segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Bom 2013? Bom 2013!




Votos de boa entrada em 2013!
Quanto ao decorrer do ano, cá estaremos todos, lado a lado, para o sofrer ou para o gozar, para nos entristecermos com ele ou para nos alegrarmos. Como sempre, além de tudo!
Sem querer ser excessivo, que 2013 seja favorável às nossas vidas!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Setúbal entre luzes e sombras


Uma "curta" bonita de se ver, devida a Carlos Silveira, sobre Setúbal. "Luzes e sombras", como título. Para cinco minutos e pouco de filme, muitas horas de trabalho e de sensibilidade. Despertar sobre o Sado...

Jorge Fonseca - Setúbal entre o rio e o mar nos séculos XVI-XVII



Dividido em quatro capítulos, este Setúbal – O porto e a comunidade fluvial e marítima (1550-1650), de Jorge Fonseca (Lisboa: Edições Colibri, 2012), constitui um excelente olhar sobre o quotidiano da população setubalense, sobretudo aquela que mantinha estreita relação com o rio e com o mar, nas mais diversas funções, no período abrangido. Muito embora o título delimite uma fatia cronológica (opção que o autor justificou com o facto de existirem “abundantes fontes notariais, indispensáveis à abordagem da vertente social” que pretendia destacar), certo é que são feitas referências a muitos antecedentes, deixando este estudo em aberto um retrato das condições que iriam de alguma maneira formatar a história de Setúbal no futuro.
São cerca de 140 páginas com abundante informação, partindo do que terão sido os primórdios desta região e seu consequente desenvolvimento, partes necessárias de contextualização para uma chegada ao período em estudo. A partir daí, o leitor vai convivendo com cidadãos comuns da urbe sadina, nas suas diversas tarefas e até na sua forma de viver, perscrutando-lhes maneiras de trabalhar, relações sociais, caminhos de negócios, ambiente familiar, num quase passeio pelo quotidiano que animava a faixa ligada ao rio e ao mar.
A pesca e a repercussão que o pescado de Setúbal teve no reino e no estrangeiro (de tal forma a sardinha de Setúbal tinha procura que, desde cedo, “para que não viesse a faltar sardinha para abastecimento da população local, os pescadores eram obrigados a reservar para os moradores parte da que capturassem”), o sal sadino e o horizonte geográfico a que se estendeu a sua comercialização (tendo havido uma época de apogeu, já designada por “idade do ouro branco”, e uma consequente decadência, a partir dos fins do século XVII, por motivos concorrenciais desde o estrangeiro), o valor e diversidade das transacções comerciais por via flúvio-marítima (aí entrando as madeiras, o vinho, as pedras de mó, o açúcar, o tráfico negreiro), a possibilidade que o mar e o rio ofereciam como forma de circulação (de tropas, de degredados, de comerciantes) ou actividades como a moagem e a construção naval constituíram razões fortes para intensas permutas, grandes viagens e para que o porto de Setúbal fosse “um dos mais activos e rentáveis do reino”, de tal forma que, em 1527, “o seu Almoxarifado era o segundo do país, abrigando uma das maiores comunidades humanas dedicadas às actividades marítimas”.
Tão intensa actividade não era feita sem o elemento humano, que merece assinalável destaque nesta pesquisa de Jorge Fonseca, seja do ponto de vista das relações sociais, não esquecendo as trocas culturais e as chegadas e partidas nos caminhos das migrações, seja da perspectiva das formas de viver, aí se incluindo informações como as das características das habitações, as relações familiares, a estrutura social, a vida espiritual, o associativismo, a propriedade e marcas demonstrativas da existência de uma sociedade “interessada na sua coesão, mas também na reprodução do modelo hierárquico”, responsável também pela “expansão e estruturação do próprio aglomerado urbano”.
É um livro útil, interessante e rico, com intenso recurso a fontes até aqui por explorar, num ritmo em que a análise das situações e os casos que fizeram o quotidiano da terra e das gentes se harmonizam de maneira a que o leitor assista ao filme de uma comunidade, a da margem do Sado frente a Tróia, que se constituiu “num dos exemplos mais paradigmáticos de uma sociedade fluvial e marítima no Portugal da época Moderna”. Setúbal – O porto e a comunidade fluvial e marítima (1550-1650) é um elemento indispensável para se estudar a identidade sadina, um título a não esquecer em qualquer pesquisa que relacione Setúbal com o Sado, com o mar e com a História.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Rostos (191)

