Carlos Vaz Marques entrevistou o sociólogo Manuel Villaverde Cabral para a revista Ler deste mês (Lisboa: Círculo de Leitores, nº 98, Janeiro.2011). A cultura, a sociedade, a política, a comunicação entre estratos, as elites, as gerações… são vários bons pretextos para ler uma análise que nos toca. Aqui ficam excertos relacionados com a leitura e com a escola.
Leitura – “A leitura de livros acrescenta. Nomeadamente, a leitura de ficção e de poesia, mas também de livros de reflexão. (…) As pessoas que lêem vão sempre distinguir-se das outras e terão sempre o seu nicho de mercado. (…) Nada activa mais o neurónio do que a leitura.”
Escola – “Nós ainda estamos a ensinar a ler a crianças cujos pais não sabem ler. A pretensão da escola de fazer tudo – o que as famílias faziam, o que a sociedade devia fazer – é que está a matar a escola. Porque é evidente que não vai poder fazê-lo. A escola, para funcionar bem, supõe que os pais fazem o seu papel.”
Autoridade – “Uma escola onde a autoridade desapareceu, onde só uma autoridade intrínseca, moral, etc., se pode exercer, é uma escola onde as famílias em que a crise de autoridade foi melhor resolvida, melhor negociada, voltam a ter uma espécie de vantagem. Ou seja, quanto mais anárquica a situação, mais beneficiados saem aqueles que têm uma boa estrutura familiar e social.”
Motivação – “Na escola (…) há uma crise de motivação. E porquê? Por causa da massificação dos diplomas escolares. A massificação aconteceu numa sociedade envelhecida, rígida, estatizada até ao tutano, onde de facto os jovens com habilitações tinham emprego. Ainda hoje, a taxa de desemprego do estudante universitário em Portugal é comparativamente baixa. Tem é aumentado muito, o que cria um trauma. Daí a dizer que não valia a pena massificar dessa maneira vai um passo que muita gente dá imediatamente. Mas há o tal problema da motivação. O problema dos bairros problemáticos é que muitos jovens não vêem como e em quê aquilo lhes vai servir. Depois, alguns deles exprimem-se para o lado. Musicalmente, por exemplo. E muito bem.”
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