Perguntei-lhe pela neta, nascida há meses, e lá me disse que ia estando bem, que se ia afeiçoando ao mundo, que os pais estavam muito contentes, mas que não iriam para o segundo filho e, assim, não havia esperanças de ter também um neto. “A vida está difícil, cada vez mais difícil…Sabe que eu e o meu marido já nem vemos televisão quando é tempo de notícias?”
Fartaram-se de ver e de ouvir notícias, vozes, opiniões alarmistas, duras, rígidas, pairando pouca verdade. “Nada sabemos ao certo, parece que ninguém quer dizer o que realmente interessa, só se desmentem e nada corresponde ao que sentimos todos os dias”, explicou. “Não vê o que se passou com os medicamentos? Numa semana, iam descer não sei quanto e, na semana seguinte, já se dizia que as comparticipações iam acabar e iam ficar mais caros a quem deles precisar… Mal de quem precisa, não é? Dantes, as notícias eram um chorrilho de calamidades, de desastres, de azares… agora, é só economia, dinheiro, intriga e nós a termos cada vez menos… Deixámos mesmo de ver notícias… Não acreditamos…”
Há quem meta a cabeça na areia, há quem se revolte e manifeste essa revolta de forma visível, há quem se revolte e se remeta ao silêncio. Não será ainda desespero o sinal máximo, não. Mas é a desesperança que nos está a invadir, qual onda de areia que tudo vai secando e impedindo que o olhar sorria para o futuro.
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