Farmácia monástica, no painel sobre a biografia de S. Bento, de Querubim Lapa,
em São Bento da Porta Aberta (Rio Caldo, Gerês)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A biografia de Domingos Garcia Peres




O nome de Domingos Garcia Peres não é desconhecido na cidade de Setúbal, seja pela inserção do seu nome na toponímia (um beco, um largo e uma rua), seja pela existência de um fundo bibliotecário com o seu nome, doado em 1964 para integrar o Museu da Cidade. No entanto, a sua biografia, baseada em fontes e estabelecida com rigor, teve de esperar até aos finais de 2012, em que foi assinalado o bicentenário do seu nascimento, a acompanhar uma exposição, uma e outra actividades devidas a António Cunha Bento, Carlos Mouro e Horácio Pena.
A biografia, intitulada Domingos Garcia Peres (1812-1902) – Um setubalense pelo coração (Setúbal: Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, 2012), é justificada pelo acto comemorativo, pela admiração que esta personalidade despertou em vida, pela sua intervenção cívica e cultural assente em Setúbal mas fazendo a ponte com outros meios (foi clínico e deputado e manteve colaboração e amizade com o bibliógrafo Inocêncio da Silva e com o espanhol Menéndez y Pelayo, eruditos de renome na área da cultura).
Thomaz de Mello Breyner, médico e amigo de Garcia Peres, no elogio fúnebre do amigo, caracterizou-o como “homem que nunca fez falar de si, por ter sido dotado de uma modéstia tão grande como era o seu coração, a sua inteligência e o seu saber”. Estas qualidades determinaram a admiração, mas não podem ser responsáveis por um desconhecimento sobre a sua personalidade que levou tanto tempo a ser suprido, mesmo em Setúbal, terra onde esteve ligado a eventos e criações importantes como o exercício da medicina, a eleição como deputado, a intervenção no Asilo da Infância Desvalida, a participação na Sociedade de Recreio Familiar, a fundação da Sociedade Arqueológica Lusitana ou a autoria de uma obra importante para a bibliografia como o Catalogo razonado biográfico e bibliografico de los autores portugueses que escribieron en castellano (obra de uma vida, publicada em Madrid em 1890).
Fruto das suas viagens a Espanha, Garcia Peres teve ainda possibilidade de, resultado do acaso, ter conhecido Hans Christian Andersen e com ele ter viajado entre Madrid e Lisboa, em Maio de 1866, época em que o escritor dinamarquês visitou Portugal a convite dos seus amigos O’Neill (tendo permanecido cerca de um mês em Setúbal).
A biografia que Cunha Bento, Carlos Mouro e Horácio Pena assinam passa por todos esses aspectos e momentos da vida deste alentejano nascido em Moura, que, aos 34 anos, chegou a Setúbal (depois de quatro anos em Alcácer do Sal) e que pelas margens do Sado se deixou ficar, numa ligação intensa à terra. Lidaram os três autores com variadas fontes, sobretudo do Arquivo Distrital de Setúbal, da imprensa sadina da época e da correspondência entre Peres e Pelayo, o que permitiu corrigir informações que têm sido divulgadas sobre o biografado, assim se revendo os seus aspectos biográficos.
Num texto preocupado com o rigor e com informação exigente, bem anotado, esta viagem pela vida de Garcia Peres não esquece mesmo a recolha de testemunhos sobre a personalidade e o quotidiano do médico alentejano, resultante de uma leitura que permite inclusivo que o biografado se autorretrate, como se pode verificar em duas passagens bem reveladoras do seu sentido de humor e de disponibilidade – ao escrever sobre a sua prática em Alcácer do Sal, referirá: “ali desfalquei a humanidade até 1844”; em correspondência com Menéndez y Pelayo, dirá: “de há muito que seus são todos os meus livros”, numa prova de permuta incondicional que girava em torno das bibliografias entre os dois autores, levada ao extremo, quando numa outra carta o desafia para lhe renovar a assinatura de uma revista espanhola e redigirá numa outra carta um pacto de troca em termos humorísticos – “a respeito de contas creio-as saldadas; saqueemo-nos mutuamente, segundo possamos; eu, pela minha parte, não deixarei de tentá-lo; faça Você o mesmo e veremos depois quem leva a melhor.”
Figura grada no seu tempo, que suscitou admiração e esteve envolvido em marcos importantes para a história sadina, Garcia Peres tem agora o ensaio biográfico que merecia, enriquecido ainda com alguma documentação fotográfica e com uma tábua cronológica. Um documento cheio de interesse e, sobretudo, credível.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

