quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Memória: Vítor Wladimiro Ferreira (1934-2012)



Quando, há dois dias, o telefone tocou e vi que era uma chamada da Ângela, o filme começou a correr. A conversa confirmava a suspeita. O Vítor Wladimiro, o pai da Ângela, tinha partido. Ao mesmo tempo que a saudade e a tristeza, agarrava-me a alegria de ter conhecido o Vítor e de termos construído uma amizade de 26 anos, com início da história numa tarde de sábado de 1986, graças a uma boleia de Beja para Lisboa, sugerida pelo Miguel, também filho do Vítor e meu companheiro no serviço militar no Regimento de Infantaria local, viagem em que vinha ainda a Ana Maria, esposa do Vítor.
A partir daí, tive o privilégio do convívio com uma pessoa extraordinária: no seu saber e na sua cultura, na sua disponibilidade para os outros, na sua amizade, na sua frontalidade e sinceridade, na sua liberdade. (Recomendo a leitura do postal que o Miguel publicou ontem sobre o pai, uma biografia que em nada exagera o retrato e com um percurso que eu testemunhei em muitas ocasiões.)
Foram muitos os nossos encontros. Alguns tinham como pretexto o trabalho (numa dessas ocasiões, conheci o Nuno, o outro filho), já que o Vítor Vladimiro me convidou para integrar alguns dos projectos que coordenou. Todos tiveram o condimento da amizade.
Bom conversador, de palavras certeiras e análise camiliana, muito aprendi nestes encontros e na correspondência que trocámos. Aproximámos famílias, de tal forma que os meus filhos com frequência me perguntavam pelo amigo Vítor, tão cuidadoso era ele em mandar sempre uma saudação ou um alegre dizer para a rapaziada!
Nunca esquecerei uma viagem que fizemos, em Junho de 2005, até S. Miguel de Seide, à casa de Camilo, itinerário de um dia, a matar saudades do seu parente afastado e eu a ver Camilo por um mais próximo olhar, dia ainda enriquecido por uns rojões que minha mãe nos aprontou, polvilhados por um gosto que o Vítor recordaria várias vezes… (Ironia do destino: o Vítor Wladimiro desapareceu quando se estão a celebrar os 150 anos do camiliano Amor de Perdição!...)
Há cerca de um mês e tal, quando o visitei pela última vez, vim com a tristeza a querer invadir-me, mas também com a ligeira esperança de que ainda iríamos ter mais encontros. Enganei-me, claro! E o telefonema da Ângela provou-o.
Tive sorte por ter conhecido o Vítor Wladimiro Ferreira, de quem era difícil não se gostar. Estou muito contente por essa possibilidade que se me proporcionou. Tenho muita, muita pena por não poder continuar a contar com ele, com a sua presença, com o seu saber e sentir. Presto-lhe a minha homenagem.
[na foto: Vítor Wladimiro Ferreira, em 24 de Junho de 2005, em Seide, na casa de Camilo]

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