terça-feira, 30 de abril de 2013
sábado, 27 de abril de 2013
Memória: José Marques Baptista (1945-2013)
Conheci
o José Baptista por causa dos livros, das revistas e das acções culturais que
por Setúbal vão acontecendo. Conhecimento não muito antigo, mas com uns anos
já. Impressionou-me a sua dedicação aos livros, às colecções, à busca do saber,
tudo numa atitude do mais puro auto-didactismo, sempre descontente com as faltas,
sempre capaz de dar referências e de ajudar a procurar. Era um coleccionador e
um leitor crítico, que se orientava pela qualidade e que revelava impaciência
pela banalidade. Passei com ele bons momentos, sobretudo instantes de saber.
Tínhamos interesses comuns e gostávamos de conversar.
Fiquei
impressionado quando, há cerca de um mês, amigo comum me revelou da sua saúde
crítica, aliás, muito crítica. Tudo se manifestara de repente. Estávamos a dois
dias do início da exposição “A cidade no coleccionismo setubalense”, que se
inaugurou em 27 de Março, onde havia peças do espólio do José Baptista também.
O quadro que me foi pintado foi violento porque inesperado e porque a amizade
se ressente sempre com o mal-estar dos amigos. Foi mais um mês. Depois de mais um
aniversário em 23 de Abril, no Dia Mundial do Livro (celebração adequada para o
dia de nascimento do José Baptista), e de mais um 25 de Abril (em que
acreditou), deixou-nos quando se rasgava o dia 26. E, apesar de esperada, a
notícia chegou na sua rudeza e brutalidade: o Baptista tinha partido. Fica a
saudade, claro. E também a alegria de o ter conhecido. Obrigado, amigo!
[Foto: José Baptista, em 26 de Março de 2011, na sessão de apresentação pública do Diário, de Sebastião da Gama, que organizei]
quinta-feira, 25 de abril de 2013
José Saramago: A estátua e a pedra
O discurso de José Saramago continua a surpreender e a
apanhar-nos na sua postura crítica e de pensamento, agora com a edição de A estátua e a pedra, em português e em
castelhano (Lisboa: Fundação José Saramago, 2013). O texto foi inicialmente
oral, proferido em Maio de 1997, na Universidade de Turim, num encontro sobre a
cultura portuguesa. À medida que o discurso ia fluindo, um gravador
encarregava-se de perpetuar a mensagem, depois passada a escrita, agora dada a
ler a mais vasto público (houve uma edição em Itália em 1999). O texto dito em
Turim teve entretanto actualização, uma vez que Saramago refere nesta edição
obras posteriores à data desse encontro.
O título escolhido por Saramago remete-nos para Vieira
e lembra aquela belíssima imagem do canteiro que vai esculpindo a pedra,
dando-lhe forma, até a transformar numa imagem que até pode ser de um santo. No
entanto, aqui, o que Saramago propõe é o discurso ao contrário, da figura para
a matéria-prima, num percurso autorreflexivo, debruçando-se sobre a sua própria
obra, o que nos obriga a considerar este um texto importante para a leitura da
narrativa saramaguiana.
Romance histórico, o meu?, parece perguntar o autor de
Memorial do Convento no início da sua
comunicação, adiante recusando o epíteto, uma vez que os romances históricos
são “tentativas de reconstituição de uma época e mentalidade determinadas, sem
qualquer intromissão do presente (à excepção da linguagem), onde o autor finge
ignorar o seu tempo para colocar-se no momento do Passado que pretende
reconstituir” e o seu caso se apresenta diverso – “uma ficção sobre um dado
tempo do passado, mas visto da perspectiva do momento em que o autor se
encontra, e com tudo aquilo que o autor é e tem: a sua formação, a sua
interpretação do mundo, o modo como ele entende o processo de transformação das
sociedades.”
