"Bons professores e regras morais contra a sociedade liquefeita" é o título de crónica que pode ser lida no "Jornal i", assinada pelo sociólogo Francesco Alberoni, análise que parte de um retrato que é global, que também sentimos em Portugal. Deixo excerto, mas pode ser lido na íntegra aqui:
«(...) Há 50 anos, do encontro entre Dewey, a psicanálise e o vulgar marxismo, nasceu uma pedagogia segundo a qual não devem impor-se regras, mas apenas dar indicações. As crianças não devem decorar a tabuada, poemas, nomes das terras, datas da história, não devem estudar gramática nem análise lógica. Também não devem aceitar a autoridade dos pais e dos professores. Esses pedagogos achavam que, se o indivíduo fosse mais livre para criar, o florescimento cultural seria assombroso. Pelo contrário, gerou-se um vazio que foi preenchido pela cultura mediática.
As crianças não sabem poemas mas conhecem canções, não seguem os mandamentos morais, mas sim "o que dizem os colegas", não conhecem os clássicos, mas sabe o que dizem as personagens televisivas. Na verdade, a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças teve como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas e privilegiar aqueles que podiam ir para a universidade e para escolas de excelência com professores respeitados e programas rigorosos. É por essa razão que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola mais séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais respeitados. Mas também começam a perceber que é essencial que existam normas morais básicas interiorizadas, aprendidas até ao fim da infância.(...)»
Alberoni não exagera. No entanto, a escola é um elo frágil contra todo este princípio do facilitismo que nos inundou. E a situação piora um pouco quando lida com pais que, eles próprios, já foram formados nessa onda. Depois, é o apoio ao enfraquecimento do saber, minimizando e desprezando mesmo o caso em que uma professora disse aos alunos para memorizarem um poema ou indagando o porquê de a professora ter mandado os jovens ler um livro por período lectivo...
Recordo-me de, há uns anos, uma mãe ter ido conversar com o professor de Português do seu filho, jovem no 11º ano, para lhe dizer que Os Maias era um livro tão grande, tão grande e lhe perguntar se não haveria outro mais pequeno para o rapaz ler... acabando por confessar que, apesar de tudo, o seu filho ficaria a conhecer o romance de Eça porque, todas as noites, quando se ia deitar, a mãe lhe lia um bocadinho d'Os Maias até o jovem adormecer...
Seria uma interessante anedota esta história se não tivesse a marca de ter sido verdadeira! As consequências destas prodigiosas práticas estão à vista: o jovem não ficou traumatizado com o peso do livro de Eça; a sociedade vai estando traumatizada e basta-lhe o que é nivelado por baixo...
2 comentários:
De facto o sociólogo Alberoni apresente uma reflexão bastante importante, porém nós vivemos numa sociedade consumista, em que reinam os bens materiais e na escola também isso é visível. Observa-se frequentemente os nossos alunos com ipod´s,mp3, mp4, telemóvéis de última geração e raramente com um livro na mão. Tudo isto começa logo na família , quando a escola e a cultura não são devidamente valorizadas. Os pais não incentivanm a compra de livros, compram as obras de apoio ou consultam os resumos on-line. E.M
Se calhar aquela futura advogada (do artigo «A traição do condicional» ) também tinha uma Mãe parecida.
Pois é ... as crianças não se podem traumatizar com tanto trabalho escolar! Haverá coisas que não terão oportunidade de estudar, coitados, assoberbadas com tanta tarefa inconveniente.
É por isso que cada vez mais cedo pedem para sair à noite para procurarem uma «ajuda» que os reconforte e os faça esquecer a sua «insuportável» vida de alunos.
Valha-nos o reverso desta medalha.É que tb existem outros Pais ...
MCT
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