quarta-feira, 10 de junho de 2009

Intervalo (16) - O professor está sempre errado

É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de “barriga cheia".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um "caxias".
Precisa faltar, é um "turista".
Conversa com os outros professores, está "malhando" os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu "mole".
É, o professor está sempre errado,
mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele.
(fonte - Revista do Professor de Matemática, nº 36,1998.)

O texto foi-me enviado hoje por pessoa amiga. Mas ele já circula há muito pela net, seja em blogues ou em sítios. Desconheço a autoria e a versão que recebi indica um número da Revista do Professor de Matemática como fonte da edição.
Achei oportuna a publicação, graças à fase do ano lectivo em que estamos. Num final em que valeria a pena pensar o que de bom aconteceu e teve influência. O que se conseguir descobrir talhará a proporção das coisas boas...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

De Setúbal para o Parlamento Europeu: os concelhos e o distrito

O Setubalense: 08.Junho.2009.

Terá sido a papa?

Luís Afonso. Público: 08.Junho.2009.

De Portugal para o Parlamento Europeu: o jogo das cores (2004-2009)

Público: 08.Junho.2009

Não foi no dia seguinte...

... foi no próprio dia das eleições para o Parlamento Europeu, logo que foram sabidas as projecções e os resultados de Portugal, que voltou o papão da "governabilidade" para preparar caminho das eleições legislativas. É lamentável que haja tão fraco argumento a favor de um provável resultado ou de uma desejada vitória! Mas não admira, pois se com a Provedoria da Justiça foi o que foi... e ainda não está resolvido!... A "governabilidade"!... Espantoso! Como se a democracia fosse apenas uma montra!...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Tróia através da memória

As turmas A, B, C e D de 9º ano da Escola Secundária D. João II, em Setúbal, fizeram entrevistas para saber como foram vividos pelos setubalenses os verões na Tróia no período entre 1950 e 1974. Dessa procura, feita no âmbito da disciplina de História, resultou o livro agora publicado Quando a Tróia era do Povo (Setúbal: Escola Secundária D. João II, 2009), que tem coordenação de uma equipa de professores constituída por Jaime Pinho, Maria José Simas, Alberto Lopes, Isabel Duarte, Luísa Ramos e Álvaro Arranja.
O título atribuído à colectânea divide o tempo da Tróia em dois segmentos: aquele em que “a Tróia era do povo”, passado, popular, bem evidenciado no título e, pela adesão, comprovado nos testemunhos recolhidos e publicados, e um tempo de agora, não referido mas sugerido, em que, supostamente, a Tróia não será “do povo”. Fica, pois, uma sensação de perda de um espaço e de um tempo, vivo na memória e materializado na escrita.
Ao longo da cerca de uma centena de páginas, passam testemunhos sobre a paisagem (dunas, flora, fauna, casas), sobre os quotidianos (vendedores ambulantes, convívio, vestuário, dormidas, higiene, alimentação), sobre retratos sociais (dos habitantes de Setúbal, Azeitão, Palmela e Pinhal Novo ao primeiro turismo). Pelos testemunhos mostrados passa um rememorar o vivido, encarado de um ponto de vista pessoal, em jeito de lembrança de outros tempos que eram diferentes dos de agora.
Um último capítulo aborda algumas páginas do periódico O Setubalense que noticiaram o veraneio em Tróia na mesma época. Não sendo um texto de análise, pretende, de alguma forma fazer a junção entre o título do livro e os testemunhos que foram recolhidos e não será por acaso que essa recolha na imprensa conclui com o gesto de Américo Tomás, Presidente da República, a intensificar “as suas visitas e o seu apoio aos projectos de urbanização da Tróia”. Esta conclusão liga-se, de resto, à ideia com que Jaime Pinho inicia o seu texto de abertura – “Os verões na Tróia: antes da era do betão”.
É uma recolha interessante pelo que nos traz como trabalho de memória, revelador dessa forte ligação das populações ao rio, ao mar e a Tróia, uma ligação que quase prolonga Setúbal para lá do Sado. É uma recolha interessante pela capacidade de levar as pessoas a testemunharem o vivido e por ter saído de um trabalho organizado pela escola, levando os jovens a mergulhar no passado que é a história de famílias e que marcou a identidade desta região. É uma recolha interessante pelo que pode sugerir de interligação entre a Escola e a comunidade. Provavelmente, a leitura sugerida a partir do título do livro e do texto introdutório são um tanto forçadas, na medida em que, podendo ser verdade o que sugerem, o conteúdo das intervenções e dos testemunhos não o sustenta…

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Arménio Vieira é o "Camões" 2009

O cabo-verdiano Arménio Vieira foi o escritor galardoado com o Prémio Camões 2009. Nascido em 1941, é jornalista e autor de obras como Poemas (1981), O eleito do sol (1990), No Inferno (1999) e Mitografias (2006). Dele reproduzo o poema “Quiproquó” (um dos três poemas deste autor que consta no cd Poesia de Cabo Verde e sete poemas de Sebastião da Gama, apresentado por Afonso Dias em 2007):

Quiproquó

Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar no lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto

Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicído de um poeta

Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

1000º postal, com céu do Norte

Amorosa (Viana do Castelo), Abril de 2007

Neste Dia Mundial da Criança

Mary Cassatt (1844-1926), "Crianças brincando na praia"


