem, uma citação do amigo e camarada Gomes da Costa enaltecia a participação lusa: “a 2ª Divisão Portuguesa com os seus 7500 homens perdidos, dos quais 327 oficiais, demonstrou à evidência que se bateu com bravura e com honra e que, se mais não fez, foi porque era humanamente impossível”.
O plano alemão de, através desta ofensiva, conseguir chegar a Calais e assim dominar o Norte de França não começou favoravelmente para os seus autores e, em Julho, teria o seu termo. Pelo caminho, muitos momentos semelhantes aos do sofrimento e luta dos portugueses ficaram: “que a ninguém fiquem dúvidas sobre o destino que uma divisão francesa, inglesa ou americana teria no dia 9 de Abril se estivesse onde esteve a 2ª Divisão Portuguesa – quem lá estivesse seria esmagado, atropelado e… varrido.”
Para atestar o feito português, o autor não hesita em convocar excertos de reconhecidíssimos órgãos de informação (Reuter, Times, Daily Mail, Matin) que foram elogiosos na classificação da atitude lusa. Mas o humor de Ferreira do Amaral avança, questionando os maldizentes: “Que situação resta agora aos mortos, feridos e sobreviventes da batalha do Lys?” A resposta é longa, sugerindo que talvez todos tenham de “pedir desculpa ao cidadão português”, uns porque não resistiram “à caqueirada de ferro”, outros por “não lhes ter sido possível morrer” e outros “por não terem fugido logo de manhã”…
O próprio comandante do CEP, o general Tamagnini de Abreu (1856-1924), não é poupado, sendo invectivado de forma contundente: “O que diz do 9 de Abril o general português Tamagnini de Abreu, comandante do CEP? Até agora não disse nada nem dirá nunca, porque as maçadas estão proibidas”. E os políticos também não escapam a acusações e ironias: “Ludendorff nesse dia atacou os soldados de Portugal que encontrou pela frente e deixou em paz todos os nossos políticos”.
É, pois, sugerido ao leitor que aqueles que foram heróis estão isolados e desprezados, mesmo quando o valor lhes é reconhecido por alguns. No entanto, este livro quer repudiar essa ideia transmitida pela depreciação e conclui com uma lição sobre o mérito, depois de mais um libelo contra quem desprestigia uma condecoração como a Cruz de Guerra Portuguesa, contra os comentários depreciativos movidos pela inveja e pela mesquinhez: “em qualquer dos países que se bateu nesta guerra, vencido ou vencedor, [o soldado português] sentiria que era duas vezes cidadão: primeiro porque tinha uma bandeira que representava para todos (…) um símbolo de tradições honrosas (…); segundo, porque os seus compatriotas se sentiram honrados por Eles e pelo Seu Esforço Particular e Pessoal no campo aberto aos maiores sacrifícios”.
Em pouco mais de sessenta páginas, Ferreira do Amaral pretendeu chamar a atenção para o estado do CEP, para as dificuldades que lhe tinham sido criadas e para a singularidade do combatente português. Foi uma maneira de dar azo a que a verdade saltasse e a que a história fosse reconstruída.
[Esta obra está disponível no formato e-book]

terça-feira, 14 de maio de 2013

Para a agenda: a biografia e a música de Rui Serodio



17 de Maio seria o dia de aniversário de Rui Serodio, músico que viveu em Setúbal os últimos anos da sua vida, aqui tendo participado em múltiplos e valiosos projectos culturais. Nesse mesmo dia, pelas 21h30, é apresentada a sua biografia, volume de 300 páginas que comporta também um conjunto de textos do biografado e variados testemunhos. A cerimónia segue com a apresentação de cinco cd's, que reúnem toda a obra que Rui Serodio deixou por gravar. Por iniciativa de Jorge Calheiros, autor do livro e coordenador da antologia musical. No Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal.
Um projecto forte e intenso. Um projecto de amizade. Um projecto de memória. Para a agenda!

Para a agenda: a mais recente poesia de Helder Moura Pereira



A Casa da Cultura recebe, em 17 de Maio, a mais recente obra de Helder Moura Pereira, setubalense, um dos grandes poetas portugueses. Pela parte que me toca é trazido pela mão de Fernando J. B. Martinho, outra referência no mundo do ensaísmo. Para a agenda. 

Para a agenda: Dia dos Museus em Setúbal, no Museu do Trabalho, na Casa Bocage e no Museu Sebastião da Gama



O Dia dos Museus em três espaços museológicos de Setúbal: no Museu do Trabalho Michel Giacometti e na Casa Bocage, ambos em Setúbal, e no Museu Sebastião da Gama, em Azeitão. A diversidade de propostas. Para a agenda.

