terça-feira, 15 de março de 2011

Mais indignação

Já há muito tempo que não falávamos. Nessa vez já distante, amargurado pelo sistema em que estava, confessava-me a sua indignação com a estrutura de ensino superior em que trabalhava, porque o andavam a pressionar para atribuir notas mais altas e para moderar a sua exigência. Chocava-o o facto de naquele nível de ensino os estudantes não terem preocupação de estudar e pretenderem apenas ter notas, boas notas, mesmo porque aquela disciplina não lhes era fundamental para a licenciatura e, portanto, não havia razão para que o professor não lhes "desse" boas notas, só boas notas. Estava indignado, claro!
Agora, voltados a falar, soube que tinha abandonado o sistema. E acrescentava, ele que já foi também professor do ensino secundário empenhado, dado à escola e a projectos: "Não sei como se sente, meu caro, mas vejo que, cada vez mais, os professores não têm motivação para ir além do cumprimento do necessário e estipulado... Esqueçam o ensino como projecto, como tarefa magna de civismo e de educação, de trabalho pedagógico e de preocupação social..." Largou mais umas farpas acutilantes sobre a forma como toda a sociedade tem vindo a sentir-se e estranhou: "Como é possível ainda haver quem queira ser professor?"
Percebi o que o movia. Entendi o retrato e o desabafo. Senti a tristeza de ouvir um amigo que colocara a educação, as humanidades e a participação cívica acima de tudo e, agora, anos passados, albergava o desencanto e a descrença. E o pior é que estas têm sido atitudes que vivem cada vez menos isoladas! E tudo isto dói...

1 comentário:

Anónimo disse...

Se dói!!!
MCT