Num mail hoje recebido, a Luísa Borges, professora e autora de literatura juvenil, deu-me conta da sua leitura do Diário de Sebastião da Gama a partir da edição que preparei e coordenei para abrir a colecção das "Obras Completas" de Sebastião da Gama, em vias de publicação pela Editorial Presença. Partilho um excerto dessa mensagem.
«Estou a gostar muito da nova edição do Diário. Era justamente a edição que faltava. Para já a capa é soberba e amiga do ambiente. A introdução é excelente. Contém imensa informação relevante sobre a época, o autor e a sua vida e círculo de amigos mais próximos. E depois creio que coloca, finalmente, o autor no lugar que merece, não só em termos de literatura, como, o que é fundamental nos tempos de desnorte educativo que correm, no lugar ímpar que deveria ter há muito, no que à reflexão sobre pedagogia da literatura portuguesa respeita. As notas são fundamentais e tornam o livro e a informação acessível e extremamente válida para todos os que o lerem, quer sejam eruditos, quer sejam professores ou alunos. O facto de incluir, finalmente, os textos dos alunos, sem cortes nem censuras confere ao Diário uma frescura renovada. Porque não teriam sido incluídos nas outras edições? Opção editorial relacionada com os custos? Forma de proteger a identidade dos alunos? E isso não poderia ter sido feito recorrendo a siglas, como é de uso em estudos de carácter psicológico? O que interessa é que o Diário aparece agora em toda a sua autenticidade e infinitamente melhor e, eu diria até, comovente, na sua teia de afectividades. Veja-se não só a relação emocional entre o professor e os alunos mas também a relação entre Sebastião da Gama e o seu orientador. Muito mais autêntica do que qualquer coaching, agora tão na berra na mais recente pedagogia norte-americana.
Em vez de andarmos todos tão ocupados com grelhas, taxas, nomenclaturas, avaliações e estatísticas, era o tempo e a hora de lançarmos uma discussão séria sobre pedagogia e formação de professores. Essa reflexão, se algum dia for feita, terá de passar obrigatoriamente por este livro. Mas para isso seria necessário que a educação em Portugal voltasse a ter um rosto e uma voz humanas ou que ambos fossem devolvidos ou tomados - de assalto - pelos seus protagonistas: os professores e os alunos. A opção de publicar os textos dos alunos do poeta devolve a voz a todos os protagonistas do acto educativo. Esse "pequeno passo", aparentemente tão simples, torna esta edição verdadeiramente "revolucionária" e única. Por que obscura razão destratamos tanto os nossos educadores? Que raio andamos a ensinar nas didácticas? Quais são as nossas referências? quando temos aqui, tão à mão, os modelos que devíamos ler, ensinar, seguir... e... seguramente, amar.»
Sem comentários:
Enviar um comentário