terça-feira, 29 de junho de 2010
Rostos (144) - Nos 110 anos de Saint-Exupéry
Previsões (fáceis) do jogo de hoje
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Maria do Carmo Vieira, "O Ensino do Português"
sábado, 26 de junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Patrulheiros - já ouviu falar deles?
A goleada
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Memória: José Saramago (1922-2010)
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Entre o copianço e a ética
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Exames: Três em cada quatro alunos copiam na universidade
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Vasco Graça Moura e a língua de Camões
Mas o que parece preocupante é o facto de cada vez menos haver em Portugal qualquer espécie de interesse por Camões e por aquilo que ele representa. O nome do autor de Os Lusíadas tende a ser apenas a marca distintiva de um feriado, ambíguo luxo nos tempos que correm, e pouco mais.
As questões da identidade começam por estar relacionadas com a língua materna e esta deve a Camões a sua dimensão moderna. Mas estão à vista as consequências que, para a identidade, decorrem do actual estado de coisas: a língua materna está cada vez mais deteriorada, tornou-se uma espécie de caixote do lixo onde cabem todos os dejectos e, tal como é utilizada e falada, um dia destes mal conseguirá distinguir-se de um mero conjunto de grunhidos comunicacionais.
Nem sabemos pronunciá-la, nem sabemos escrevê-la ou falá-la com um mínimo de correcção. E nem vale a pena falar da situação catastrófica que virá a ser gerada pelo Acordo Ortográfico se este algum dia se aplicar (para já, não está em vigor: o que acontece é que se começa a macaquear nalgumas publicações uma forma aberrante de grafar a língua).
A escola pouco ou nada tem feito para melhorar a situação. Pelo contrário: durante anos e anos, degradada por teorias pedagógicas e linguísticas absurdas, permissiva e frouxa de saberes, autoridade e disciplina, a escola tratou de substituir o trato com os grandes testemunhos da língua, indispensável para ela ser bem falada e bem escrita, por relatórios, bulas de medicamentos e outras coisas assim.
Vivemos numa época de apoucamento da língua, de empobrecimento do vocabulário, de aviltamento de todas as regras de gramática. É também um tempo em que toda a gama de valores que ela transporta consigo (intelectuais, cognitivos, estéticos, expressivos, afectivos...) deixou de contar. Vêmo-la subordinar-se servilmente ao facilitismo e à tecnologia, quando devia contribuir para uma estabilização dos seus paradigmas próprios, procurando equilíbrios permanentes com as tendências que são sinal dos tempos.
É por essas e por outras que os resultados escolares do nosso país, no confronto com as tabelas internacionais, costumam ficar no último lugar de todas as escalas. E em consequência a deficientíssima formação proporcionada por uma escolaridade leviana reflecte-se no geral atraso do país e na sua trágica incapacidade para fazer face aos problemas que tem de enfrentar.
Camões não podia imaginar que a geral incapacidade de aprender e falar correctamente a língua portuguesa explica em grande parte, tanto o insucesso escolar em todas as disciplinas como as restantes maleitas crónicas que nos afectam tão gravemente e não foram erradicadas pela generalização e democratização do ensino. Como explica a terrível ignorância com que os jovens concluem os seus cursos secundários e entram nos cursos superiores. E permite ainda compreender por que razão somos um país que não consegue sair da cepa torta.
Na comunicação intergeracional, também já parece não ocorrer aquela transmissão de um conjunto de princípios, de saberes e de tradições, entre eles os relativos à língua materna, que são elementos integradores da chamada cultura geral e de uma imprescindível visão do mundo transportada e transmitida ao longo do tempo.
Nada disto é novo. Há anos e anos que se discute o que se passa e não se consegue instaurar um conjunto de medidas, a começar pelos programas, que possam reputar-se de eficazes.
Basta trocar umas palavras com qualquer professor universitário para se ver que é assim e que não se sabe de que remédios lançar mão. A doença é muito funda e prolifera desreguladamente. Contribuiu para nos lançar na crise e, o que é pior, não abre perspectivas optimistas para sairmos dela.
