terça-feira, 26 de novembro de 2013

Marcos de uma semana em que não disse (1) – Sophia no Panteão Nacional



Gostei muito do texto de opinião, um quase manifesto ou uma quase exigência, assinado por José Manuel dos Santos no Público de domingo, 17 de Novembro (pg. 54), que alerta o leitor, o país, os responsáveis políticos – Assembleia da República, diga-se – para o imperativo de termos Sophia de Mello Breyner no Panteão Nacional.
O texto começa, de resto, com uma chamada de atenção para todos nós: “Não são os poetas que precisam de nós. Somos nós que precisamos deles e das suas palavras de vida e de morte. Somos nós que necessitamos das suas acusações e das suas celebrações, das cóleras e dos êxtases, dos anátemas e dos louvores, das profanações e das sagrações. Somos nós que necessitamos desse voo da voz, dessa veemência da vida, desse fogo da fronte. Nos grandes poemas dos grandes poetas, o mundo — ou a sua recusa — está perante nós e ficamos à altura da sua altura.” Um bom elogio para os poetas, uma boa lição para nós.
Depois, vêm as razões da proposta, centradas no cruzamento do estar de Sophia entre a palavra, o poema, a cultura e a cidadania. “A participação de Sophia na política fez-se das mesmas perguntas e das mesmas respostas de que a sua poesia se faz. É por isso que a coragem de Sophia era uma ética e a sua lucidez um compromisso com o mundo e com os homens que o habitam. É por isso que a sua morte foi um momento de despedida, de descoberta, de despertar. Ao vermos que a morte não prevaleceu sobre a sua obra, aprendemos que somos os herdeiros da sua palavra, da sua nobreza, do seu desassombro.”
O apelo de José Manuel dos Santos vai muito além do que poderia ser defender o poeta ou a sua obra. Encontra sentido para os tempos que nos invadem, para o exemplo e para a memória. Tudo associado às datas que passam em 2014 – os 40 anos sobre o 25 de Abril, os 10 anos sobre a morte de Sophia.
É que, na obra de Sophia, “a vida e a poesia não se separaram nunca e foram liberdade livre e justiça justa” e “no que escreveu e no que viveu, passa esse sopro de inteireza, de verdade e de audácia que a tornou um símbolo para todos.”

É bom que a proposta de José Manuel dos Santos seja tida em conta e que venha a ter um desfecho feliz. Seria uma excelente forma de celebrar a ética, de celebrar a arte, de apontar um caminho forte da identidade portuguesa.

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