O
nome de Sun Tzu anda associado à sua obra A
Arte da Guerra, escrito com dois milénios e meio de vida, durante muito
tempo entendido como um manual orientador de estratégia e teoria militar, mas
trazido para outras áreas do saber, como a gestão, tão ricos e de plurais
leituras são os princípios enunciados.
No
final do ano passado, uma editora lançou uma colecção de reflexões nas mais
diversas áreas, partindo de enunciados de Sun Tzu e incluindo o título da sua
obra nos diversos títulos da série, nela entrando temas como a negociação, a
gestão, o treinador, a liderança, o serviço ao cliente, entre outros, sempre
abordados por diferentes autores. De Ana Teresa Penim é A Arte da Guerra na Educação e Formação (Lisboa: Top Books, 2014),
um repositório de dezanove capítulos que constituem outros tantos momentos de
reflexão para quem trabalha na área da educação.
Cada
um dos capítulos abre com uma citação em jeito de epígrafe (devidas, não só a
Sun Tzu, mas também a figuras como Aristóteles, Cocteau, Darwin, Einstein,
Erasmo, Gandhi, Mao Tsé-Tung, Paulo Freire, Puig ou Rousseau, aqui entradas por
ordem alfabética), a que se segue o relato de
uma história vivida pela autora, incluindo curta reflexão que fecha com um lote
de perguntas ao leitor no sentido de este pensar sobre os seus procedimentos
perante situações relacionadas com a história contada.
A
história inaugural poderia ser colada a muitos dos leitores: uma amiga
telefona, em desespero, porque o seu filho de 14 anos, no 9º ano, vive “um
cenário negro” na escola e “já não sabia o que fazer” com ele, com resultados
catastróficos que estavam ainda a condicionar a sua auto-estima, ainda por cima
tendo o pai sido também aluno do mesmo colégio, com um, percurso feliz. O
pedido final era o previsto: como “encontrar novas estratégias para o percurso
escolar do filho”?
Está
assim esboçado o caminho para que o livro aborde as “competências para a vida”
(“life skills”), mesmo pelos exemplos que, mais adiante, são invocados e não
constituem nenhum paradoxo: três nomes indiscutíveis quanto à sua importância
na cultura universal como Beethoven, Darwin e Einstein passaram por fases de
rejeição e foram rotulados de incapazes – o primeiro, desajeitado com o
violino, recusava melhorar a sua técnica e era visto pelo professor como um
compositor fracassado; o segundo, desistente de um percurso médico, foi
considerado pelo pai como estando abaixo da média por só “ligar à caça e a
animais”; o terceiro viveu longamente visto como sonhador, gozado, expulso e
recusado em escolas, um “caso perdido” até à construção da sua teoria em 1919.
As
relações pessoais e as ligações com os outros saberes, os percursos e os
interesses das pessoas, a relação com o quotidiano, a gestão do que corre menos
bem e a energia para contagiar positivamente os outros, a cultura
organizacional e o protagonismo de todos, a avaliação, a capitalização do medo,
a auto-reflexão sobre as práticas educativas, a trilogia que associa os gostos
à motivação e à novidade, a capacidade de adaptação, todas estas ondas
constituem o conjunto de olhares e de pensamentos que se nos impõem ao longo da
pouco mais de centena e meia de páginas deste livro. E, a terminar, nem falta
um texto em forma de manifesto em favor da educação e da aprendizagem ao longo
da vida, assente em vinte e dois princípios, que culmina, seguindo a linguagem
militar, na “conquista”, assim explicitada: “Nesta batalha sem tréguas, a
liderança por todos, a 360°, independentemente da patente que possuem, assume
uma missão determinante: fomentar o sonho e as práticas para a conquista de um
ideal de Aprendizagem”.
Uma
forma de desafiar cada um a perguntar-se como melhorar, tendo em vista a acção
pedagógica com o outro, o sucesso em que um e outro têm de estar envolvidos.
Sublinhados
Aprender – “A aprendizagem e a felicidade são uma batalha
constante que não estão isentas de esforço e dor.”
Aprender – “Quem morre na vontade de aprender morre para a
vida.”
Emoção – “Por vezes, a guerra em que nos vemos envolvidos é tão forte que a
emoção não nos deixa pensar. Nesses casos é melhor abandonarmos o terreno de
batalha e dar tréguas às emoções, sem deixar que o pânico se instale nas nossas
tropas.”
Medo – “É no lugar onde o medo habita que moram as maiores oportunidades de
desenvolvimento e de vitória.”
Negativo – “As emoções básicas negativas boicotam ou paralisam
a proactividade, energia, criatividade e capacidade de relacionamento com os
outros, pelo que tudo deve ser feito para não se deixar contaminar
negativamente.”
Perfeição – “O ser humano tem a beleza de estar
irremediavelmente inacabado.”
Simplicidade – “A simplicidade está um passo acima da
complexidade. Não há nada mais complexo e que exija mais arte do que ser capaz
de simplificar.”
Solução – “Quem quer encontra uma solução; quem não quer
encontra uma desculpa.”
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