quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Do discurso do Ministro das Finanças


O Ministro das Finanças de Portugal deu hoje conferência de imprensa que ouvi na rádio. Apreciei o tom académico, técnico, que utilizou. Não duvido da eficácia deste tipo de discurso perante os seus pares. Não duvido sequer da sua competência na área. Duvido da sua capacidade política porque, queira-se ou não, um ministro tem de ser um político também. E, no caso do Ministro das Finanças, não foram as alusões à liberdade e ao princípio da independência com que concluiu o seu discurso que salvaram o tom tecnocrático e elaborado (mesmo com metáforas da economia), nada vocacionado para os contribuintes saberem, afinal, umas coisas simples: quanto vão ter de pagar mais, o que resolvem estes aumentos, quais foram os erros cometidos nos princípios que têm vigorado, o que fica para fazer, por quanto tempo a situação vai ser esta de nos confrontarmos com aumentos de impostos, com aumentos de impostos, com aumentos de impostos, o que vai ser feito para não se repetirem eventuais erros, quais as razões que levam a sacrificar a educação, a segurança social e a segurança interna?
Nada disto foi dito. Nenhum português pode pensar, depois da conferência de imprensa, na forma como vai gerir a sua casa, a sua família, a sua vida. Nenhum. Apenas se sabe que é uma carga “enorme” (adjectivo do Ministro), mas isso não basta para fazer contas nem para se adivinhar em nome de quê. Rematar com a liberdade, a democracia e a independência é poético, mas não é objectivo. E a esses remates já o Almada Negreiros respondia no célebre Manifesto anti-Dantas

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