Fernando Mendes, nome dedicado ao futebol, é, juntamente com Luís Aguilar, o responsável pelo livro Jogo Sujo (Alfragide: Livros d’Hoje / Leya, 2009), título que a editora explicou promocionalmente em capa como sendo a maneira de conhecer “o verdadeiro mundo do futebol português”, ali se aliando “doping, prostituição, favorecimentos financeiros, acidentes de arbitragem e não só”. Um mundo, claro!, e que mundo!...
Quase três décadas andou Fernando Mendes no futebol, passando pelos considerados grandes clubes portugueses. O que sai agora na forma escrita é o testemunho do que de pior enfeita o desporto, de um mundo em que o próprio narrador participou – “Quero salvaguardar que este livro não é nenhum exercício gratuito de desculpabilização. Estou consciente de que, ao longo da minha carreira, participei em situações pouco dignificantes para a minha pessoa e para a verdade desportiva. Mas assumo o que fiz e aceito as minhas culpas no cartório.”
Ao longo do escrito, Fernando Mendes insiste na tecla da honestidade várias vezes, e não esconde ao leitor que a sua intenção é a de “contribuir para informar melhor os que vivem desinformados”. No entanto, a forma como a história é contada, não revelando nomes nem datas precisas, lança o leitor numa onda de suspeição, porque os envolvidos nas histórias contadas podem ser muitos. Questão de defesa, já se vê. Até porque, conforme nota final, numa primeira versão do livro, estavam apontados nomes, locais e datas relativos aos factos relatados, pormenores que saltaram da edição definitiva porque, “infelizmente, o clima de medo e de censura instalado no futebol português tornou impossível juridicamente que essas mesmas pessoas fossem expostas”.
Após a viagem por este testemunho, o leitor pode não ficar com mais informação quanto ao mundo do futebol do que aquela que consta na capa. Mas fica com a palavra de alguém que pretende não esconder e que assume ter aceite o doping enquanto futebolista: “Este livro, cheio de verdades e experiências na primeira pessoa, é um dever cumprido. Um dever para com todos os profissionais e adeptos do futebol. Pode ser que depois do meu relato as pessoas percebem porque é que em determinados momentos em determinados momentos certos jogadores rendem mais ou menos do que se estava à espera. Pode ser que passem a ver o jogador de futebol de uma forma mais humana.” Esta seria uma boa causa para dizer a experiência, embora no leitor possa ficar a dúvida se um testemunho como este (onde nem faltam as manifestações afectuosas para a família, especialmente para as filhas, ou o registo do apreço sentido com “uma boa queca”) conterá os elementos suficientes para esse rosto de humanidade que é necessário dar aos desportistas…
O livro é homenagem a uns tantos homens que com o autor privaram – colegas de jogo, treinadores, dirigentes – mas também uma denúncia do que vai mal no mundo do futebol em que todos esses protagonistas (autor incluído) se movimenta(ra)m.
Quase três décadas andou Fernando Mendes no futebol, passando pelos considerados grandes clubes portugueses. O que sai agora na forma escrita é o testemunho do que de pior enfeita o desporto, de um mundo em que o próprio narrador participou – “Quero salvaguardar que este livro não é nenhum exercício gratuito de desculpabilização. Estou consciente de que, ao longo da minha carreira, participei em situações pouco dignificantes para a minha pessoa e para a verdade desportiva. Mas assumo o que fiz e aceito as minhas culpas no cartório.”
Ao longo do escrito, Fernando Mendes insiste na tecla da honestidade várias vezes, e não esconde ao leitor que a sua intenção é a de “contribuir para informar melhor os que vivem desinformados”. No entanto, a forma como a história é contada, não revelando nomes nem datas precisas, lança o leitor numa onda de suspeição, porque os envolvidos nas histórias contadas podem ser muitos. Questão de defesa, já se vê. Até porque, conforme nota final, numa primeira versão do livro, estavam apontados nomes, locais e datas relativos aos factos relatados, pormenores que saltaram da edição definitiva porque, “infelizmente, o clima de medo e de censura instalado no futebol português tornou impossível juridicamente que essas mesmas pessoas fossem expostas”.
