Em Espanha, tem andado em discussão a violência cometida por alguns encarregados de educação sobre professores, sobretudo agora que foi conhecida a decisão da justiça relativamente a uma mãe que, em 2008, em Barcelona, agrediu física e verbalmente a professora da sua filha. Conclusão: dois anos de prisão (que não vai cumprir por não ter antecedentes criminais), uma indemnização à vítima de 8840 euros, uma multa e a proibição de se aproximar a menos de 1000 metros da ofendida. Esta decisão surgiu porque as agressões praticadas foram consideradas atentado à autoridade, coisa que por cá também se tem discutido.
Esta história das agressões a professores e a pessoal da saúde têm razões sociológicas, é certo, baseadas nos direitos do indivíduo que, levados ao limite, questionam as especializações, logo a autoridade. Mas há também o pormenor de cada um reagir às situações das maneiras mais diversas, sendo a violência uma delas. E aí, como escrevia José R. Ubieto, na crónica “Autoridad perdida”, publicada na edição do jornal La Vanguardia (Barcelona: 10.Abril.2010), cabe pensar que se cada um pode reagir como quiser também deve saber que cada um é responsável por essa decisão “y por lo tanto debe responder ante la sociedad y la justicia, si es preciso”.
Já no mesmo jornal, no dia anterior, Francesc-Marc Álvaro assinava o artigo “Pegar al profe sale caro”, título que funciona como advertência e como reflexão. Se, num dado momento, o articulista considera que esta condenação pode significar um avanço positivo “por lo que tiene de serio aviso a los energúmenos que consideran que el maestro o el médico es una suerte de esclavo al que pueden tratar a patadas”, a sua conclusão é mais pessimista, uma vez que a ocorrência destas situações se deve a um “tremendo fracaso social, de una gravedad comparable a los casos de corrupción política que dominan las portadas”. Isto é: para Álvaro, o recurso ao estatuto de “autoridade pública” é também “la certificación de una impotencia y de un naufragio colectivo cuyos efectos sobre el correcto funcionamiento de instituciones clave de la sociedad son devastadores”. E aqui o autor não esconde que, se a escola tem problemas, também é vítima de outros problemas pelos quais não é responsável, remetendo muitas das questões para a família, para aqueles que são “los primeros agentes educativos: los padres”. Álvaro chega mesmo a propor uma catarse, que poderia chegar através de um livro a escrever-se, intitulado La família contra la escuela, verdadeiro confronto para que se percebam muitas atitudes. E este desafio leva o autor a justificar o título da crónica: “Pegar al profe sale caro y es bueno que se sepa. Pero así no curamos la enfermedad social, solo mitigamos uno de sus síntomas molestos.”
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