sábado, 21 de janeiro de 2017

Para a história religiosa de Setúbal: A visita da imagem peregrina à diocese em 2015



A bibliografia sobre a história religiosa em Setúbal foi enriquecida, no final do ano passado, com a obra A Grande Visita da Imagem Peregrina à Diocese de Setúbal, organizada por Sezinando Alberto (Almada: Santuário de Cristo Rei, 2016), contendo textos de Anabela Sousa, Bruno Máximo Leite, D. José Ornelas Carvalho (bispo de Setúbal) e do próprio organizador, e fotografias de Anabela Sousa, Bruno Máximo Leite, Rui Fernandes e Fotos Milai.
Como Sezinando Alberto refere na “Nota Prévia”, esta obra “pretende fazer memória futura da passagem da imagem de Nossa Senhora de Fátima pela nossa Diocese por ocasião da preparação dos 100 anos da sua aparição na Cova da Iria, que, sem dúvida, foi uma grande visita”. Assim, ao longo das quase trezentas páginas, surge o relato, em jeito de escrita de reportagem, incluindo cerca de 450 fotografias, do que foi a manifestação religiosa em torno da imagem peregrina de Fátima na diocese sadina entre 25 de Outubro e 8 de Novembro de 2015, abrangendo registos das vivências nas diversas vigararias (Montijo, Palmela / Sesimbra, Seixal, Almada, Caparica, Barreiro / Moita e Setúbal).
A visita teve marcas festivas (a par da oração e das cerimónias religiosas, houve artistas - Rão Kyao, por exemplo -, poesia, descerramento de lápides evocativas do acontecimento) e foi abrangente no roteiro, tendo passado por uma grande variedade de pontos de reunião, como escolas (privadas e públicas, do ensino obrigatório e do ensino superior), centros de recuperação, lares ou instituições de solidariedade social, tendo igualmente sido vasta na participação.
A obra regista o percurso vigararia a vigararia e paróquia a paróquia, incidindo nas notas de reportagem sobre as cerimónias (sobretudo da recepção e partida da imagem), sobre o tempo (parte significativa da visita foi feita sob chuva) e sobre as reacções dos paroquianos e do clero, muitas vezes não escondendo as dificuldades de organização, como foi o caso de algumas situações em que a movimentação da imagem se revestiu de considerável grau de dificuldade.
Se esta iniciativa teve a participação dos dois bispos eméritos de Setúbal (D. Manuel Martins e D. Gilberto Reis) e do actual prelado (D. José Ornelas Carvalho), ela foi também importante porque a chegada da imagem a Setúbal, vinda da diocese de Portalegre / Castelo Branco, coincidiu justamente com a ordenação episcopal de D. José Ornelas em Setúbal. Em várias intervenções ao longo desse itinerário, o novo bispo referiu a oportunidade que esta visita constituiu para, também ele, começar a conhecer a diocese.
Importante é, de resto, o texto que fecha o livro, assinado por D. José Ornelas, fazendo uma reflexão sobre a importância do “passar de uma imagem” e da sua simbologia e sobre a missão que estava sobre este evento: “Passou nas nossas estradas onde corremos para o trabalho, estudo ou lazer e por onde regressamos cansados, desiludidos ou reconfortados e esperançados. Passou pelas nossas cidades e pelas ruas dos nossos bairros, diante dos supermercados onde fazemos as compras, dos restaurantes onde celebramos festas, dos cafés onde encontramos os amigos, dos centros médicos e instituições onde somos assistidos, das sedes da autoridade local onde se procuram caminhos de convivência e de progresso, dos serviços de ordem e defesa do bem comum, das nossas casas onde encontramos amor e carinho, mas também, tantas vezes, divisão e dramas de incompreensão, incompatibilidade e opressão...” Umas linhas adiante, testemunhará: “Acompanhando diariamente algumas etapas desta peregrinação de Maria pela nossa terra, fui por ela conduzido a olhar para as dificuldades que tantos de nós enfrentam, de pobreza, de exclusões e solidão, de dependências, exclusões e frustração. Mas vi também brilhar em tantos olhares, em tantos comentários e atitudes, a chama da esperança, a criatividade da solidariedade, a decisão do compromisso e do serviço generoso para transformação das nossas cidades e do nosso mundo.”
Particularmente impressionante para o bispo sadino terá sido o momento da visita da imagem peregrina ao Estabelecimento Prisional de Setúbal, instante que recupera para esse texto de conclusão e de esperança: “Certamente que a Virgem peregrina sorriu de modo muito especial, ontem, ao descer de guindaste no pátio da prisão de Setúbal, numa visita particularmente materna àqueles que ali vivem. Ela veio afirmar quanto os preza, para além de todos os percursos sinuosos de qualquer vida humana, de quanto aprecia os esforços dos que colocam a própria competência profissional ou oferecem voluntariamente o seu tempo para alimentar esperança, com dignidade e justiça e colaborar na integração social. Certamente que ela não deixou de olhar também com preocupação para as condições degradadas desta estrutura e de encorajar os projectos e esforços para a sua renovação e dignificação, que ajudem a uma séria recuperação das pessoas.”

O livro contém um dvd com reportagem de cerca de 90 minutos dos vários momentos desta iniciativa ocorrida na diocese de Setúbal, realizada pela agência Ecclesia, terminando com a cerimónia do adeus e a partida da imagem para a próxima diocese, a de Évora, assim ficando para o leitor uma obra de registo de um momento religioso intenso e um contributo assinalável para a história religiosa local.

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