domingo, 16 de dezembro de 2012

Mario Vargas Llosa: a literatura, a cultura, a democracia, a política e a contemporaneidade


No suplemento “Ípsilon” que acompanhou o Público de 14 de Dezembro, Mario Vargas Llosa é entrevistado (páginas 14-16) a propósito do seu mais recente livro traduzido para português – A civilização do espectáculo. Por essa conversa do Nobel da Literatura peruano (2010) com António Rodrigues perpassam ideias que nos deviam abalar, abordando temas tão importantes como a cultura e a política, a democracia e a crise que nos cerca. E andam todos ligados… Deixo alguns excertos.
Literatura e civilização – «(…) A literatura cumpriu uma função nevrálgica na evolução da humanidade. É difícil prová-lo, porque a literatura opera de forma muito subjectiva na intimidade das pessoas, mas eu acho que a fantasia, a sensibilidade, o espírito crítico desenvolveram-se extraordinariamente graças às fábulas, às lendas, aos mitos e, logo, aos continuadores desses géneros que são a poesia, o romance. O mundo é mais livre, mais crítico devido ao desassossego em relação ao mundo real, atiçado por esse olhar crítico perante o mundo que é a literatura. A cultura, em geral, e a literatura, em particular, estão sempre a expor-nos às ideias da perfeição, da beleza, da coerência, de uma ordem que não existe no mundo real; nesse sentido, têm servido como o motor do progresso da civilização. Pode ser uma ideia romântica, mas não acho que seja desmerecida pela realidade. (…)»
Banalização da cultura – «(…) O valor das coisas é fixado por certos padrões culturais, estéticos, e é isso que hoje está muito ameaçado pela banalização da cultura. Há um factor que tem a ver com a educação, no sentido mais amplo da palavra – não só com o professor e a escola, também com a família, com a imprensa, com a informação que chega aos cidadãos, tudo isso marca uma certa orientação na maneira como se formam os cidadãos. E é a formação que hoje está muito estragada pela decadência de uma cultura que procura apenas entreter, divertir, muito mais do que preocupar, formar. Uma cultura que responde pela existência hoje de uma prática de avestruz: não ver, não entender. (…)»
Tempo das crises – «(…) São as ideias que fazem funcionar uma sociedade e que estão por trás das instituições, incluindo as instituições económicas. Acho que esta crise terrível, cívica, moral, por trás da grande crise financeira e económica que vive o Ocidente deriva, em parte, da crise da cultura. (…)»
Cultura e democracia – «(…) Por que razão a democracia se deteriorou tanto? Porque não há fé, não há confiança nas instituições democráticas; há um grande desprezo pela política, por se acreditar que é corrupta, medíocre. Ora, isso não é um problema social, é um problema cultural. A cultura não é só a arte, a literatura, a cultura é a vida inteira de uma sociedade – não está apenas na espuma, mas nas raízes da problemática social. (…)»

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