quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"ViVER Setúbal" - Os roteiros de uma exposição (2)

Viver Setúbal. Uma forma de ver a cidade
- Notas críticas a um roteiro (I)
por Carlos Mouro
Entre Junho e Setembro puderam os setubalenses apreciar, na sede da AERSET e, depois, na casa da Sociedade Musical Capricho Setubalense, uma exposição intitulada "Viver Setúbal. Uma forma de ver a cidade", da responsabilidade da Sociedade SetúbalPolis. Na ocasião foram editados três pequenos roteiros, organizados em torno de outros tantos percursos pela História e património setubalenses – Do Largo de Jesus ao Largo da Fonte Nova (1.º), Avenida Luísa Todi (2.º), Da igreja de S. Julião à igreja de Santa Maria (3.º) – com textos adaptados de outros, da responsabilidade de técnicos do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, também editados, em separado. Com a desmontagem daquela exposição desaparecerá o que de bom e de menos bom se expunha. Pelo contrário, os roteiros impressos manter-se-ão, perpetuando o que de bom e de mau encerram. Justificam-se, pois, estas notas corrigindo erros grosseiros com que ali nos deparámos.
I. No primeiro caderno somos surpreendidos por uma inaudita versão da conhecida lenda sadina que narra a origem da freguesia de Nossa Senhora Anunciada: “Reza a lenda da criação desta igreja que uma peixeira pobre estava a assar cavalas quando uma delas saltou do fogo. Depois de várias tentativas para a assar, a peixeira apercebeu-se de que a cavala era, afinal, uma imagem de Nossa Senhora.” (p. 7). O disparate já foi notado por João Reis Ribeiro que o causticou no seu “Diário da auto-estima” (Sem Mais – Jornal, 13-6-2009). Interrogamo-nos, também: Onde desencantaram tamanho disparate? Para mais, o desconhecimento andou de braço dado com a distracção já que, na página seguinte do opúsculo, se transcreve a versão correcta da lenda, sem referência a cavalas, cavalinhas ou qualquer outro teleósteo.

A lenda da Senhora da Anunciada com a leitura errada


II. Na página 9 há novo descuido na legenda da segunda fotografia. O espaço urbano registado por Américo Ribeiro, no cliché reproduzido, não se designa (nem nunca se designou) por Largo dos Combatentes. Denominou-se, antigamente, Largo das Almas. Com a República – em homenagem ao vice-almirante Cândido dos Reis (1852-1910), mentor, chefe e mártir da Revolução de 5-10-1910 – passou a conhecer-se por Praça Almirante Reis.

A foto com o monumento aos Combatentes e a legenda imprecisa


III. Logo na página seguinte – em capítulo intitulado, vá lá saber-se porquê, “Os caminhos de Roma” – refere-se o pelourinho de Setúbal: “Originalmente construído para a Praça da Ribeira (antigo Largo da Ribeira Velha) e depois de duas deslocações, o pelourinho é reconstruído na época de D. José I. Por representar o poder do Duque de Aveiro, o antigo símbolo local foi mandado demolir e construiu-se um novo, aproveitando a coluna antiga. (…). No cimo da coluna está o capitel de estilo coríntio trazido de Tróia”. O pelourinho que se ergue na Praça Marquês de Pombal foi construído para aquele lugar e não para o Largo da Ribeira (hoje Largo Dr. Francisco Soveral), como se depreende da leitura do citado parágrafo. Depois, são referidas “duas deslocações” que aquele vetusto símbolo terá sofrido. A que deslocações se referem os autores? Mais: no pelourinho levantado em 1774, não se aproveitou a coluna do anterior, nem o capitel que a encima proveio de Tróia. O que veio daquela península, o elemento romano daquela construção, é, precisamente, a coluna e não o capitel como, erradamente, querem os autores do roteiro (este particular aspecto consta do texto original).

O texto impreciso sobre o Pelourinho

(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

numa altura destas falar em CAVACO(S) não será o mais correcto politicamente.Deve ,portanto, aceitar-se a "tradução" para cavalas -afinal é só uma letra , o género e número.O resto é arranjo pirotécnico.Criação,amigos,CRIAÇÃO:estas lendas já estão mto estafadas,"áquinovar"!
aqrosa