sexta-feira, 15 de abril de 2011

"A minha vida num livro", de Pedro Sena-Lino

O leitor já pensou em escrever a sua autobiografia, um bocado de si exposto na sua escrita por sua própria vontade? Assim algo como… «Construir a sua própria narrativa: como uma casa onde eu encontro o meu lugar no mundo e na história: na do mundo e na minha própria história. Mais do que uma história de poder é uma história de posse, de mim mesmo por mim mesmo.» A citação transmite o propósito – ou o desafio – deixado por Pedro Sena-Lino no início de A minha vida num livro (Porto: Porto Editora, 2010).
Habituado à escrita criativa, Sena-Lino traça desta vez um roteiro para o leitor-escritor que pretenda escrever-se, numa aprendizagem da escrita autobiográfica que passa por 42 propostas de exercícios, sustentadas em sete capítulos e ainda dois outros capítulos de recomendações e de considerações teórico-práticas.
As propostas de exercícios partem de pequenas reflexões que são outros tantos convites à escrita, alicerçados em sugestões temáticas, muitas delas ilustradas por textos de autores já conhecidos ou de autores que frequentaram os cursos de escrita autobiográfica da “Companhia do Eu”, monitorizados por Pedro Sena-Lino.
Por aqui passam Santo Agostinho e Santo Inácio de Loiola, Sartre, Julien Green, Graham Greene, Neruda, Verlaine, mas também Ruben A., Mariana Alcoforado, Fernanda de Castro, Natércia Freire, Jorge de Sena ou João Gaspar Simões. Por aqui passam a casa e os seus espaços, as perdas e os ganhos da vida, o outro e a imagem que dele fazemos, os relacionamentos e as representações, as amizades, as viagens, as experiências, os amores, as vidas feitas de sons, de odores, de gestos, num itinerário pela memória que se organiza.
No final, o leitor é escritor que correspondeu ao desafio do início. E entrou na essência da escrita autobiográfica: aí, «eu sou de facto quem conta a história, o narrador; quem a viveu, o protagonista; e o que tenho de fazer é perceber se sou eu o autor da minha história – é um exercício de recuperação, de reinvenção, do autor da história, que sou eu. É perceber que eu sou quem me crio, e encontrar a minha história – e a história que eu quero contar com acções do meu percurso de vida.» Philippe Lejeune trocado por miúdos, afinal. A partir daqui… a vida de cada um dá um filme, isto é, um livro!

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