D. Manuel Martins, os governantes e a mensagem de Natal



D. Manuel Martins no tipo de discurso a que sempre nos habituou, directo, incisivo, contundente. Sempre admirei a frontalidade de D. Manuel e a sua voz, que se tem erguido nos momentos mais críticos, é a da razão. Podemos acrescentar às suas palavras que, antes das eleições, os potenciais candidatos a primeiro ministro deveriam ser obrigados a dizer com quem se coligariam, em que circunstâncias e que pessoas chamariam para formar governo.
É pedir muito, eu sei. Mas, depois do que temos visto e do oportunismo que tem rodeado muitas caras que passam pelos governos, seria o mínimo sinal de respeito pelos eleitores. Penso que, a saber-se isso, muitas das pessoas que têm passado pelos governos fariam alterar os resultados eleitorais e, por outro lado, haveria mais cuidado na formação das equipas de governantes. Serão todos muito boas pessoas, mas os sinais de incompetência, de impreparação e de pouca consideração pelos governados têm sido constantes. No tempo pré-eleições somos todos uns tipos porreiros e cumprimentados em demasia; depois, viramos uns cábulas, que não trabalhamos, responsabilizados pelo caos a que se chegou, mal habituados…
Na televisão, ao darem a notícia destas considerações de D. Manuel Martins, disseram que ele não deixou mensagem de Natal porque seria falta de cortesia estar a apontar caminhos de esperança no contexto em que se está… Uma pessoa ouve isto com um sorriso de compreensão e de concordância. Haverá mesmo esperança quando se deseja um 2013 “dentro do possível” ou que o novo ano “vá correndo”? Por isso, dispensam-se as mensagens governativas de Natal. Depois de tudo quanto foi dito pelos governantes sobre os portugueses e dos “ralhetes” sucessivamente cheios de sugestões, já se percebeu onde fica a esperança!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Feliz Natal (com um poema)


Natal doutros tempos

Eu sou do tempo em que se cantava ao Menino.
Em que não havia Pai Natal
e o Menino descia p’la chaminé
à meia noite em ponto.
Onde o sapatinho nos saía do pé
e a um canto se acomodava, pronto
a receber a prenda habitual.
Bombons em prata colorida
tal qual nossos olhos como estrelas brilhando
na negrura da noite, esperançando a vida.

Sou do tempo em que se prendava
filhós e azevias e rosetas
polvilhadas de açúcar e canela.
Em que se rufava a ronca
entoando louvores ao excelso e ao infinito céu.
Onde a família galhofava reinadia,
à lareira por dentro a noite fria.

Sou do tempo em que a nossa aldeia
tinha a dimensão do mundo
e o mundo se fazia de todos nós.
Em que o presépio se construía
com musgo catado pelas nossas mãos
e uma searinha feita em caco de barro
se oferecia a Jesus.

Desse tempo em que gente devota
na Missa do Galo cantava, louvando
o Menino que nasceu, símbolo do ano inteiro.

