O livro Lugar da Amorosa (1911-1952-2008) – Ontem e hoje, de Maria Alberta dos Prazeres Gomes (Póvoa de Varzim: ed. Autor, 2009), é uma incursão na história das pessoas da Amorosa (freguesia de Chafé), sobretudo no seu núcleo autóctone, responsável pela manutenção e povoamento do lugar desde que, em 1911, o casal castelense Francisco Arezes Novo e Maria da Silva Vieira, vivendo da agricultura e da pesca, ali deitaram raízes.
Este estudo é, fundamentalmente, um repositório de memórias e de referências, por onde passa também a história da ligação (e dos afectos) da autora e da sua família ao próprio local. De facto, não é por acaso que o livro surge; é sobretudo por um acto de amor – ao lugar e às pessoas, é certo; mas também a José Teiga Mano (1917-2005), marido da autora, que teve responsabilidades na edificação urbana do lugar a partir da década de 50.
Assim, este livro aparece ao leitor como uma prova de dedicação a um local de adopção, com uma história construída graças aos testemunhos da população local, à experiência e vivência da autora e às poucas fontes que ainda podem constituir o acervo documental da Amorosa.
Pelos olhos do leitor passa ainda uma viagem no tempo, que assiste à evolução do núcleo populacional, desde sítio quase incógnito até ser dormitório de Viana do Castelo, ali a meia dúzia de quilómetros, passando naturalmente pela categoria de local de segundas residências ou de férias.
É por isso que este livro é também uma reflexão da autora sobre a identidade do local e sobre as alterações (ou sobre as eventuais ameaças) a essa mesma identidade. Simultaneamente, fica um desafio aos leitores, que pode ser partilhado por quem já viveu a Amorosa ou por quem lá queira rumar: “Quem admira hoje a Amorosa? Todos os que a viram. Todos os que nela viveram, pelo menos uma manhã, uma tarde ou uma noite.”
A mim, leitor que experimentei a Amorosa na infância, que lhe acariciei as águas e em cuja areia sonhei, que respirei o cheiro do seu sargaço e me deixei envolver pela cantilena do mar e pela companhia das rochas… este livro devolveu-me também um pouco da minha história. E um melhor entendimento da razão que me leva a visitar a Amorosa de cada vez que rumo a norte, independentemente da época do ano!
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