No Público de hoje, dois bons textos sobre educação que merecem uma leitura e um olhar atentos.
O primeiro, de Helena Carvalhão Buescu (a ler aqui), sobre as aprendizagens essenciais, sobretudo no domínio do Português do ensino secundário. Um texto de preocupações que, mais do que serem dos professores, deviam ser dos pais, das famílias e da sociedade. Reduzir o ensino secundário ao “essencial”, seja isso o que for, é dar uma machadada no espírito crítico tão necessário, é deixar ao livre arbítrio dos níveis de exigência (não da exigência em si) a preparação e o apoio aos alunos, á ajudar a que se pense e conheça cada vez menos. Os argumentos de Buescu, que subscrevo (para que dúvidas não restem), fazem-me lembrar uma história passada com um colega, professor de Português, há uns anos: uma mãe de um seu aluno de 11º ano encontrou-o e, feliz, contou-lhe que o filho estava a estudar Os Maias. Quando o colega quis saber como era feito esse estudo (que só podia ser através da leitura da obra, obviamente), a progenitora explicou que, todos os dias, à noite, lhe lia um bocadinho do romance até ele adormecer...
O segundo texto é uma entrevista feita por Bárbara Wong à professora universitária sueca Inger Enqvist (que pode ser lido aqui), que, nos seus 71 anos de saber e com uma simplicidade impressionante, diz verdades fundamentais que variadas correntes têm andado a contestar e a alastrar essa oposição, estando a deixar marcas nos sistemas educativos. Marcas que, como sabemos, são fenómenos de moda e que deixarão resquícios de que nos viremos a arrepender, por certo. Vale a pena ler a entrevista na íntegra, independentemente de nos situarmos na sociedade como pais, como professores ou como educadores. Acho que serve para todos, sem excepção. Deixo algumas citações:
“Aprender a aprender”- O “aprender a aprender” dá a ideia de que se aprendeu alguma coisa que se pode usar noutras situações, mas a investigação diz que não. É preciso aprender os factos para se ser capaz de pensar, compreender e chegar a conclusões. É preciso ter muito conhecimento para ser capaz de pensar bem.
“Em Portugal ou no Reino Unido, ninguém quer ser professor” -É um problema também noutros países. Em comum, têm o facto de terem introduzido a “nova pedagogia” que diz que o estudante tem direitos e não é obrigado a obedecer ao professor. Quando o aluno pode entrar ou sair da sala de aula, quando pode chegar e não trazer os trabalhos feitos, ou pode dirigir-se ao professor de forma desrespeitosa, ninguém quer ser professor.
Perfil de um bom professor- Para ter bons professores é preciso ter um Governo que imponha boas regras. Um bom professor tem de ter uma boa preparação, em termos da língua e do conhecimento, e gostar de aprender. Mas é preciso aceitar que qualquer aluno possa estar em turmas de diferentes níveis.
Os pais nunca devem falar mal dos professores?- Nunca. Podem dizer: “Se fosse eu, não faria assim, mas aprende tudo o que puderes com essa pessoa.”
Nas férias do Verão, os alunos devem continuar a estudar?-Primeiro, é necessário ir com eles para a rua, depois pô-los a ler. Ler pelo prazer. Até podem oferecer uma recompensa: “Lê dez livros e oferecemos-te uma viagem.” Se não forem bons leitores, não serão bons alunos.
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