Dos 90 anos de D. Manuel Martins se poderá dizer que integraram uma vida repleta, pelo menos no que a nós nos foi permitido observar. Mas foi sobretudo uma vida de compromisso e de dedicação, de boa e oportuna provocação e inquietação. Dir-se-á que não fez mais do que aquilo que devia. É verdade, mas os homens homenageiam-se porque fazem o que devem (e a isso se dão) e, por isso mesmo, devem ser lembrados como exemplo.
Partiu anteontem, desceu hoje à terra e as saudades do
tempo em que o ouvíamos ou em que com ele pudemos privar são já muitas. Estou
grato por o ter conhecido e por ter sido o “meu” bispo. Pelas histórias de que
foi protagonista, sempre mostrando o lado bom e sempre questionando o nosso
estar; pelas verdades que apregoou, comentou e ensinou; pelas tomadas de posição
abertas, claras (recordo de imediato e de memória a entrevista em que, estando
o caso de Timor ao rubro, dizia ao jornalista Armando Pires: “Se Timor morrer
como povo, será por nossa culpa, por nossa tão grande culpa”); pela igreja que
quis que a comunidade sadina fosse e pela universalidade por que sempre pugnou;
pelos textos que escreveu, cheios de uma simplicidade transbordante e em torno
de verdades fundamentais. E ainda, a título pessoal: pela confiança que demonstrou
ao convidar-me para ser correspondente da Renascença para a vida da Igreja da
diocese (cargo que desempenhei durante quase dois anos), pela amizade com que
me distinguiu, pelas conversas (poucas) que tivemos, pelo incentivo ao trabalho
em projectos em que me envolvi (foi insistente o entusiasmo de D. Manuel em
acompanhar o que se ia fazendo a propósito de Sebastião da Gama). Tenho de terminar
como comecei: estou-lhe grato pelo que com ele aprendi. Obrigado, D. Manuel
Martins!
Sem comentários:
Enviar um comentário