domingo, 15 de julho de 2007

Cinco livros - o(s) quinto(s)

É lapaliciano dizer que as guerras evoluíram na forma de serem concebidas e de serem realizadas. Mas uma questão que raramente vem à tona é a da experiência dos guerreiros (ou dos combatentes, como se queira), ainda que a ficção e o cinema com frequência a elejam como motivo. Ernst Jünger (1895-1998) esteve nas trincheiras da “frente” da I Grande Guerra (1914-1918) pelo lado alemão, tendo sido ferido em combate muitas vezes (duas dezenas de cicatrizes) mas sempre regressando às linhas.
Em 1922, publicou Der Kampf als inneres Erlebnis, recentemente traduzido para português sob o título A Guerra como Experiência Interior (Lisboa: Ulisseia, 2005). É um escrito que enaltece a memória da guerra, a reflexão sobre as memórias, questionando e explicando os homens, as atitudes, esse assumir cada vez mais completo e feito de forma imperceptível do que é estar-se dentro de uma guerra, fazendo-a. A linguagem usada, sem ser para contar histórias, não esquece essa marca da escrita da guerra, com um vocabulário próprio (logo a partir do primeiro parágrafo do “Preâmbulo”) que toma como referente a destruição e invoca as vivências na trincheira perante o assalto do fogo, das armas, da guerra na sua visão mais próxima. Não foi por acaso que o anterior livro de Jünger sobre a sua experiência nesse conflito se chamou Tempestades de Aço (1920)!...
Os títulos dos capítulos deste A Guerra como Experiência Interior são, de resto, lacónicos na quantidade de palavras, mas expressivos na mensagem, quase sendo propostos ao leitor como se no meio da guerra estivesse, em “flashes” de destruição: “Sangue”, “Horror”, “Trincheira”, “Bravura”, “Fogo”, “Angústia”, para só citar alguns.
A literatura portuguesa sobre a I Grande Guerra existe e o leitor sempre poderá ler Jaime Cortesão, nas suas Memórias da Grande Guerra (Porto: Renascença Portuguesa, 1919), ao mesmo tempo que lê Jünger, mesmo porque são duas experiências da “frente" e da trincheira, uma de cada lado da “no man’s land”! Se a curiosidade nos levar a questionar quanto à origem da guerra, bem podemos ainda seguir a correspondência entre Albert Einstein (1879-1955) e Sigmund Freud (1856-1939), datada de 1932, inserida em Porquê a Guerra?, que teve recente edição portuguesa (Mem Martins: Publicações Europa-América, 2007).

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