O poeta dizia não lhe faltar na vida honesto estudo com uma longa experiência misturado. Hoje, muito poucos podem repetir esta afirmação em causa própria.
A língua de Camões está irreconhecível. Se ele voltasse ao mundo, decerto pensaria em rasgar a sua obra. Deixámos de ser dignos dela.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Memória: António Manuel Couto Viana (1923-2010)
terça-feira, 8 de junho de 2010
Do Jogo ao Texto - Quando os alunos se encontram com a literatura
domingo, 6 de junho de 2010
Apresentação do cd "Sebastião da Gama - Meu caminho é por mim fora"
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Memória: João Aguiar (1943-2010)
terça-feira, 1 de junho de 2010
José de Almeida - O golfinho chamado Fábula
“Estava um dia o Juca na sala, a ver televisão, e os seus olhos começaram a fazer pisca-pisca. Era sábado e ele estava há quatro horas a olhar para os desenhos animados. Tão cansado estava que não resistiu ao sono que insistia em enroscar-se em volta dele. Até que adormeceu a sério. Logo que adormeceu, começou a sonhar… Um sonho lindo a cores!” Esta é uma forma perifrástica de dizer o clássico “era uma vez”, vocacionado para levar o ouvinte – neste caso, o leitor – para o reino da imaginação, acompanhando o sonho do Juca.
É o início da história infantil Fábula – O pequeno golfinho roaz, de José de Almeida (Setúbal: ed. Autor, 2010), obra que contém ilustrações feitas por Marta Tomé, jovem leitora da narrativa, e que foi apresentada publicamente no Dia Mundial da Criança com Cancro.
O conto acompanha Juca, numa viagem pelo mar, em busca do golfinho roaz chamado Fábula, personagem irrequieta, habilidosa e brincalhona. Nesta demanda, Juca sai de barco, a bordo da traineira “Milú”, na companhia de pescadores como o Mestre Afonso, o Zé Navalhas ou o Baltasar, para, depois, mergulhar e encontrar amigos como a Dona Sapateira, a Dona Alforreca, o Senhor Carapau ou a Dona Lula, que lhe vão falando do mar e do feitio de Fábula.
Num espaço limitado pelo Cabo Espichel, ponto em que um golfinho começa a seguir o barco, e pela Caldeira, parque de diversão onde Fábula comete as suas acrobacias, o mar vai-se revelando a Juca, que também vai observando aquilo que ao oceano vai tirando beleza, vivendo a descrição também com objectivos pedagógicos – “Enquanto nadava, o menino reparou numa coisa horrível. O fundo do mar estava um nojo com tanto lixo que tinha. Eram latas, garrafas de vidro, ferros ferrugentos, sapatos velhos, eu sei lá que mais. Como se pode preservar o mundo marinho com estes comportamentos? Quem teria atirado aqueles objectos para o fundo do mar? Esta colónia de golfinhos-roazes não merece e tem de ser defendida por todas as crianças e adultos…”
O desejo impossível de Juca é ter o Fábula dentro de um vasto tanque de vidro para que as crianças o possam ver brincar, algo que aflige o golfinho, mas que Juca contorna – depois de uma temporada, serão os meninos quem virá brincar para junto da colónia de roazes, assim aprendendo a conhecer o mundo da Natureza. E, quando o acordo estava prestes a ser celebrado, eis que… como acontece nos sonhos das felicidades de cada um, Juca é acordado pela mãe, que o encontra deitado no sofá, adormecido. Fica-lhe a aprendizagem da beleza dos roazes do Sado e o sorriso sobre o espectáculo que quase lhe foi dado viver…
A linguagem acessível, o recurso à personificação, as ilustrações com traço infantil e a estrutura simples da história bem fazem deste texto de José de Almeida um sonho afável, que abre as portas para o convívio com a Natureza e com o mundo que nos rodeia.