São
120 páginas de referências cronológicas relacionadas com a Primeira Grande
Guerra, umas telegráficas, outras com algum desenvolvimento, aquilo que Vincent
Bernard apresenta em Petite Chronologie
de la Grande Guerre (Col. “Repères d’Histoire”. Bordeaux: Éditions du Sud
Ouest, 2014), num horizonte que se inicia em 28 de Junho de 1914 (“pelas 10
horas da manhã, em Sarajevo… primeiros tiros”, referindo o atentado ao
arquiduque Francisco Fernando) e se conclui em 10 de Novembro de 1920, com o “soldado
desconhecido” depositado no Arco de Triunfo. Apesar deste limite temporal, a
cronologia tem ainda uma entrada alusiva a 3 de Setembro de 1939, data em que
“a França e a Inglaterra declaram guerra à Alemanha nazi”, o que estabelece a
ponte entre as duas Guerras Mundiais que marcaram o século XX…
O
tempo passa por este livro num registo do dia a dia, sobretudo organizado para
o leitor francês, com apontamentos em que entram as operações militares
terrestres, marítimas e aéreas, a tecnologia e o armamento, a intervenção
política e a diplomacia, a economia e a sociedade, a vida na retaguarda e a
cultura. Tão amplo espectro de informação trazido para uma cronologia é
justificado pelo autor nos seguintes termos: “Si le monde de 1918 n’est plus
celui de 1914, ce n’est pas seulement parce que les poilus français, landser
allemands, tommies anglais, diggers australiens ou autres doughboys américains ont combattu et
souffert dans un véritable enfer, c’est aussi parce que la guerre même, en tant
qu’événement, en tant que rupture historique, a orienté en profondeur la marche
du monde, l’a fait entrer véritablement dans le XXe siècle, ce siècle si proche
mais que, déjà, s’enfuit tout doucement de nos mémoires.” Assim, em jeito de
preservar e de ajudar a memória, Bernard pretende que esta obra ajude “à la
découverte des jalons essentiels de cette Grande Guerre mondiale de quatre ans
dans toutes ses dimensions”.
Para
cada ano do conflito é escolhido um título interpretativo que ajuda a uma
leitura dos acontecimentos: “1914 – La fin d’un monde”, “1915 – L’épouvantable
enlisement des tranchées”, “1916 – L’année des batailles titanesques”, “1917 –
Année charnière ou année de trop?”, “1918 – D’une nouvelle guerre à l’amère
victoire” e, finalmente, “Épilogue, 1919-1920 – Paix européenne ou règlement
provisoire?”. O leitor vai avançando nas datas e assiste à construção do puzzle
que levou ao recrudescimento do conflito, às intrigas, à movimentação, à
paragem, às implicações, à destruição, à morte, à movimentação política e militar,
ao sofrimento, ao desfazer dos impérios, ao nascimento de um novo mapa europeu,
passo a passo, como quem acompanha o trajecto em todas as frentes. Assiste a
execução de prisioneiros, à morte de artistas e de outras personalidades participantes
(Charles Péguy, Alain Fournier, Alfred Lichtenstein, Henry Moseley, Charles de
Foucauld, von Richtoffen, Roland Garros, Guillaume Apollinaire), ao sofrimento
que não poupou ninguém (Georges Braque, Blaise Cendrars, Henri Barbusse), ao
episódio dos táxis do Marne e à destruição conhecida pelo “Chemin des Dames”,
ao primeiro apelo à paz entre os beligerantes lançado pelo Papa Bento XV, à
confraternização natalícia entre soldados inimigos, à primeira utilização do
gaz de combate, ao aparecimento dos tanques, aos bombardeamentos sobre Paris,
aos raids sobre Londres e sobre Colónia, à violência de Verdun e de Somme e às
várias (doze) ofensivas sobre Isonzo, à mudança do papel da mulher, à queda e
ascensão de políticos e… em 13 de Outubro de 1918, ao gazeamento e evacuação do
cabo Adolfo Hitler.
Relativamente
a Portugal, há uma dezena de referências que acompanham o que se passou nas
colónias em África e o que foi o Corpo Expedicionário Português, tais como: em
26 de Outubro de 1914 (“Les Allemands pénètrent en Angola portugais, et donc
théoriquement neutre”), em 23 de Novembro de 1914 (“Le gouvernement portugais
annonce une coopération accrue avec le Royaume-Uni”), em 23 de Fevereiro de
1916 (“Les autorités portugaises saisissent les navires allemands sur le
Tage”), em 9 de Março de 1916 (“Le Portugal rejoint l’Entente – Après des mois
de collaboration militaire anglo-portugaise, de nombreux incidentes dans les
colonies et la réquisition par Lisbonne des navires allemands sur le Tage,
Berlin régularise une situation
diplomatique exécrable en déclarant la guerre au Portugal. Le Portugal prépare
un petit corps expéditionnaire pour la France et entreprend de renforcer ses
positions dans les colonies d’Afrique”), em 15 de Março de 1916
(“L’Autriche-Hongrie déclare à son tour la guerre au Portugal”), em 8 de Agosto
de 1916 (“Le gouvernement portugais étend sa coopération avec l’Entente au
front européen”), em 3 de Janeiro de 1917 (“Les premières unités du corps
expéditionnaire portugais, qui doit comprendre deux divisions et se battre au
sein de l’armée britanique, débarquent en France”), em 17 de Junho de 1917 (“Le
corps expéditionnaire portugais est engagé pour la première fois sur le front
de l’Ouest”), em 9 de Abril de 1918 (no âmbito da operação Georgette, uma
ofensiva alemã que pretendia fazer recuar os britânicos até à Mancha, “le corps
expéditionnaire portugais, en particulier, est presque anéanti par la violence
de l’assaut allemand”), em 1 de Julho de 1918 (“Les petites forces allemandes
du colonel von Lettow-Vorbeck, poursuivant leur petite guerre face à des forces
de l’Entente infiniment supérieures, atteignent Namyakura, en Afrique
portugaise (Mozambique actuel)”).
A
obra carece da indicação da bibliografia consultada, sobretudo quanto à origem
ou fontes de datas de outros países que não a França. Quanto a índices, parte
importante neste tipo de obras, existe apenas um “de personalidades” quando poderia
haver também um geográfico.
Apesar das deficiências que uma obra deste tipo possa
conter, obrigados somos a reconhecer tratar-se de um bom contributo de
condensação da História que fez crescer a Europa como ela é, que permite
consulta e informação rápidas, ainda que limitada ao estilo de uma cronologia (sublinhada
no título com o adjectivo “petite”).
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