quinta-feira, 7 de maio de 2009

A farinha agradece...

Há dias, foi a frase-bomba de Manuel Pinho a aconselhar um deputado a fazer-se grande com farinha "Maizena". E o produto passou a andar nas bocas do mundo, com reportagens a contar a sua história, com indicações sobre o seu uso culinário, com espantos sobre a capacidade anunciante do ministro. Hoje, a edição do Público dá mais uma achega: página inteira de publicidade sobre a farinha "Maizena".
Não sei há quanto tempo não via um anúncio a este produto. Mas a simultaneidade surpreendeu-me. E lá temos mais um governante a vender uma coisa! Não há como incentivar as marcas e as empresas!... Abençoado! Só é pena que tenha sido da maneira que foi - a menos elegante, a menos própria, a mais demagógica, a menos educada!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Política caseira (11) - Pedro Namora "monarquiza-se" para a Câmara de Setúbal

«Pedro Namora é o candidato monárquico à câmara de Setúbal - O ex-aluno da Casa Pia, Pedro Namora, é o candidato do Partido Popular Monárquico (PPM) à câmara de Setúbal nas eleições autárquicas deste Outono, disse ao PÚBLICO o presidente do partido.
Pedro Namora, que foi militante do PCP no início da juventude, era até há alguns meses director dos Recursos Humanos do município sadino. Mas acabou por sair em conflito com a presidente Dores Meira depois de se ter colocado publicamente ao lado dos trabalhadores num processo de contestação à presidência.Há algumas semanas, o ex-aluno casapiano chegou mesmo a classificar o comportamento de Dores Meira de “prepotente, ditatorial e pidesco” numa conferência de imprensa que realizou à porta dos Paços do Concelho. Namora insurgiu-se contra alguns procedimentos da presidência, que alegadamente mandaria mudar de cargo e local os trabalhadores que criticavam a sua governação, e que queria vigiar, por exemplo, os e-mails dos trabalhadores. Confirmando esta mudança do partido comunista para as hostes monárquicas, Nuno da Câmara Pereira limita-se a afirmar, entre sorrisos, que “são ambos partidos de grandes causas e fortes convicções”.»
Público online
[foto: Pedro Namora, por Miguel Silva, Público]

terça-feira, 5 de maio de 2009

Contenham-se, caramba!

É de mestre a resposta que o ministro deu, sob a forma de recomendação, ao deputado Paulo Rangel!... Mas mestria de quê? Do que não devia ser! O nível do debate político sobe, pois. Não há crise que o vença... O que interessa é morder nas canelas a quem se oponha ou a quem questione; o resto é cortejo. Haja vergonha. E educação, já agora.
[A PÉROLA: «O ministro da Economia, Manuel Pinho, disse hoje que o deputado e cabeça-de-lista do PSD às eleições europeias, Paulo Rangel, "tem de comer muita papa Maizena para chegar aos calcanhares de Basílio Horta", a propósito da polémica sobre o programa Vasco da Gama.Manuel Pinho, que falava aos jornalistas, em Ponte de Lima, durante a apresentação da nova linha de apoio para o Turismo de Habitação e Turismo no Espaço Rural, reagia assim às declarações do candidato do PSD às eleições europeias que advertiu o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Basílio Horta, de que "corre o risco de estar a violar o seu dever de isenção" ao contestar uma proposta do PSD. (...)» (notícia da LUSA divulgada na edição online do Público]

domingo, 3 de maio de 2009

Já tínhamos percebido que havia gostos duvidosos na escolha de livros para venda em alguns locais

