Gostei muito do texto de opinião, um quase manifesto
ou uma quase exigência, assinado por José Manuel dos Santos no Público de domingo, 17 de Novembro (pg.
54), que alerta o leitor, o país, os responsáveis políticos – Assembleia da
República, diga-se – para o imperativo de termos Sophia de Mello Breyner no
Panteão Nacional.
O texto começa, de resto, com uma chamada de atenção
para todos nós: “Não são os poetas
que precisam de nós. Somos nós que precisamos deles e das suas palavras de vida
e de morte. Somos nós que necessitamos das suas acusações e das suas celebrações,
das cóleras e dos êxtases, dos anátemas e dos louvores, das profanações e das
sagrações. Somos nós que necessitamos desse voo da voz, dessa veemência da
vida, desse fogo da fronte. Nos grandes poemas dos grandes poetas, o mundo — ou
a sua recusa — está perante nós e ficamos à altura da sua altura.” Um bom
elogio para os poetas, uma boa lição para nós.
Depois,
vêm as razões da proposta, centradas no cruzamento do estar de Sophia entre a palavra,
o poema, a cultura e a cidadania. “A participação de Sophia na política fez-se das mesmas
perguntas e das mesmas respostas
de que a sua poesia
se faz. É por isso
que a coragem de
Sophia era uma
ética e a sua
lucidez um compromisso
com o mundo e com os
homens que o habitam. É por isso que a sua morte foi um momento de despedida,
de descoberta, de despertar. Ao vermos que a morte não prevaleceu sobre a sua
obra, aprendemos que somos os herdeiros da sua palavra, da sua nobreza, do seu
desassombro.”
O
apelo de José Manuel dos Santos vai muito além do que poderia ser defender o
poeta ou a sua obra. Encontra sentido para os tempos que nos invadem, para o
exemplo e para a memória. Tudo associado às datas que passam em 2014 – os 40
anos sobre o 25 de Abril, os 10 anos sobre a morte de Sophia.
É
que, na obra de Sophia, “a vida
e a poesia não se separaram nunca e foram liberdade livre e justiça justa” e “no que escreveu e no que viveu, passa
esse sopro de
inteireza, de verdade e de audácia que a tornou um símbolo para todos.”
É
bom que a proposta de José Manuel dos Santos seja tida em conta e que venha a
ter um desfecho feliz. Seria uma excelente forma de celebrar a ética, de
celebrar a arte, de apontar um caminho forte da identidade portuguesa.
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