Do tempo em que só um dia era Natal.
Setúbal, Natal de 2012
José-António Chocolate


sábado, 22 de dezembro de 2012

Fragmentos 02 - Incertezas


Estou a pagar no posto de abastecimento e o indivíduo aproxima-se de mim. “Bem me parecia que conheci esta voz”, diz-me, no prazer do reencontro depois de muitos anos de desencontro.
Era PC, meu aluno de há vinte e tal anos, outros tantos de tempo sem nos vermos. “Que fazes?” E desfiou-me o rol dos seus projectos, que sempre fora um rapaz de aventura, dinâmico, imparável. Negócios, projectos empresariais, alguma sorte na vida, negócios de família. “Tenho um amigo suíço que desafiei para meu sócio. Quer saber a resposta?” Perante o meu ar de curioso, acabou a história: “Ó pá, entrar na constituição de uma empresa em Portugal? Então a gente nunca sabe o que vai ser isto!... Os impostos são uma coisa de manhã, outra à tarde e outra no dia seguinte… Quem se governa assim? Há empresa que se sustente?”
Ainda conversámos mais. Mas a tónica da conversa estava na contrariedade que se oferece aos projectos empresariais. “Sabe, professor? Dou um ano para isto… Caso não haja resultados, vou-me embora. Já estive de malas feitas para Moçambique e resisti, mas não sei por quanto tempo mais!...”

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fragmentos 01 - A vida



O homem terminou a sua conversa ao balcão com a frase “Pois, a vida é um problema…”, sem que os outros presentes tivessem percebido a que se referia o sujeito. Ao virar costas, ainda desejou “boas festas”, assim como quem cumpre um ritual, que a época propicia. E veio dizendo “é um problema” e mais “a vida é um problema” e ainda “um grande problema”. Aproximou-se de um que estava à espera de ser atendido, sorriu-lhe e perguntou “não acha que a vida é um grande problema?” O ouvinte, surpreendido, embasbacou e sorriu. O falador prosseguiu caminho rumo à porta de saída enquanto repetia “a vida é um problema, um grande problema…”
Saiu e foi ter com a vida… ou com um grande problema!

domingo, 16 de dezembro de 2012

Para a agenda: Juan Soutullo e figurinos de teatro na Meadela



Figurinos de teatro criados por Juan Soutullo vão estar em mostra na Meadela a partir de 19 de Dezembro, um percurso de criação e de imaginação, a que surge associada a apresentação do livro de Ricardo de Saavedra sobre o artista - Juan Soutullo - Criador de Universos. A ver (e a ler).

Mario Vargas Llosa: a literatura, a cultura, a democracia, a política e a contemporaneidade


No suplemento “Ípsilon” que acompanhou o Público de 14 de Dezembro, Mario Vargas Llosa é entrevistado (páginas 14-16) a propósito do seu mais recente livro traduzido para português – A civilização do espectáculo. Por essa conversa do Nobel da Literatura peruano (2010) com António Rodrigues perpassam ideias que nos deviam abalar, abordando temas tão importantes como a cultura e a política, a democracia e a crise que nos cerca. E andam todos ligados… Deixo alguns excertos.
Literatura e civilização – «(…) A literatura cumpriu uma função nevrálgica na evolução da humanidade. É difícil prová-lo, porque a literatura opera de forma muito subjectiva na intimidade das pessoas, mas eu acho que a fantasia, a sensibilidade, o espírito crítico desenvolveram-se extraordinariamente graças às fábulas, às lendas, aos mitos e, logo, aos continuadores desses géneros que são a poesia, o romance. O mundo é mais livre, mais crítico devido ao desassossego em relação ao mundo real, atiçado por esse olhar crítico perante o mundo que é a literatura. A cultura, em geral, e a literatura, em particular, estão sempre a expor-nos às ideias da perfeição, da beleza, da coerência, de uma ordem que não existe no mundo real; nesse sentido, têm servido como o motor do progresso da civilização. Pode ser uma ideia romântica, mas não acho que seja desmerecida pela realidade. (…)»
Banalização da cultura – «(…) O valor das coisas é fixado por certos padrões culturais, estéticos, e é isso que hoje está muito ameaçado pela banalização da cultura. Há um factor que tem a ver com a educação, no sentido mais amplo da palavra – não só com o professor e a escola, também com a família, com a imprensa, com a informação que chega aos cidadãos, tudo isso marca uma certa orientação na maneira como se formam os cidadãos. E é a formação que hoje está muito estragada pela decadência de uma cultura que procura apenas entreter, divertir, muito mais do que preocupar, formar. Uma cultura que responde pela existência hoje de uma prática de avestruz: não ver, não entender. (…)»
Tempo das crises – «(…) São as ideias que fazem funcionar uma sociedade e que estão por trás das instituições, incluindo as instituições económicas. Acho que esta crise terrível, cívica, moral, por trás da grande crise financeira e económica que vive o Ocidente deriva, em parte, da crise da cultura. (…)»
Cultura e democracia – «(…) Por que razão a democracia se deteriorou tanto? Porque não há fé, não há confiança nas instituições democráticas; há um grande desprezo pela política, por se acreditar que é corrupta, medíocre. Ora, isso não é um problema social, é um problema cultural. A cultura não é só a arte, a literatura, a cultura é a vida inteira de uma sociedade – não está apenas na espuma, mas nas raízes da problemática social. (…)»