Para a agenda: Dia Internacional dos Museus no MAEDS



O Dia Internacional dos Museus no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, com inauguração de duas exposições de fotografia: "Entre marés", fotografia da natureza por José A. Costa; "Terra verde", fotografia de Rosa Nunes. Para a agenda.

Para a agenda - Festa das Cruzes, em Alvarães


A Festa das Cruzes, em Alvarães, já é da tradição. Uma pequena apresentação pode ser lida aqui. É já no próximo fim de semana. Para a agenda!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Para a agenda - "DiVersos", nº 18





Com a presença de três dos poetas incluídos (José Manuel Teixeira da Silva, Luciano Moreira e Teresa Ferro), naturais do  Porto ou fixados na região, e dois dos tradutores (José Carlos Marques e Teresa Ferro), também aqui fixados, será apresentada a série DiVersos - Poesia e Tradução, a propósito da publicação do seu n.º 18. Na sexta-feira, 17 de maio, às 18:15, no Porto, no Palacete Viscondes de Balsemão, à praça Carlos Alberto n.º 71.
Fundada em 1996 por quatro poetas e/ou tradutores naturais do Porto ou ao Porto ligados, a DiVersos é já hoje em Portugal uma das publicações de poesia mais longevas. A sua ligação ao Porto em nada impede que seja também decididamente universal, tendo até hoje traduzido mais de 130 poetas de 16 línguas diferentes e inserido poemas em língua portuguesa de mais de 130 autores, incluindo numerosos poetas do Brasil, e alguns de outros países de língua oficial portuguesa ou a eles ligados (Angola, São Tomé, Moçambique).
Obviamente… para a agenda!


Alexandrina Pereira: a Arrábida em forma de poema




Quando Alexandrina Pereira escolheu a Arrábida como objecto do seu amor, do seu poema (Arrábida, meu amor, meu poema. Setúbal: ed. Autor, 2013), abriu as portas para um passeio de mãos dadas com a serra, enveredando por ecos que nos chegam de poemas já ouvidos, já cantados, todos eles celebrantes da maravilha com que a serra se apresenta.
Vai o leitor contemplando este poema em que a serra está vestida de flores e as sensações visuais acumulam-se num espraiar de versos, ao mesmo tempo que as emoções respiram a tradição literária em torno da Arrábida.
Ponto em que o vento “sibila segredos” ou onde “a Primavera é infinita”, ao poeta (ou ao leitor) resta o pasmo perante a maravilha que sucede à maravilha (como algures registou Sebastião da Gama), em frente de um universo de beleza tornada espanto e admiração.
No meio de todo este silêncio sugerido, distingue-se o rumor que nos chega de Frei Agostinho, mas também o cântico emergente da tela de palavras com que Sebastião aureolou a Arrábida, não só por a ter elevado ao estatuto de mãe, que é como quem diz fonte da vida, mas também porque a conheceu como ninguém e partilhou os segredos que ela própria lhe revelou. Um deles é esta possibilidade de a Arrábida ser poesia, de ser corpo vivo que nos enleva e se nos mostra, assim cada um queira ser seu confidente. Alexandrina Pereira foi por esse caminho…
E, neste tempo em que passam 60 anos sobre a ida de Sebastião da Gama para o infinito das estrelas e da memória e em que se fala da Arrábida como esperança de vir a ser um elemento integrante do património mundial (que já o é, de facto), é pertinente lembrar o tom de felicidade que jorra da sempre doce Arrábida.
Arrábida, meu amor, meu poema. Arrábida, razão de ser e de cantar. Arrábida, feliz Arrábida!
[Nota prefacial ao livro, que foi apresentado publicamente
em 27 de Abril, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal.]

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Para a agenda - Festival de Música de Setúbal 2013



Quatro dias para partilhar um mundo de sons. Em Setúbal, o Festival de Música. O programa pode ser visto aqui. Para a agenda!

sábado, 4 de maio de 2013

Máximas em mínimas (97) - João Tordo


Depois de ler O bom inverno (Dom Quixote, 2010), de João Tordo, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem em que aparecem no livro.