Conservar a infância
"Conservar a infância é qualquer coisa como guardar um sinal de origem.
Parece que, quando morrer, o homem que a conserva será reconhecido jubilosamente pela mãe comum, como essas crianças perdidas, que, por um sinal, a desolada mãe reconheceu e reouve.
Conservar a infância é levar dentro de si, desperta e pronta, uma misteriosa lâmpada capaz de conduzir a luz até à alma das coisas."
Leonardo Coimbra, in A alegria, a dor e a graça
[antologiado por Matilde Rosa Araújo, em A infância lembrada (Lisboa: Livros Horizonte, 1986)]

Palmela: o feriado (que se assinala hoje) é em honra de um foral de 1512

FORAL DA VILLA DE PALMELA
dado por El Rey dom affomsso amrriquez

DOM MANUEL ECT.
Terras foreiras:
Tem a ordem primeiramente na dita villa humas terras que sam Ja propias da ordem omde chamam os barrijs e varzea. Das quaaes pagam o que se comçertam com seus ofiçiaes. Nas quaaes porem senam levaram mais coymas nem outras que as que o comçelho e villa poser ou tiver postas pera as cousas suas.
Lagares:
Item os lagares do azeite na dita villa sam da ordem e njnhuma outra pessoa os pode fazer Aos quaaes se pagara de lagaraJem e direitos dos ditos lagares o seisto do azeite que lavrarem e mais nam E o comçelho per seus ofiçiaaes que pera isso emlegera em cada huum anno tera cargo de dar as vezes e lugares aos que ouverem de fazer seus Azeites segundo se costumou.
E em quanto hy ouver azeitona pera fazer dalguuns moradores da dita villa nam se fara a azeitona da ordem njnhuma E querendosse fazer e leixandosse por ysso de fazer a azeitona do povoo Em tal caso aquella pessoa a que assy nam quiserem moer sua azeitona for fazerem a da ordem a podera hir fazer por aquella vez a outro lagar ou lugar omde mais quiser sem por ysso em correr em njnhuuma pena.
Tabaliaaens
Sam tres tabaliaaes na dita villa paga cada huum por anno myl e seis çentos e vynte Reaaes.
Sesmarias
As sesmarias seram dadas pollo almoxeriffe da ordem em camara segundo ordenaçam sem pagarem dellas njnhuum trebuto nam semdo nas terras da ordem.
Montados
Os montados sam do comçelho e nam levam disso jeeralmente direito a outras pessoas soomente per avença aos merchates que vam com gaado para lixboa lhe levam o que se comçertam se alguuns dias hy quyserem paçer.
Por que de camyinho e passJem a estes nem a outros nam se levara njnhuum direito do dito gaado.
Estalagens:
E As estallageens da dita villa sam da ordem E por serem dantijgamentte posto que per foral da dita villa lhe nam fossem comçedidas A nos aprouve de lhas confirmar com estas limjtaçooens a saber. que cada huum vezinho ou morador da dita villa possa agasalhar em sua casa quem lhe prouver de dia e de noyte assy pera comer como pera dormjr E as bestas soomente nam seram reçebidas em njnhuma outra casa nem pousada senam nas da dita ordem Salvo se as quiserem Reçeber e apousentar de graça por que emtam o poderão fazer E provando que levaram dynheiro pagem mjl Reaaes da cadea pera o estalagadeiro da dita ordem por cada vez que o assy fizerem Salvo se alguma vez tantas bestas ouvesse que nam se podessem agasalhar na sua estallagem E, tal caso requerindo primeiro o estallaJadeiro que lhe desse estrebaria em que se agasalhassem segundo as gestas que tiverem E nom lha dando se poderão agasalhar em outra posto que dellas aJam de pagar diulxyro.
Gaado do vento:
O gaado do vento he do alcaide per nossa ordenaçam com decraraçam segundo vay em elvas E assy ha pena darma E a portagem com todollos capitollos atee afym do capitollo dos privjlligiados homde diz cadas e famjlliares em tudo he tal como elvas tirando tambem que este palmella nom tem o capitollo da sacada carga por carga E no fym do capitollo dos privjlligiados entra este capitollo segjnte.
E assy o Seram os vezinhos de covjlhãa e devora e de mogadoyro e de gujmataaens E quaes quer outros lugares que se provar serem dados seus privjllegios de portagem ante da era de mjl e duzentos e vinte e quatro annos na qual foy dada aa dita villa aa ordem de santiago.
E assy o sera a dita villa em sy mesma e em setuval por ser do seu termo. E per comssegujinte a dita villa de setuval nam pagara a dita portagem na dita villa nem faram saber de huuns lugares aos outros por njnhuma cousa de portagem nem emcorrerão por isso em alguma pena.
E os dous capitollos derradeiros, a saber. E as pessoas dos ditos lugares. E qual quer pessoa que for contra este nosso foral ect. sam tambem como elvas.
Dada em a nossa muy nobre e sempre lear çidade de lixboa ao primeiro dia do mes de Junho do naçimento de nosso Senhor Jesu Cristo de mjll e qujnhemtos e doze annos E vay ecprito ho original em treze folhas sobscprito e asynado pollo dito Fernam de pina.

[reprodução fotográfica da primeira folha do foral de Palmela a partir de Os forais de Palmela - Estudo crítico (Palmela: Câmara Municipal de Palmela, 2005), obra de Maria Filomena Barros, Maria Manuela Santos Silva e João Paulo Oliveira e Costa; transcrição do documento do ANTT feita por Alexandre M. Flores e António J. Nabais (Os forais de Palmela. Col. “Estudos Locais”. Palmela: Câmara Municipal de Palmela, 1992)]