Ubaldo Ribeiro "chateado" com proibição de livro
«O Grupo Auchan (Jumbo) decidiu proibir, pela segunda vez em dez anos, a venda do romance A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, nos seus hipermercados. O fundamento desta medida é o carácter pretensamente pornográfico da obra, repudiado pelo seu autor."Amigo Nelson, lá vamos nós outra vez", comenta o escritor brasileiro numa mensagem enviada ao seu editor português, Nelson de Matos.
"Não há razão nenhuma para essa censura", diz Ubaldo Ribeiro. "Imagino que eles também não vendam Henry Miller ou outros autores desse tipo". Pedindo ao editor que "não se incomode nem se aborreça", o escritor declara-se "chateado" com "este acto censório", que qualifica como "irónico" e quase "suspeito": "Parece uma jogada sua de marketing para poder aumentar as vendas do livro, coisa que sucedeu da primeira vez".
João Ubaldo Ribeiro lembra que a obra foi adoptada em exames de acesso por universidades brasileiras e francesas. Refere-se ao êxito da edição do livro na Alemanha, país onde é leitura recomendada aos diplomatas que são destacados para o Brasil.O escritor afirma ainda que "está a ficar velho de mais" para se "incomodar com estas coisas". E assegura, a concluir: "Por nada disto é afectado o meu amor por Portugal. Posso dizer a esses portugueses que, por mais que eles queiram o contrário, Portugal também é meu".
A primeira proibição de A Casa dos Budas Ditosos foi há dez anos, quando Nelson de Matos era editor das Publicações Dom Quixote. Uma nova edição, lançada agora pelas Edições Nelson de Matos, volta a ter a mesma sorte. "O Grupo Auchan não vende produtos do foro pornográfico. O referido livro enquadra-se neste conjunto de artigos", explicou na semana passada ao semanário Expresso a agência de comunicação que representa o grupo. Uma segunda obra do mesmo escritor, Viva o Povo Brasileiro, está também retida para apreciação.
"Tudo isto é lamentável", disse Nelson de Matos ao PÚBLICO. "Considerar o livro pornográfico é um acto de gaguez de espírito". O editor lembra que João Ubaldo Ribeiro foi galardoado em 2008 com o Prémio Camões, o mais importante em língua portuguesa, pelo conjunto da sua obra. E que, este ano, o Brasil é o país convidado da Feira do Livro de Lisboa. Por isso, não tem dúvidas em considerar "um acto inamistoso" a proibição de livre circulação da obra por parte do Grupo Auchan:"Indigno-me contra isso, mesmo que a empresa deixe de adquirir os meus livros.
"As manifestações de apoio e solidariedade continuam a chegar, tanto da parte de figuras públicas como de gente anónima, diz o editor. Muitas das reacções vêm do Brasil, onde o caso teve várias referências nos media.»
Carlos Pessoa. Público: 03.Maio.2009

Dia da Mãe

Pequeno Poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais…
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém…

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe…

Sebastião da Gama, 07-03-1945
Serra Mãe (1945)

sábado, 2 de maio de 2009

Memória: José Gomes Sanches (1936-2009)

Muitas vezes nos encontrámos. Invariavelmente, na Culsete, em Setúbal, à volta de livros e de conversa, motivados pelo seu quê de tertúlia com o Manuel Medeiros. Sempre com uma pasta ou com livros. De poesia. Entremeados com umas folhas manuscritas. De poemas. Por vezes, fez de mim primeiro leitor. E, braços abertos, declamava, que as palavras, quando ditas, podem ser mais próprias e mais intensas do que quando escritas. Gosta? Eram poemas da (sua) vida. Nas sessões culturais animadas pelo Medeiros, na mesma Culsete, ele estava sempre presente. E intervinha. Normalmente com poema. Nem sempre de sua lavra, que Pessoa era um dos seus favoritos.
Hoje, pela manhã, a Fátima telefonou-me, ia eu a caminho de uns livros. “Sabe que morreu o Dr. Sanches?” Logo ali me atacou a saudade e me inundou a memória. E, ao chegar a casa, tive que espreitar alguns dos seus poemas. Reproduzo o soneto "Fuga", que abre o seu último livro:

