"O fim das humanidades e o início da crise humanitária" é o título de um artigo de opinião, assinado por Inês Silva, docente na Escola Superior de Educação de Santarém, publicado no Correio da Educação, que põe o dedo na ferida dos tempos que correm. Provavelmente, muitos leitores assinariam o teor deste artigo... tanta é a verdade que nele jorra, infelizmente para os tempos de hoje!
O texto pode ser lido na íntegra se vier até aqui.
«(...) A que se deve este desinvestimento e este desinteresse (quase repúdio) pelas humanidades?
Em primeiro lugar, pelas várias ideias estereotipadas que se foram criando (e confirmando, de certa forma) de que as humanidades, por si só, não dão emprego a ninguém. Em segundo lugar, pelo sentimento de «perda de tempo» no trabalho gasto com um romance, um ensaio, uma antologia de poemas, um achado arqueológico, um facto linguístico, uma forma diferente de ver o mundo. Finalmente, pelo enorme prestígio social que certas profissões hoje em dia têm, como a de médico (porque escasseiam) ou a de gestor de uma multinacional (porque ganham muito), que contrastam, e bastante, com a de historiador ou a de professor, por exemplo. (...)
Postas as humanidades nas prateleiras das bibliotecas mais antigas, dá-se o início inevitável de uma crise humanitária. Sem a leitura, sem a reflexão, sem o pensamento associado ao que fomos, para onde vamos, quem somos, o que queremos, o que é a paz, a guerra, o amor, a vontade, a esperança… transformamo-nos em autómatos. Isto é, desprezando o conhecimento histórico, filosófico, literário, social, o homem deixa de ser criativo, deixa de ser empreendedor, deixa de querer ser independente do Estado, deixa de ser solidário, deixa de conhecer o mundo onde vive, deixa de pensar, deixa de ser competente a ler o que os outros escrevem, a ouvir o que os outros lhe dizem, a escrever as suas opiniões…
Deixa de se amar a si, deixa de amar os outros… deixa de ser homem.»
Inês Silva. Correio da Educação: nº 382, 30.Jun.2011
Sem comentários:
Enviar um comentário