É neste último aspecto que Saramago insiste ao longo
de toda a conferência, procurando comprometer os seus títulos com o seu pensar
sobre o homem, sobre o mundo, sobre o outro, sobre o processo histórico, sobre
a actualidade. Passo a passo, vai desfiando o rol dos seus títulos desde Manual de pintura e caligrafia (1977),
com passagem por Objecto quase
(1978), Levantado do chão (1980), Memorial do convento (1982), O ano da morte de Ricardo Reis (1986), A jangada de pedra (1986), História do cerco de Lisboa (1989), O evangelho segundo Jesus Cristo (1991),
Ensaio sobre a cegueira (1995), Todos os nomes (1997), A caverna (2000) e O homem duplicado (2002).
Ao longo da comunicação, há imagens fortes para lá da
força da estátua e da pedra, como a da metáfora da espuma marítima que rebenta
sobre a areia, uma imagem que mostra sermos “nós a espuma que é transportada
nessa onda”, chegada porque “impelida pelo mar que é o tempo, todo o tempo que
ficou atrás, todo o tempo vivido que nos leva e nos empurra”; há as pequenas
histórias associadas ao aparecimento dos romances e a afirmação da ausência de
heróis nas suas obras, que pretendem “contar a vida das pessoas que não entram
na História”; e há a teorização de que o percurso dos seus romances se divide
em duas partes – a primeira, até O
evangelho segundo Jesus Cristo, associada à figura da “estátua”, que outra
coisa não é que a “superfície da pedra”, e a segunda, a partir de Ensaio sobre
a cegueira, a da “pedra”, que pretendeu entrar “no mais profundo de nós mesmos”,
numa “tentativa de perguntar o quê e quem somos”.
O livro inclui ainda textos de Giancarlo Depretis,
académico de Turim, a contextualizar esta comunicação, de Luciana Stegagno
Picchio, a evocar esse momento da conversa de Saramago, e de Fernando Gómez
Aguilera, a fechar, que aplica a metáfora de Saramago sobre o percurso da sua
obra, estendendo a análise até Caim
(2009), com visitação ainda às obras Ensaio
sobre a lucidez (2004), As
intermitências da morte (2006), As
pequenas memórias (2006) e A viagem
do elefante (2008), concluindo que, para este autor, era “imprescindível
uma revolução ética que, reivindicando o valor supremo da bondade, reconhecesse
como única prioridade o ser humano”.
A estátua e a
pedra torna-se um título
indispensável para o leitor de Saramago, uma quase autobiografia do seu
percurso no romance, que o conta, o analisa e o reinventa.
Sublinhados
Verdade e História – “A verdade na História não está
num lugar acessível, onde se possa chegar com facilidade.”
Gente e História – “Na História, iluminada com
documentos e certificada com selos, dificilmente encontraremos a gente comum, a
que parece que apenas tem existência para sofrer os avatares que outros
decidem.”
Crueldade – “Nenhum animal é cruel, nenhum animal
tortura outro animal (…). Torturar e humilhar os seus semelhantes são invenções
da razão humana.”
Esquecimento – “Esquecer é a morte definitiva.”
D. Manuel Martins: um outro 25 de Abril
Contra a "ditadura do medo" e por um 25 de Abril promotor da "paz e justiça" são as ideias fortes da comunicação do Bispo Emérito de Setúbal D. Manuel Martins, um olhar atento sobre a sociedade e uma voz da denúncia, em declarações que podem ser lidas aqui.
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Para a agenda - António Canteiro recebe Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama
António Canteiro e o seu O silêncio solar das manhãs mereceram o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama nesta sua 14ª edição. A apresentação pública do livro ocorrerá na cerimónia de entrega do Prémio. Em 27 de Abril, em Azeitão. Para a agenda.
Para a agenda - Alexandrina Pereira em poemas sobre a Arrábida
Um conjunto de poemas em louvor da Arrábida, com algumas traduções em castelhano, francês, inglês e alemão. Um canto de amor à paisagem, à serra, à poesia, com a Arrábida por fundo, no ano em que se efectuou a sua candidatura a património mundial. Em 27 de Abril, surgirá Arrábida, meu poema, meu amor, de Alexandrina Pereira, edição que mereceu o patrocínio das Câmaras Municipais de Setúbal, Palmela e Sesimbra, da Associação Cultural Sebastião da Gama, da Secil e do Finisterra Arrábida Film Festival. Para a agenda!