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Paulo Castilho, o património, a língua portuguesa, o inglês e o francês

O JL de hoje (Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 1101, 12.Dez.2012) , na sua habitual rubrica "Diário", deixa que Paulo Castilho, escritor e diplomata, nos revele alguns dos fragmentos dos seus dias, em registos ocorridos entre 20 de Outubro e 28 de Novembro. Desse diário se retiram as observações que seguem, retrato sentido e verdadeiro da cultura que vamos perdendo e da cultura que nos vai colonizando... Ou a questão linguístico-cultural no centro da discussão, no mesmo momento em que outros dizem que a língua portuguesa significa quase 20 por cento do PIB! Sinais dos tempos, em que tudo se substitui por valores, mais-valias, investimentos, economias, rendimentos... Eis, então, uma mostra das reflexões de Paulo Castilho:

«O património cultural do nosso país, que nasceu há quase 900 anos, está em grande medida votado ao esquecimento e ao desinteresse generalizado, sobretudo quando se trata de literatura. (...) Namora, alguém o lê? Tirando o Eça, alguém lê os escritores do passado? E o Pessoa está transformado em 'celebrity', uma espécie de Paris Hilton das letras lusas, famoso, festejado, mas pouco lido. Quanto à língua,, vivemos na regra do desleixo e do vale tudo - incluindo o acordo ortográfico, que entre muitas outras calamidades, faz tábua rasa da origem latina da nossa língua. Mais um fenómeno de aculturação. É irónico que tenhamos agora de ir a outras línguas, como por exemplo o inglês, que é essencialmente germânico, para encontrar muitas das raízes latinas que deitámos fora nas nossas palavras. (...)
É uma pena que actualmente em Portugal se despreze o francês e já quase ninguém o fale ou leia. Foi e é a língua de uma grande cultura, ainda hoje com um movimento editorial de um enorme vigor, em muitas áreas superior ao inglês. Agora corremos atrás da língua inglesa e de tudo o que tenha um ar de Inglaterra ou de América sem nos darmos conta de quanto nos encontramos longe da mente anglo-saxónica. Não os compreendemos plenamente e eles não nos compreendem a nós e, na verdade, tendem a tratar-nos com alguma condescendência. (...)»

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ainda sobre o feriado do 1º de Dezembro

Ontem, não pude aceder ao blogue. O feriado do 1º de Dezembro, o último feriado do 1º de Dezembro (quem sabe?) passou sob o signo das incertezas. Repito o que escrevi aquando do feriado do 5 de Outubro deste ano:
«Um poder que omite, suprime ou suspende o feriado que assinala a fundação do seu regime político (quando poderia ter optado por outros feriados) ou um poder que omite, suprime ou suspende o feriado que assinala a início da independência do país e do povo que governa (quando poderia ter optado por outros feriados) respeita os fundamentos histórico-culturais do país que dirige?»
Acabar, suprimir, omitir (ou o que quer que seja nesta luta pelo esquecimento) o mais antigo feriado português, símbolo da nossa independência e do que nos garantiu como país, só pode ser um acto de ignorância e de falta de respeito pela nossa identidade, mesmo que ela se construa agora com pins na lapela a mostrar a bandeira de Portugal, mesmo que dela se fale a propósito da necessidade de austeridade para garantia da independência! A independência também já entrou na era da globalização, tão (outrora) desejada e apregoada por alguns políticos no seu fascínio de serem grandes e conhecidos... Tristeza, grande tristeza!, a propósito destes pontapés que vão sendo dados em marcos que contribuíram - esses sim! - para a "fundação" ou "refundação" do que somos como país!