Após a viagem por este testemunho, o leitor pode não ficar com mais informação quanto ao mundo do futebol do que aquela que consta na capa. Mas fica com a palavra de alguém que pretende não esconder e que assume ter aceite o doping enquanto futebolista: “Este livro, cheio de verdades e experiências na primeira pessoa, é um dever cumprido. Um dever para com todos os profissionais e adeptos do futebol. Pode ser que depois do meu relato as pessoas percebem porque é que em determinados momentos em determinados momentos certos jogadores rendem mais ou menos do que se estava à espera. Pode ser que passem a ver o jogador de futebol de uma forma mais humana.” Esta seria uma boa causa para dizer a experiência, embora no leitor possa ficar a dúvida se um testemunho como este (onde nem faltam as manifestações afectuosas para a família, especialmente para as filhas, ou o registo do apreço sentido com “uma boa queca”) conterá os elementos suficientes para esse rosto de humanidade que é necessário dar aos desportistas…
O livro é homenagem a uns tantos homens que com o autor privaram – colegas de jogo, treinadores, dirigentes – mas também uma denúncia do que vai mal no mundo do futebol em que todos esses protagonistas (autor incluído) se movimenta(ra)m.
Coisas que ficam:
De pequenino – “Se há coisa que me faz impressão hoje em dia é olhar para as camadas jovens dos clubes e ver alguns miúdos cheios de manias e balelas. Alguns têm qualidade, mas outros não passam de uns bananas que não sabem fazer nada sozinhos. Actualmente, um miúdo que viva a um quilómetro do campo de treinos precisa que a carrinha do clube o vá buscar a casa.”
Deus e o futebol – “Se Deus um dia resolvesse descer à Terra para vir a Portugal ver um jogo de futebol, esse jogo só poderia ser um Sporting-Benfica. (…) Nada se compara ao sentimento que existe num clássico entre leões e águias. É o derbi de todos os derbies. Faz lembrar as histórias de banda desenhada em que o herói não pode viver sem o vilão.”
Futebol – “O futebol é quase sempre racionalizado pela irracionalidade. (…) Os impropérios são a linguagem natural do futebol.”
Vitória de Setúbal – “Tive oportunidade de assinar o meu nome na história de um dos clubes mais bonitos de Portugal. (…) Serão poucas as equipas que têm uma relação tão afectiva e tão próxima das pessoas da sua terra como a que existe entre o Vitória e a cidade de Setúbal.”
Tudo e nada – “Durante os anos em que andei no mundo da bola, percebi da forma mais cruel que, para ganhar, vale quase tudo. A saúde humana é secundária.”
Retrato(s) – “No futebol, conhecemos muita gente enquanto estamos em alta, mas (salvo raras excepções) a maioria dessas pessoas não vale nada. São falsas, invejosas e perigosas. Além disso, no futebol também somos obrigados a crescer muito depressa. (…) Não aprendemos apenas a jogar futebol, aprendemos tudo o resto: as diversas artimanhas e truques que possamos colocar ao serviço da nossa equipa. Com o passar do tempo, vamos ficando peritos em lidar com colegas, adversários, dirigentes e árbitros.”
Deus e o futebol – “Se Deus um dia resolvesse descer à Terra para vir a Portugal ver um jogo de futebol, esse jogo só poderia ser um Sporting-Benfica. (…) Nada se compara ao sentimento que existe num clássico entre leões e águias. É o derbi de todos os derbies. Faz lembrar as histórias de banda desenhada em que o herói não pode viver sem o vilão.”
Futebol – “O futebol é quase sempre racionalizado pela irracionalidade. (…) Os impropérios são a linguagem natural do futebol.”
Vitória de Setúbal – “Tive oportunidade de assinar o meu nome na história de um dos clubes mais bonitos de Portugal. (…) Serão poucas as equipas que têm uma relação tão afectiva e tão próxima das pessoas da sua terra como a que existe entre o Vitória e a cidade de Setúbal.”
Tudo e nada – “Durante os anos em que andei no mundo da bola, percebi da forma mais cruel que, para ganhar, vale quase tudo. A saúde humana é secundária.”
Retrato(s) – “No futebol, conhecemos muita gente enquanto estamos em alta, mas (salvo raras excepções) a maioria dessas pessoas não vale nada. São falsas, invejosas e perigosas. Além disso, no futebol também somos obrigados a crescer muito depressa. (…) Não aprendemos apenas a jogar futebol, aprendemos tudo o resto: as diversas artimanhas e truques que possamos colocar ao serviço da nossa equipa. Com o passar do tempo, vamos ficando peritos em lidar com colegas, adversários, dirigentes e árbitros.”
Sem comentários:
Enviar um comentário