«En’o nome
de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e
saluo, temẽte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier
raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) uassalos e de toido meu reino
fiz mia mãda p(er) q(eu) depos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino
e me(us) uassalos e todas aq(ue)las cousa q(eu) De(us) mi deu en poder sten en
paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(eu) meu filio infante don Sancho
q(eu) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz.»
Esta
é a transcrição, da autoria do padre Avelino de Jesus Costa, do início daquele
que é considerado o mais antigo documento oficial em língua portuguesa,
assinado por D. Afonso II há 800 anos, em 27 de Junho de 1214. A transcrição
integral pode ser lida aqui.
A
ideia de transformar esta data no Dia da Língua Portuguesa partiu do
investigador brasileiro Roberto Moreno e mereceu acolhimentos vários, bem como
reprovações diversas, porque nestas coisas de se estabelecer uma data para ser
considerada símbolo fundacional as opiniões atropelam-se segundo especializações,
caprichos e gostos. Todos sabemos que a língua portuguesa já era falada antes
da existência de tal documento, argumento que linguistas usam para manifestar
discordância em relação à data. Só que, se a língua portuguesa se restringisse
à oralidade, provavelmente já teria desaparecido…
A data pode ser discutível, mas, à falta de outra
melhor ou irrefutável, que seja esta uma possibilidade de festa em torno da
língua portuguesa que nos identifica, em torno de uma língua que é plural e
diversificada, em torno de uma língua que não tem de estar presa a um Acordo
Ortográfico que atrofia e descaracteriza. Como refere José Ribeiro e Castro no Público de hoje (“Língua portuguesa,
recurso fabuloso”), “esta festa dos 800 anos também é a festa da vitalidade,
imorredoira e crescente, da nossa língua comum de todos os falantes de
Português: o Português, língua da Europa; o Português, língua das Américas; o
Português, língua de África; o Português, língua do Oriente; o Português,
língua do mundo.”
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