Quando,
há dois dias, o telefone tocou e vi que era uma chamada da Ângela, o filme
começou a correr. A conversa confirmava a suspeita. O Vítor Wladimiro, o pai da
Ângela, tinha partido. Ao mesmo tempo que a saudade e a tristeza, agarrava-me a
alegria de ter conhecido o Vítor e de termos construído uma amizade de 26 anos,
com início da história numa tarde de sábado de 1986, graças a uma boleia de
Beja para Lisboa, sugerida pelo Miguel, também filho do Vítor e meu companheiro
no serviço militar no Regimento de Infantaria local, viagem em que vinha ainda
a Ana Maria, esposa do Vítor.
A
partir daí, tive o privilégio do convívio com uma pessoa extraordinária: no seu
saber e na sua cultura, na sua disponibilidade para os outros, na sua amizade,
na sua frontalidade e sinceridade, na sua liberdade. (Recomendo a leitura do
postal que o Miguel publicou ontem sobre o pai, uma biografia que em nada exagera
o retrato e com um percurso que eu testemunhei em muitas ocasiões.)
Foram
muitos os nossos encontros. Alguns tinham como pretexto o trabalho (numa dessas
ocasiões, conheci o Nuno, o outro filho), já que o Vítor Vladimiro me convidou
para integrar alguns dos projectos que coordenou. Todos tiveram o condimento da
amizade.
Bom
conversador, de palavras certeiras e análise camiliana, muito aprendi nestes
encontros e na correspondência que trocámos. Aproximámos famílias, de tal forma
que os meus filhos com frequência me perguntavam pelo amigo Vítor, tão
cuidadoso era ele em mandar sempre uma saudação ou um alegre dizer para a
rapaziada!
Nunca
esquecerei uma viagem que fizemos, em Junho de 2005, até S. Miguel de Seide, à
casa de Camilo, itinerário de um dia, a matar saudades do seu parente afastado
e eu a ver Camilo por um mais próximo olhar, dia ainda enriquecido por uns rojões
que minha mãe nos aprontou, polvilhados por um gosto que o Vítor recordaria
várias vezes… (Ironia do destino: o Vítor Wladimiro desapareceu quando se estão
a celebrar os 150 anos do camiliano Amor
de Perdição!...)
Há
cerca de um mês e tal, quando o visitei pela última vez, vim com a tristeza a
querer invadir-me, mas também com a ligeira esperança de que ainda iríamos ter
mais encontros. Enganei-me, claro! E o telefonema da Ângela provou-o.
Tive
sorte por ter conhecido o Vítor Wladimiro Ferreira, de quem era difícil não se gostar.
Estou muito contente por essa possibilidade que se me proporcionou. Tenho
muita, muita pena por não poder continuar a contar com ele, com a sua presença,
com o seu saber e sentir. Presto-lhe a minha homenagem.
[na foto: Vítor Wladimiro Ferreira, em 24 de Junho de 2005, em Seide, na casa de Camilo]
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