sexta-feira, 13 de julho de 2007

Cinco livros - o segundo

Conjunto dos dias experimentados entre 3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro de 1993 e projecto de escrita de autor levado a cabo com a minúcia do tempo e da vida, o Diário, de Miguel Torga (1907-1995), é uma das mais extensas práticas diarísticas que existe na escrita autobiográfica portuguesa. Tomando como máxima uma citação de Amiel ("Chaque jour nous laissons une partie de nous-mêmes en chemin"), Torga inscreveu nesta obra (publicada entre 1941 e 1993) os seus momentos de poesia, de dureza, de histórias, de afectos, de cenas, de trajectos, de retratos, de desabafos, de vivências, aí ressaltando o homem (na sua experiência e no seu encarar a vida) mas também o escritor (na forma como selecciona os momentos e como inscreve a vida na literatura). Entre o primeiro e o 16º volumes, há o itinerário entre dois poemas, ambos escritos em Coimbra: "Santo e senha", que inicia o volume inaugural (em 3 de Janeiro de 1932), abertura para o caminho - "Deixem passar quem vai na sua estrada" diz o primeiro verso - e "Requiem por mim", que finaliza o derradeiro volume (em 10 de Dezembro de 1993), ponto final na escrita - "Aproxima-se o fim. / (...) / Longo foi o caminho e desmedidos / Os sonhos que nele tive. / Mas ninguém vive / Contra as leis do destino."
Percurso de um narrador que se move entre S. Martinho da Anta e o Mundo, o Diário de Torga é uma das mais belas e interessantes obras que li, ainda na apresentação em 16 volumes, de folhas cujo corte exigia a participação do leitor, numa edição simples e sóbria [há edição recente do Diário em dois volumes].

2 comentários:

Teresa Lobato disse...

Como é que só hoje conheci o seu blog? Terei andado distraída?
Aproveito para agradecer a ligação para o meu... Retribuirei, porque é sempre bom ler sobre o que se bem escreve.
Sobre esta ideia de lançar às luzes cinco livros, acho-a muito interessante, e partilho a leitura de Torga. Posso dizer-lhe que costumo ler aos meus miúdos (5º e 6º anos) alguns dos seus contos (Bichos) e que são sempre ouvidos com toda a atenção. Não me venham etiquetar os livros nem os autores por anos, por favor! Ainda sou do tempo em que se lia "O Cavaleiro da Dinamarca" no 2º ciclo. Agora lê-se no 3º...
Desculpe este desabafo...
Passarei a visitar este espaço com mais frequência.
Abraço

João Reis Ribeiro disse...

Obrigado, Teresa! Quanto a essa história da etiquetagem etária das leituras... concordo consigo. Infelizmente isso não tem estado a muito favor da promoção da leitura!... Ver-nos-emos mais vezes por aqui ou... talvez [n]uma península... Abraço.