Oito anos foi o tempo que Anita Vilar levou a preparar
a obra recentemente apresentada, Panorama
de uma história local no feminino (Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos,
2013), livro organizado em jeito de dicionário, biografando 74 mulheres que
estiveram ligadas à história de Setúbal.
O trabalho não terá sido fácil, referindo a autora a
sua principal dificuldade: “os arquivos, desvalorizando os contributos
femininos, não registavam dados pessoais tais como o local e data de nascimento
e a profissão (…), sendo muitas vezes a
mulher, a mãe de”. Daí também a
cautela com que a autora apresenta este trabalho, afirmando não estar concluído,
pois, além de ser o primeiro levantamento exaustivo do género, ressaltou também
a dificuldade da impossibilidade de “obter todos os dados biográficos
referentes a algumas mulheres”, obstáculo que não condicionou a decisão de,
mesmo assim, no livro constarem nomes com uma biografia de conjectura ou de
dúvidas, honestamente assinaladas.
As biografadas abrangem um longo período da história
sadina, desde o século XV até à actualidade, e foi critério referir apenas
nomes que já tivessem concluído o seu ciclo de vida: no século XV, contam-se os percursos de Justa Rodrigues Pereira e de Maria da Pipa; no século XVI, visita-se Margarida
Dias e Leonor de S. João; no século XVII, conhece-se Beatriz Gonçalves, Maria Guadalupe
de Lencastre e Ângela Maria; no século XVIII, é o encontro com Mariana du Bocage, Cecília Rosa de
Aguiar, Isabel Ifigénia de Aguiar, Ana Maria do Amor Divino e Luísa Todi; no século XIX, o que mais nomes conta, cruza-se o leitor com Gertrudes Angélica de Andrade, Ana de Almeida, Maria Emília da Mota
Negrão Barradas, Maria Henriqueta de Campos Valdez, Maria Adelaide Vieira,
Maria de Jesus Almeida do Soveral, Maria Angélica de Andrade, Maria Amália,
Hermínia Augusta Marreiros Borges Campos, Maria Baptista, Maria Amélia de
Orleães, Maria Júdice da Costa, Joaquina Aurélia Baptista Guerreiro, Ana de
Castro Osório, Francisca Romana Lino da Silva, Angelina Paula Mota Quintas, Ana
de Broughton de Meneses Ferro Gamito, Ema Garcia Peres Grill, Raquel Elvas Mascarenhas,
Maria Felicidade de Ferreira Miranda, Maria Cândida de Oliveira Parreira, Maria
Augusta Ferreira de Sousa Fialho, Joaquina Rosa de Lima, Luísa Eduarda
Gonçalves, Olga de Morais Sarmento, Maria Bárbara Falcão, Falcão Mercês,
Mariana Torres, Laura de Jesus de Almeida, Benedita Maria, Carlota Rosa Ramos,
Maria Ilda da Conceição de Oliveira, Lúcia da Encarnação Maracoto, Amélia
Azevedo, Albertina Aldegundes de Moura Benício, Ária Amazonense Ferreira Ramos,
Pátria Amazonense Ferreira Ramos, Alda Machado Santos, Ernestina Esteves Vieira
Abreu, Cândida Marques Pascoal, Marta de Jesus da Silva Lebre, Deolinda Macedo,
Eufrásia Lino da Silva, Bárbara Marques Pascoal, Ilda Stichini, Teresa Lino da
Silva, Irene Augusta Faria Costa do Nascimento e Maria Campos; do século XX, são figuras como Maria Arminda Cândido Graça, Madalena da Costa Claro, Emília Rosa Colaço,
Margarida Caineta, Arlete Soares Silva de Oliveira Guimarães, Oceana Rosa de
Sousa Zarco, Clarinda Silva Carvalho, Maria Adelaide Miguéns Rosado Pinto,
Maria Clementina da Conceição Coelho Amália, Maria Inácia Simão Godinho, Lygia
Messodi Toledano Ezaguy, Susana Soveral Gomes, Maria do Rosário Fátima Almeida
Santos e Maria Cecília Pereira Anjo.
Por
estas cerca de sete dezenas de fichas desfilam figuras ligadas à política, à
intervenção social, ao desporto, à educação, ao mundo do trabalho, às artes, algumas
constando na toponímia sadina mas a maioria delas tendo uma biografia de
lacunas. O trabalho que Anita Vilar nos apresenta refere essas mesmas
adversidades, mas tem a vantagem histórica de ser uma primeira abordagem de
conjunto, diversificada, mostrando o peso que a mulher tem tido na história
local, apesar de, habitualmente, ser relegada para um plano mínimo ou para a
omissão. Trata-se de uma obra útil, indispensável para a bibliografia local, a
merecer consulta ou mesmo leitura integral, assim se descobrindo uma faceta
importante da identidade setubalense.
1 comentário:
Grata, meu amigo, pelas palavras que quis ter a gentileza de escrever sobre o livro Panorama de uma História Local no Feminino.
Não deixo de alimentar a ideia de que possa sair um 2 º livro sobre as muitas mulheres que há aí por descobrir com intervenção diversa em Setúbal.
Abraço
Anita
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