Ao olhar a capa deste Minho de Nuno Neves (Algés: Publicações Serrote, 2008), três recordações me assaltaram: os lenços de namorados e o seu genuíno e emotivo bordado num loquaz ponto cruz; o verde, tom dominante na paisagem minhota; uma citação de Miguel Torga no seu Portugal (1950) a propósito do recanto minhoto classificando-o como “bovino”.
Três motivações para se desenhar o Minho, pelo menos o Minho que o seu autor viu e guardou. Nuno Neves fez desta apresentação do Minho um trabalho original – os dizeres que traz ao visitante do seu livro são desenhos de temática minhota feitos em ponto cruz, por si construídos informaticamente. Ele próprio o diz em curta nota introdutória: “Depois de ter visto uma colecção de Lenços de Namorados de Vila Verde e ter feito algumas viagens pelo Minho, resolvi fazer estas ilustrações. Apliquei a técnica do ponto cruz num formato digital, desenhando pixel a pixel todas as páginas deste livro.” Está o leitor perante um trabalho artesanal, também, se escândalo não é misturar o artesanato com as modernas tecnologias...
Pelas páginas deste livro de ilustrações passam algumas das imagens que associamos à terra minhota: lenços de namorados, as bandas de músicos em barro e o galo de Barcelos, a “coca” monçanense, os “zés pereiras”, os “cabeçudos”, as juntas de bois, os espigueiros do Soajo, os trajos de pastor de Laboreiro (chancas e croça), a música popular, o sarrabulho, o vinho verde, a gastronomia, os recantos (farol de Montedor, por exemplo), a apanha do Sargaço (da Apúlia), o guerreiro das Terras de Basto, a filigrana, os cestos da Festa das Rosas de Vila Franca do Lima, as procissões em tempos de festa, as devoções (ex-votos de cera), a festa (na pirotecnia, por exemplo). É uma maneira bonita de se ver o Minho, original, ainda que talvez pudesse ter ido um pouco mais além dos estereótipos que uma certa visão turística tem propagandeado.
[fotos: capa do livro e desenho das mordomas que transportam os cestos de flores na Festa das Rosas,
Sem comentários:
Enviar um comentário