Levei-lhes O Lobo Milagreiro, de Raymond Léopold Bruckberger (1907-1998), para lhes ler na aula, que isto de incentivar à leitura também exige que se lhes leia. Imaginei que a narrativa poderia ser um pouco extensa e, em consequência, desmotivá-los. Imaginei ainda que o facto de correr em torno de um eixo constituído por uma figura da Igreja poderia não captar o interesse até final. Bem sei que, para ultrapassar isto, lhes contei alguns pormenores sobre S. Francisco de Assis e a sua designação como padroeiro dos ecologistas; bem sei que, com igual intenção, lhes falei de histórias de animais. Mas…
Certo é que aqueles alunos de 8º ano ficaram presos ao fio da história. E, como não foi possível concluir a leitura da narrativa no tempo de uma aula, quiseram que fosse continuada na seguinte.
Pedi-lhes, depois, comentários. Gostaram. E até notaram que esta história deveria ser conhecida pelos homens, porque fala deles, porque fala de coisas que fazem falta à sociedade. Só depois, para mostrar que as suas observações eram bem realistas, lhes li a justificação que o monge dominicano francês escreveu para esta história: “Muitas vezes me tem sido perguntado em que circunstâncias escrevi a história do lobo de Gubbio. Foi no fim da Guerra depois da libertação de Paris. Sentia-me farto da guerra, das suas derrotas e vitórias, farto de andar no mundo, fatigado da covardia dos homens, da vaidade das mulheres e das mentiras de todos, farto e desiludido de mim próprio. Voltei-me para os santos e, entre todos, para Francisco de Assis, o Pobre que a mãos cheias dá a alegria. (…) Também muitas vezes me têm perguntado qual o significado desta parábola. Ora! Cada qual que se deixe levar pela narrativa, que medite nela no fundo do seu coração, e os significados brotarão para ele como um campo de flores. (…) Não posso crer que o lobo de Gubbio não esteja no Paraíso, e quando lá nos encontrarmos com ele é em francês que havemos de falar-lhe. Era de resto a língua predilecta do seu Mestre.”
A história contada pelo padre Bruckberger retoma aqueloutra que é contada nas Fioretti, em que Francisco de Assis estabeleceu a paz entre um lobo e a população de Gubbio. A edição utilizada (Col. “1001 Livros”. Lisboa: Lisboa Editora, 2007), com orientação de leitura, tem tradução de Jorge de Sena.
Sublinhados
* “As mães, mesmo as menos ternas, têm um instinto infalível para conhecer os filhos.”
* “Como o poder, como o próprio heroísmo, a beleza tem a sua fatalidade própria, que empareda os seres dela privilegiados numa intransponível solidão.”
* “A alegria de um povo é um espectáculo tão formidável como um incêndio de floresta ou uma inundação.”
* “Nunca são os que ganham as batalhas que celebram as vitórias.”
* “A decadência de um ser nunca é súbita. É preparada de longa data por múltiplos abandonos.”
* “Uma conversão não acaba coisa alguma. Pelo contrário com ela começa tudo, o mais difícil e o mais belo.”
Sem comentários:
Enviar um comentário