José dos Reis Gomes Sanches nasceu em Aldeia Velha, no Sabugal, em Janeiro de 1936. Na juventude, estudou em Vila Nova de Gaia. Cursou Direito, tendo estudado em Coimbra mas concluindo a licenciatura em Lisboa. Vivia em Setúbal desde 1977. Deixou publicadas as obras Percurso de circunstâncias (Setúbal: 2002) e Espaço de memórias (Setúbal: 2006), ambas em edição de autor. No prefácio para o seu primeiro livro, notou Resendes Ventura: “Maravilha-me e espanta-me sempre a vibração poética em que permanentemente o vejo. A respeito de tudo, em todas as circunstâncias, é o lado estético que o apanha! Vivendo assim, era inevitável que (…) ficasse com os bolsos cheios de versos (…). É assim, efectivamente, que todos os dias o encontramos e é assim mesmo que gostamos de o encontrar: sempre carregado de versos! Seus e dos seus mestres!”

Às 23h10: A Fátima fez-me chegar uma foto de Gomes Sanches tirada há cinco anos, na sessão sobre o 30º aniversário do 25 de Abril que houve na Culsete. Aqui a deixo. E também um poema de adeus, assinado por Resendes Ventura (Manuel Medeiros), escrito no dia de hoje.

MEU POETA E MEU IRMÃO
In Memoriam para o poeta Gomes Sanches

José meu poeta e meu irmão
quantas vezes me pedias
para te ensinar a ti
o que para mim não sabia
e contigo é que aprendia

agora que me morreste
e à mãe terra vi descer
o corpo que te traía
tão sujeito que me sinto
à mesma dor sem remédio
do tanto que não sabia

como é que vou aprender
o que contigo aprendia

meu poeta e meu irmão
sem ti estou mais sozinho
neste resto de caminho
que me resta percorrer

fique a última lição
que me deixaste ao morrer
em pobreza de saber
e que em pobreza retive
por não sabê-la aprender

“EM MISTÉRIO É QUE SE VIVE”


R. V.
Setúbal, Dia do enterro do poeta Gomes Sanches
2.Maio.2009

Intervalo (13)

Quem é que nunca teve vontade de responder assim?
1 - Quando se está deitado, de olhos fechados, na própria cama, com a luz apagada e perguntam: Estás a dormir?
Não, estou a treinar para morrer!
2 - Quando se leva um electrodoméstico a uma casa de consertos e o técnico pergunta: Está avariado?
Não, é que ele estava farto de estar em casa e eu trouxe-o a passear.
3 - Quando está a chover e percebem que se vai encarar a chuva, perguntam: Vais sair com esta chuva?
Não, vou sair com a próxima.
4 - Quando uma pessoa acaba de se levantar e perguntam: Já acordaste?
Não, sou sonâmbulo!
5 - Alguém liga para o telefone fixo e pergunta: Onde estás?
No Pólo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá!
6 - Quando se acaba de tomar banho e alguém pergunta: Tomaste banho?
Não, mergulhei na sanita, de cabeça!
7 - Quando se está à frente do elevador da garagem do prédio onde se mora e chega alguém que pergunta: Vai subir?
Não, não, estou à espera que o meu apartamento desça.
8 - Um rapaz chega a casa da namorada com um enorme ramo de flores. E ela diz: Flores?
Não, são rabanetes.
9 - Quando se está na casa-de-banho e alguém bate à porta e pergunta: Tem gente?
Não! É o cócó que está a falar!
10 - Entra-se num banco com um cheque e pede-se para trocar: Em dinheiro?
Não, pode ser em clips!...
Desconheço a autoria. Uma amiga fez-me chegar esta cábula de respostas para perguntas inúteis e resolvi partilhar. Bom intervalo!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Rostos (116)