Cronologia – “Existem, na verdade, razões para explicar como as coisas [acontecem] e, se existem razões, é possível ordená-las numa cronologia. Porém, tal como no funcionamento do universo, o todo raramente corresponde à soma das partes.”
Desgraça – “Talvez, no fundo, toda a gente leve a desgraça no rosto. (…) Alguns de nós andam por aí com as marcas da sua finitude à mostra e outros, embora pareçam não as ter, estão tão condenados como os primeiros.”
Destino – “Pergunto-me muitas vezes como é possível que o destino nos pareça um conceito plausível quando este mundo é uma panóplia de erros que conduzem aos piores horrores. Usamos o destino como álibi, crendo, ingénuos, que as coisas acontecem de certa maneira porque não poderiam acontecer de outra; essa crença, tão válida como a crença em Deus ou na imortalidade da alma, tem consequências terríveis para o espírito que, mais cedo ou mais tarde, se vê corrompido pela dúvida que tem origem na impossibilidade de sabermos, com qualquer grau de certeza, se as nossas decisões nos trarão paz ou, pelo contrário, irão acordar as bestas do Inferno; se, doravante, teremos de caminhar pelo mundo com a cabeça voltada ao contrário como um contrapasso de Dante.”
Dor – “Mesmo imaginada, uma dor continua a ser uma dor; está lá quando nos deitamos à noite, está lá antes do pequeno-almoço.”
Existir – “Se não estivermos muito preocupados com a existência, tendemos a ser mais racionais. Ou menos sujeitos aos nossos impulsos. A vida torna-se menos dolorosa.”
Imundície – “Há sempre quem compre coisas imundas, embora não haja sempre quem compre coisas belas.”
Inveja – “Não existe pior mistura de sentimentos neste mundo do que o ciúme, a inveja e a admiração; é uma trindade tão perigosa que pode levar um homem a ascender ao Céu ou a lançar-se de um penhasco até ao mais profundo dos Infernos.”
Medo – “O medo transforma-nos, faz de nós presas fáceis, mergulha-nos num torpor pesado e ruminante.”
Palavra – “As palavras têm o seu poder sobre as pessoas. Se forem as palavras certas, podem mover montanhas. Ou transformar a água em vinho.”
Saber – “Não é possível saber tudo. Existem certos momentos que, se não os vivermos, são impossíveis de resgatar através de outros.”
Sarilhos – “Há um limite para a quantidade de sarilhos em que uma pessoa se pode meter.”
Solidão – “A ausência, a solidão e o esquecimento [são] coisas terríveis, tão terríveis como a mutilação ou a morte de um filho, tão terríveis como um velho amigo ao qual nunca mais ouviremos a voz nem conheceremos o cheiro nem saberemos a cor dos olhos, tão terríveis que, mesmo nos livros, até nos romances mais pessimistas, não devemos chamar por elas, não devemos enaltecê-las ou tentar transformá-las em beleza.”
Surpresa – “A última coisa que uma besta espera é que a presa se meta no seu covil.”

Verdade – “A verdade é uma miragem tragicamente limitada pela condição humana. Ainda assim, a verdade é tentada vezes sem conta.”

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Memória: Álvaro Félix (1951-2013)




Creio que só falei uma vez com Álvaro Félix, em data que não sei precisar. Diverti-me com as suas crónicas humorísticas sobre a vida de Setúbal, aplaudi-o no teatro, espantei-me perante a semelhança quando “fez” a estátua de Bocage, emocionou-me na última representação que lhe vi, no Forum, na peça sobre Luísa Todi. Um senhor do teatro. Uma voz inconformada. Uma figura inconfundível.
A notícia do falecimento chegou ontem. Setúbal fica mais pobre. A cultura também. Nós também. Fica a memória. E vários registos: como este, em viva voz, no programa "Arestas de Vento", de Ricardo Cardoso, ou este, em letra, n'O Setubalense, de 5 de Setembro de 2011, num retrato assinado por Vera Gomes.
[Foto: Álvaro Félix e Bocage, em 15 de Setembro de 2005, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, ao lado do quadro dos notáveis sadinos]

Para a agenda - A biografia de Rui Serodio



17 de Maio seria o dia de aniversário de Rui Serodio e vai ser a ocasião para apresentação da sua biografia e da sua obra musical. Responsável pelo projecto - da biografia e da discografia - é Jorge Calheiros, que em toda esta obra deixa passar a força da amizade. A não perder. Para a agenda!

Para a agenda - I Festival Ibérico do Vinho, em Setúbal




Procurar o consenso


O consenso entre as várias forças políticas presentes no Parlamento já há muito que é desejado pelos cidadãos relativamente a questões estruturantes do país. Porque a prática política tem sido estúpida ao pensar que cada um que chega ao governo acaba de descobrir a pólvora e nada se tem interessado por encontrar consenso em torno de questões que vão para além de uma legislatura ou até de duas. No entanto, os partidos nunca quiseram saber disso para nada. Lamentavelmente...
Agora, a palavra da moda é "consenso". Apenas um problema: é que os políticos ainda não chegaram a um consenso sobre o que seja o consenso. Depois de este ponto estar resolvido, talvez se possam começar a desenhar consensos. Não creio é que seja com os políticos que temos. Lamentavelmente para nós!