O dia de hoje é um bom pretexto para a leitura da página que, há 65 anos, Sebastião da Gama escreveu, num gesto inaugural do seu Diário. Estava-se em 11 de Janeiro de 1949. A obra, que só foi publicada em 1958, constitui um dos mais interessantes documentos testemunhais sobre a prática pedagógica. É um modelo, é uma obra de arte. Que a leitura do registo do primeiro dia seja o ponto de partida para a entrada na obra!
Janeiro, 11
Para começar, falou connosco durante
uma hora o Senhor Dr. Virgílio Couto[1].
De acordo com o que disse, vão ser as aulas de Português o que eu gosto que
elas sejam: um pretexto para estar a conviver com os rapazes, alegremente e
sinceramente. E dentro dessa convivência, como quem brinca ou como quem se
lembra de uma coisa que sabe e vem a propósito, ir ensinando. Depois, esta nota
importantíssima: lembrar-se a gente de que deve aceitar os rapazes como
rapazes; deixá-los ser: «porque até o barulho é uma coisa agradável, quando é
feito de boa-fé».
Houve nesta conversa uma palavra para
guardar tanto como as outras, mais que todas as outras: «O que eu quero
principalmente é que vivam felizes».
[1]
Virgílio Couto (1901-1972). Professor metodólogo, responsável pelo
acompanhamento do estágio de Português de Sebastião da Gama na Escola Veiga
Beirão. Nesta altura, era também subdirector da escola (cf. Diário do Governo, de 3 de Novembro de
1948). Foi autor de numerosas
publicações de carácter didáctico, desgnadamente: Leituras (1948), Olhai que ledos vão...: a
história de Portugal contada na prosa e nos versos dos escritores portugueses
(1958) e Mar alto (1961). Alguns dos seus títulos foram adoptados como
manuais escolares.
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