Conheci Isidoro Fortuna há não
sei quantos anos. Quase trinta, talvez. Terá sido através do seu irmão António
Matos Fortuna? Terá sido por via do seu amigo António Rodrigues Correia? Não
sei, mas qualquer um deles poderia ter sido o amigo que nos aproximou...
Conversei com ele muitas vezes. Sobretudo
para saber e para resolver coisas da minha ignorância e das minhas possíveis
descobertas. E nunca Isidoro Fortuna se recusou a atender-me.
Ouvi-o para fazer reportagens,
para aprender, para perceber o que é “ser montanhão” (nesta Quinta do Anjo, no
concelho de Palmela, isso é importante e é causa de identidade), para saber o
que é a raça da ovelha saloia, para aprender como se fazia o queijo de Azeitão
e o queijo fresco, para conversar sobre a história e as histórias de Quinta do
Anjo. E o que aprendi foi muito mais do que aquilo que eu alguma vez lhe
poderia dar ou, pelo menos, agradecer.
Um dia, meus pais, vindos do
Minho, estiveram por aqui num fim de semana. Tendo feito a sua vida na
agricultura, achei sensato levá-los a conhecer Isidoro Fortuna. Vieram
entusiasmados. E, sempre que eu os visito lá no Minho vianense, ainda perguntam
por “aquele senhor que falou das ovelhas com o coração chamado Isidoro”... Lá
lhes terei de dar a notícia, claro.
No sábado, dia em que Isidoro
Fortuna foi levado para o cemitério da aldeia, fiz-lhe a derradeira visita. E
não pude deixar de falar com a esposa, Maria Amália. Quando lhe apresentei os
sentimentos, logo ela me respondeu: “Que são de paz!”. Exactamente como foi Isidoro
Fortuna, que nunca vi zangado, mas sempre disponível, mesmo naquilo que poderia
ser mais crítico. Que me contou da sua acção em prol da paróquia; em defesa da
raça, do apuramento e da preservação das ovelhas; em afecto pelas coisas da
Quinta do Anjo... sempre numa linguagem próxima, prática e pragmática, boa!
Sobretudo boa. Porque a imagem que dele guardo é a de um “bom” homem, daqueles
que são capazes de iluminar as vidas, daqueles que achamos que são umas
bibliotecas de saber e de sentimentos. Ficar-lhe-ei sempre grato por isso!
1 comentário:
Triste noticia. Também privei muito com o Isidoro Fortuna que foi membro da Assembleia Geral da ARCOLSA comigo, numa paixão comum - as Ovelhas. Visitava-me muitas vezes aqui em Gâmbia onde gosta de vir comprar borregas da minha criação e tinhas sempre longas, longas conversas e com ele aprendi muito. Deixa-me muita saudade Um homem que muito admirava, pelo seu saber e pragmatismo com encarava a vida. Deus o guarde !
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