Uma entrevista de saber, de ponderação, de responsabilidade. Uma análise que não cala nem omite. Ramalho Eanes em entrevista com Cristina Figueiredo, José Pedro Castanheira e Ricardo Costa, no Expresso de hoje, em duas páginas. A ler. Deixo alguns destaques.
Consenso
e futuro – «Na prática, os partidos têm privilegiado as áreas de divergência,
de combate e diferenciação, esquecendo as outras. Um país que carece de
alterações profundas deve procurar, em determinadas questões essenciais, a
concertação e o consenso. E a partir daí estabelecer os seus próprios planos de
reforma – o que é completamente diferente de ter de efectuar apressadamente as
reformas impostas. Além disso, a interacção dos partidos com a sociedade civil
tem sido incorrecta – mas isso também é da responsabilidade da sociedade civil.
(…)»
Percursos
– «(…) A Expo98 foi um sucesso. Mas seria necessário gastar o que se gastou?
Duvido! E os estádios de futebol – para quê? E há aquilo que se devia ter feito
e não fez: a ligação de Sines a Espanha e, possivelmente, do Porto à Galiza. (…)»
Reformar
o país – «(…) Nunca se faz uma reforma contra os indivíduos que vão dar-lhe
realização E nunca se faz uma reforma contra o país. Só se faz uma reforma
utilizando um método capaz. (…) Quando o estudo é feito por um grupo que a
sociedade civil reconhece e que tem competência e isenção, criam-se condições
imediatas de aceitação e de discussão. (…) Não percebo que esse montante [de 4
mil milhões] ou até outro se procure através de uma reforma feita em dois
meses. O estudo de uma reforma destas não demora dois meses, nem um ano –
demora mais. (…)»
Cortes, desemprego e futuro – «(…) Até podem cortar ainda mais, mas mostrem-me que esses cortes têm
resultados positivos. Primeiro, assegurem-me que não haverá ninguém com fome. (…)
Segundo, não posso admitir que se olhe para o desemprego como se fosse uma
realidade abstracta. O desemprego são desempregados! E um desempregado,
sobretudo de longa duração, é um homem que, pouco a pouco, perde a sua
autodignidade, perde respeito por si e pelos outros. Num jovem é muito pior:
sente que lhe estão a roubar o futuro. E daqui resulta ou a desistência, a
passividade, ou a evasão perversa, ou a revolta. Em muitos países as grandes
revoltas foram feitas pela juventude, que não aceita que lhe roubem o futuro! (…)
A pátria não é a entidade pela qual valerá a pena morrer, mas pela qual vale a
pena viver – pelos filhos, pelos netos, nossos e dos outros. (…)»
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