Monumento ao pescador, de Teresa Paulino e Pedro Félix, em Alcoutim

Sobre dinheiro para os partidos, multas por poluição e touros de Salvaterra

«As emendas à lei de financiamento dos partidos, cozinhadas quase em segredo por todos os partidos e aprovadas também por todos, são o retrato fiel da hipocrisia reinante.
(...) Porque depositar tais quantias de dinheiro não se justifica no tempo dos cheques e das transferências interbancárias, a não ser quando se pretende esconder a origem das notas. O "dinheiro vivo", ao contrário das outras formas de pagamento, não deixa rasto.
É certo que a memória do povo é curta, mas a dos deputados não devia ser e a dos jornalistas tem obrigação de não ser. Por isso há sempre uma campainha de alarme que toca na cabeça de quem se preocupa com a lisura de processos quando se fala em "dinheiro vivo". (…) Há sempre muitas formas de ocultar a origem do "dinheiro vivo". (…) Fui dos poucos a assistir a uma das audiências de um processo em que era réu por causa das notícias que este jornal deu sobre a Câmara de Felgueiras e que ouviu uma das testemunhas dizer, com a maior das naturalidades, que costumava receber os donativos para o PS local em maços de notas embrulhadas em papel de jornal que lhe entregavam no átrio dos Paços do Concelho. Mesmo assim é incompreensível, é mesmo vergonhoso, a forma como, de forma dissimulada, sem discussão que se visse, com quase tudo a ser resolvido em reuniões fechadas à imprensa, a Assembleia da República aprovou ontem a revisão do diploma sobre o financiamento dos partidos em termos tais que não só escancara as portas à corrupção, como cria inúmeros alçapões por onde podem escapar-se os que estiverem dispostos a abusar das regras. Não se compreende que o limite ao financiamento em "dinheiro vivo" num dos países do mundo com uma melhor rede de terminais multibanco tenha sido aumentado 55 vezes. Não se compreende igualmente o alargamento às campanhas não presidenciais da possibilidade de donativos individuais, um mecanismo que permite receber grossas maquias e depois "doá-las" ao partido através de redes de militantes arregimentadas por um qualquer cacique. Isto só para dar dois exemplos mais gritantes.As alterações são chocantes e representam um insulto aos cidadãos eleitores por permitirem que os partidos gastem muito mais em campanha em tempos de crise económica, como mostra a hipocrisia dos falsos moralistas, aqui com destaque para os campeões do comportamento angelical, o Bloco de Esquerda. É fantástico e revelador como, num momento como este, todos estão pateticamente de acordo e não entendem que possibilitar o regresso do tempo das "malas das notas" representa um tremendo retrocesso no que diz respeito à transparência das campanhas eleitorais e do financiamento dos partidos. Mas é também assim que se compreende como nunca foi possível fazer uma lei contra o enriquecimento ilícito. O resto são basófias.
Duas notas mais. Irresistíveis.
Diminuir o valor das multas que as empresas poluidoras têm de pagar invocando as dificuldades das pequenas e médias empresas é criminoso. Quem prevarica tem de continuar a pagar as multas que merece, que já nem eram elevadas. Porquê? Porque perdoar a quem prevarica é distorcer a concorrência e beneficiar as más pequenas e médias empresas que ficam em condições de fazer mais concorrência às que cumprem a lei. Para além de que, antes de abdicar da prevenção do ambiente, há dezenas de outras medidas que aliviaram os problemas de tesouraria do nosso tecido industrial. Mas ao optar por sacrificar o ambiente o nosso primeiro-ministro mostra como é diáfana a sua costela de ambientalista. Já não lhe bastavam os famosos PIN...
Em nome da coerência, o Bloco de Esquerda deverá apresentar em breve no único concelho onde elegeu um presidente da câmara, o de Salvaterra de Magos, uma proposta idêntica à que fez aprovar no concelho de Sintra, onde as touradas passaram a ser proibidas. Se não o fizer, volta a provar que, como aconteceu com a votação da lei de financiamento dos partidos, uma coisa são as suas lições de moral e outra a sua real prática. É pois necessário que Louçã diga rapidamente se vai ou não pregar contra o sofrimento dos touros para Salvaterra de Magos. Temos uma data para lhe sugerir: domingo 10 de Maio, altura da Festa do Melão, que terá como ponto alto o toureio de, citamos, "6 terroríficos touros 6" da "mais antiga ganadaria de Portugal". Era de homem.»
José Manuel Fernandes. "O regresso ao tempo das malas cheias de notas". Público: 01.Maio.2009.