A notícia foi divulgada pela LUSA e constituirá prato forte para serem tecidas mil e uma críticas ao ensino. Pelos meus alunos que participaram nos exames de Língua Portuguesa de 9º ano, estou satisfeito, pois a média dos seus resultados foi bem superior à média nacional deste ano e mesmo à média nacional do ano passado. Os parabéns são para eles, obviamente!
No entanto, devo dizer que, sabendo do que eles são capazes, imaginei, num primeiro momento, que iriam ter resultados ainda mais elevados; todavia, quando vi os critérios de correcção destas provas, fiquei sem saber que resultados apareceriam.
Participei na correcção de exames de Língua Portuguesa de 9º ano e há critérios de correcção que não compreendo e que nunca pratiquei enquanto professor na correcção dos trabalhos dos meus alunos. Duvido mesmo que haja quem os pratique… mas só posso responder por mim.
Exemplos?
A pergunta que pedia um texto expositivo a propósito da estrofe 84 do canto IV d’Os Lusíadas orientava o aluno para sete tópicos que deveriam constar na sua resposta, cotada com 10 pontos. O aluno tinha à sua disposição um espaço entre 70 e 120 palavras para responder, mas ignorava o que lhe podia acontecer se não respondesse aos dois primeiros tópicos – é que, no caso de falhar um desses dois tópicos (por erro ou por omissão), mesmo que os outros cinco estivessem excelentemente apresentados, a resposta era cotada com zero! E houve casos destes. Mais: se o aluno apenas mencionasse esses dois tópicos, tinha apenas dois pontos. E quais eram os tópicos? Indicar o episódio referido na estrofe e identificar o narrador. Repare-se que, pelo menos o primeiro, nem sequer era determinante para o resto da resposta, porquanto o aluno teria de tratar tópicos como os grupos de personagens envolvidos, o momento da acção, a apresentação de um elemento relativo ao espaço, o estado de espírito das personagens e indicar uma semelhança deste episódio com o do Adamastor. Ora, alguns dos tais cinco tópicos serviam perfeitamente para se perceber se o aluno sabia localizar o episódio ou não…
Outro exemplo: na classificação de uma forma verbal que estava no pretérito perfeito, se o aluno esquecesse o acento na palavra “pretérito” era o suficiente para que o tempo verbal fosse considerado incorrecto. Ora, a pergunta pretendia testar o conhecimento dos tempos verbais ou as formas de grafia? Compreendo que a falta do acento pudesse originar um desconto na resposta, mas daí a ser considerada sem pontuação...
A sensação com que fiquei, depois de ser confrontado com estes critérios, é que aquilo que aprendi e aquilo que tenho exercido – bem como muitos colegas – foi contrariado. Isto é: a perspectiva da avaliação dos saberes deve ser por aquilo que o aluno sabe e não por aquilo que o aluno não sabe.
Os critérios de correcção da prova de Língua Portuguesa de 9º ano da 1ª chamada terão, assim, uma parte da responsabilidade nos resultados. Provavelmente, com critérios semelhantes aos que são praticados pelos professores no quotidiano das escolas, muitos dos resultados na margem dos 40 e pouco por cento chegariam aos 50 e pouco por cento… sem que os níveis de exigência e de rigor fossem postos em causa.
Do meu ponto de vista, a prova da 1ª chamada de Língua Portuguesa viu o equilíbrio da sua concepção e orientação posto em causa por alguns dos critérios de correcção apresentados.
1 comentário:
Completamente de acordo! E alguns desses «critérios» nem estavam registados por escrito, foram comunicados na reunião... Aliás, mais do que os exames propriamente ditos, os «critérios de correcção» têm sido um desastre!
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