Com o subtítulo de "Revista
Trimestral de Literatura", o primeiro
número de Orpheu surgiu em Lisboa em
25 de Março de 1915,
dirigido por Luís de Montalvor e
Ronald de Carvalho. Passados três meses, em 28
de Junho, apareceu o número dois, dirigido por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Editada por António Ferro
(1895-1956), a revista teve capa, nos dois
números, de José Pacheco (1885-1934). Colaboradores dos dois números foram
Alfredo Guisado (1891- 1975), Almada Negreiros (1893-1970), Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), Ângelo de Lima (1872-1921), Armando Côrtes-Rodrigues
(1891-1971), Eduardo Guimaraens (1892-1928,
brasileiro), Fernando
Pessoa (1888-1935), Luís de Montalvor (1891-1947),
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), Raul Leal (1886-1964), Ronald de Carvalho (1893-1935, brasileiro), Santa Rita
Pintor (1890-1918) e Violante de Cysneiros (pseudónimo de Côrtes-Rodrigues).
Na "Introdução", publicada
no primeiro número, escreveu Luís de Montalvor: "Nossa pretensão é formar,
em grupo ou ideia, um número escolhido
de revelações em pensamento ou arte, que
sobre este princípio aristocrático tenham em Orpheu o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e
conhecermo-nos".
A reacção aos dois números da
revista (de que há reedições a cargo de Edições ÁticaI pautou-se por
classificações que reflectiam o escândalo provocado: "literatura de
manicómio" e "doidos com juízo", entre outras. Textos para o
terceiro número de Orpheu chegaram a
ser impressos, não tendo, contudo, a revista sido publicada (foi feita edição
das provas de página em 1984, sob a responsabilidade de Edições “Nova
Renascença”). Entre os textos conhecidos para esse terceiro número contam-se
como autores Mário de Sá-Carneiro, Albino de Meneses (1889-1949), Fernando
Pessoa, Augusto Ferreira Gomes (1892-1953), Almada Negreiros, D.Tomás de
Almeida (1864-1932), C. Pacheco (heterónimo de Pessoa) e Castelo de Morais
(1882-1949), sendo o texto mais importante o de Almada ("Cena do
ódio", depois publicado na revista Contemporânea,
em Janeiro de 1923).
Sobre o papel desempenhado por
Orpheu escreveu Fátima Freitas Morna:
"é um caso particularmente interessante entre os muitos que lhe poderiam
constituir paralelo na Europa povoada de 'ismos' e revistas dos anos que rodeiam
a Primeira Guerra Mundial. Em vez de se proclamar como um movimento, ou órgão
de um movimento, Orpheu aceita ser o
lugar de choque e de trabalho de vários movimentos." (A Poesia de 'Orpheu'. Col. "Textos Literários", 26. Lisboa: Editorial Comunicação, 1982).
Ao longo dos tempos, o título Orpheu tem sido apontado como uma das
revistas literárias mais revolucionárias e tem sido alvo de inúmeros estudos
pelo papel desempenhado na expressão futurista em Portugal. Em Bruxelas, chegou
a ser fundada uma livraria vocacionada para a literatura e cultura portuguesas
a que foi dado o nome de “Orpheu”. Já neste ano, a revista tem sido objecto temático
de várias publicações, como JL – Jornal de
Letras, Artes e Ideias (nº 1159, 4.Março.2015) ou Estante (FNAC: nº 4, Inverno.2015). Também recente é a edição
filatélica de um selo desenhado sobre quadro de Almada Negreiros, alusivo ao
centenário da revista (CTT, 2015). Na celebração destes cem anos da revista Orpheu, estão ainda envolvidas
exposições (como a da Biblioteca Nacional) ou edições como 1915 – O ano do Orpheu, organizada por Steffen Dix (Lisboa: Tinta-da-China,
2015).
[foto: selo comemorativo do centenário da revista Orpheu - CTT, 2015]
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