Diário da Auto-Estima – 84
Manta Rota – O que pode justificar que uma discoteca ao ar livre, na praia, aberta até às cinco da manhã, tenha os decibéis apontados para as redondezas, num raio que ultrapassa o quilómetro e meio, obrigando todos os naturais residentes e os veraneantes em férias a suportar o festim noite fora? Há um ano, houve obras de requalificação no centro do lugar, que pertence à freguesia de Cacela, com presença ministerial; hoje, ao lado do espaço requalificado, há autorização para uma discoteca a funcionar em tais condições. O jet set passa por lá, as revistas sociais fotografam e embelezam, as pessoas protestam pelo desrespeito dos ruídos da noite e alguns jornais noticiam o desconforto. Nada contra a discoteca ou a diversão; tudo contra as condições. A culpa pode ser do soprar dos ventos, como alguém já alvitrou; mas essa situação era previsível (já se sabia que os ventos sopravam e que não o faziam sempre na mesma direcção) e, pelos vistos, não teve consideração. Falta de respeito, pois! Pela terra, pelas pessoas, pelo ambiente.
Tróia – Há três anos, o país parou para ver a implosão de umas torres em Tróia pela televisão e, em Setúbal, houve público bastante para assistir ao espectáculo que corria no outro lado do Sado. O próprio Primeiro-Ministro deu a sua mãozinha ao acontecimento, nele participando. Agora, vai ser inaugurada a primeira fase do complexo turístico. O Diário de Notícias foi reportar e o retrato não é muito feliz: é a nostalgia dos que para lá iam passar os dias de férias; é o descontentamento deste tempo de obras dos que lá têm residência; é o aumento de preços nas travessias sem se vislumbrar melhoria do serviço. Há também a esperança de que, com os milhões investidos e com os postos de trabalho a criar (directos e indirectos), a vida passe a ser melhor. Mas há, sobretudo, indefinições: Setúbal, por exemplo, vai usufruir deste investimento, oferecendo o quê? Que hábitos dos setubalenses vão mudar por força deste projecto? Os jornalistas do Diário de Notícias (em 16 de Agosto) chamaram a esta obra “o segundo fôlego de Tróia”. Oxalá não se fique apenas pelo pormenor dos números possíveis!
Números – Quando o Primeiro-Ministro, regressado de férias, foi dizer, no Norte do país, que pouco faltava para cumprir uma das metas do seu Governo, que era a da criação de 150 mil empregos, fiquei com a impressão de não ter ouvido bem. Os números do desemprego não baixaram tanto quanto isso e, por certo, o Primeiro-Ministro interessa-se e preocupa-se com o desemprego. Não era necessária a demagogia dos números… Comparando apenas os resultados (que não os métodos), faz-me lembrar aquela história da distribuição dos hipermercados que argumenta que, com a abertura nas tardes de domingo, serão criados mais uns milhares de postos de trabalho, sem ser dito quantos acabam em virtude desta luta entre o comércio da grande superfície e o comércio tradicional…
Demba – O semanário Expresso (15 de Agosto) descobriu Demba Diabaye, senegalês a vender bugigangas na praia da Costa da Caparica, que teve direito a curta reportagem com fotografia. E que ficamos nós a saber? Que Demba veio para Portugal fazer investigação sobre Garrett e sobre o Romantismo em Portugal com vista a uma tese de mestrado a defender na universidade senegalesa de Dakar, que vende bugigangas ao fim-de-semana para pagar as fotocópias da documentação que consulta na Biblioteca Nacional e na Biblioteca da Faculdade de Letras, que estuda a língua portuguesa há 11 anos. Tem um sonho – “Quero ser embaixador da língua portuguesa no meu país e trabalhar lá até chegar ao topo da carreira como professor”. Demba vai andar por cá até final de Setembro a alimentar o sonho. Bom exemplo e boa história em defesa da língua que é a nossa pátria, como Pessoa disse.
Tróia – Há três anos, o país parou para ver a implosão de umas torres em Tróia pela televisão e, em Setúbal, houve público bastante para assistir ao espectáculo que corria no outro lado do Sado. O próprio Primeiro-Ministro deu a sua mãozinha ao acontecimento, nele participando. Agora, vai ser inaugurada a primeira fase do complexo turístico. O Diário de Notícias foi reportar e o retrato não é muito feliz: é a nostalgia dos que para lá iam passar os dias de férias; é o descontentamento deste tempo de obras dos que lá têm residência; é o aumento de preços nas travessias sem se vislumbrar melhoria do serviço. Há também a esperança de que, com os milhões investidos e com os postos de trabalho a criar (directos e indirectos), a vida passe a ser melhor. Mas há, sobretudo, indefinições: Setúbal, por exemplo, vai usufruir deste investimento, oferecendo o quê? Que hábitos dos setubalenses vão mudar por força deste projecto? Os jornalistas do Diário de Notícias (em 16 de Agosto) chamaram a esta obra “o segundo fôlego de Tróia”. Oxalá não se fique apenas pelo pormenor dos números possíveis!
Números – Quando o Primeiro-Ministro, regressado de férias, foi dizer, no Norte do país, que pouco faltava para cumprir uma das metas do seu Governo, que era a da criação de 150 mil empregos, fiquei com a impressão de não ter ouvido bem. Os números do desemprego não baixaram tanto quanto isso e, por certo, o Primeiro-Ministro interessa-se e preocupa-se com o desemprego. Não era necessária a demagogia dos números… Comparando apenas os resultados (que não os métodos), faz-me lembrar aquela história da distribuição dos hipermercados que argumenta que, com a abertura nas tardes de domingo, serão criados mais uns milhares de postos de trabalho, sem ser dito quantos acabam em virtude desta luta entre o comércio da grande superfície e o comércio tradicional…
Demba – O semanário Expresso (15 de Agosto) descobriu Demba Diabaye, senegalês a vender bugigangas na praia da Costa da Caparica, que teve direito a curta reportagem com fotografia. E que ficamos nós a saber? Que Demba veio para Portugal fazer investigação sobre Garrett e sobre o Romantismo em Portugal com vista a uma tese de mestrado a defender na universidade senegalesa de Dakar, que vende bugigangas ao fim-de-semana para pagar as fotocópias da documentação que consulta na Biblioteca Nacional e na Biblioteca da Faculdade de Letras, que estuda a língua portuguesa há 11 anos. Tem um sonho – “Quero ser embaixador da língua portuguesa no meu país e trabalhar lá até chegar ao topo da carreira como professor”. Demba vai andar por cá até final de Setembro a alimentar o sonho. Bom exemplo e boa história em defesa da língua que é a nossa pátria, como Pessoa disse.
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