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domingo, 21 de abril de 2013
Um "curriculum" em papel higiénico
Conta a notícia que um jovem de Felgueiras mandou imprimir o seu "curriculum vitae" em rolos de papel higiénico, antecedido de apelativa e provocadora frase a convidar para uma leitura atenta dos passos que fizeram a sua vida.
Originalidade, subida aos limites, desespero, criatividade, publicidade... chame-se-lhe o que se quiser. E há ainda a conversão das economias num possível investimento a seu favor, a necessidade de imprimir este trabalho nos Estados Unidos, a chamada de atenção para a dificuldade de emprego entre os jovens, a insistência no pormenor de ser dada importância a um "curriculum". Lá que é original... é! E é também a aplicação prática do que, no curso de publicidade, aprendeu. Nota vinte pela ideia.
Quanto ao conteúdo... que se pronuncie quem receba os exemplares - vinte - deste "curriculum"!
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sexta-feira, 19 de abril de 2013
Para a agenda - Lembrar Victor Wladimiro Ferreira
Victor Wladimiro Ferreira será evocado em sessão na Biblioteca Nacional em 23 de Abril, numa data que lhe seria querida, já que é o Dia Mundial do Livro. Para ele, que se considerava "um leitor contumaz"... Uma homenagem merecida. Para a agenda.
terça-feira, 16 de abril de 2013
Para a agenda - A Arrábida no Dia dos Monumentos e Sítios
No Dia dos Monumentos e Sítios, eis que a Arrábida se veste de poesia, de olhares e de paisagem, além de tudo aquilo que dela deveria fazer um lugar único, "uma varanda de ver o mar", como escreveu Miguel de Castro. Para a agenda!
terça-feira, 9 de abril de 2013
Para a agenda - Ordens Militares, em Palmela
É o 12º Curso sobre Ordens Militares, actividade que Palmela alimenta anualmente, desta vez sujeito ao tema "Homens de oração e homens de acção: Mestres e Freires". As inscrições são até 18 de Abril. Para a agenda!
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Para a agenda - Luís Filipe Barros e rock, em Setúbal
"Vamos falar de... Rock & Sotck!", com Luís Filipe Barros. Em Setúbal, em 12 de Abril, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, numa organização Synapsis. Para a agenda!
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sexta-feira, 5 de abril de 2013
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Evocação de Óscar Lopes no "JL" de hoje
O
JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias de hoje (nº 1109, pp. 14-16) destaca Óscar Lopes,
considerado “uma figura cimeira das letras portuguesas”.
No
texto de Maria Leonor Nunes, o retrato vem logo no início: “Um espírito ávido
de conhecimento, uma alma gentil, um homem de uma imensa cultura e de maior
coração, um humanista, um verdadeiro óscar
da literatura (…), o ensaísta, crítico, historiador literário e professor
jubilado da Faculdade de Letras do Porto, Óscar Lopes, morreu no passado dia 22
de Março, na sua casa, no Porto. Tinha 95 anos.”
Outra
evocação tem origem em Isabel Pires de Lima, que, também no início, esboça uma
tela que dá bem com a multiplicidade do homenageado: “Óscar Lopes na estação de
Campanhã, com bem mais de 60 anos, chegado de Lisboa, a descer o comboio ainda
em andamento para apanhar um dos escassos táxis disponíveis. Óscar Lopes
comodamente sentado de pantufas e manta nos joelhos na acolhedora saleta da sua
casa sita na rua com o simbólico nome dos
Belos Ares, envolto por pilhas de livros, jornais e flores ou vasos de
orquídeas. Óscar Lopes sempre apressado no seu passo miúdo pelos corredores da
Faculdade de Letras do Porto, vindo duma aula, regressando ao Conselho
Directivo, caminhando para uma assembleia ou para o Centro de Linguística que
ajudou a criar. Óscar Lopes na varanda traseira de sua casa, contemplando o
jardim, os gatos, as camélias.”
Uma
terceira lembrança parte de Maria Alzira Seixo, de tom mais pessoal: “Morreu o
Óscar! Morreu o Mestre. Todos foram seus discípulos, mesmo os que o não sabem.
(…) Não procurava glórias, o que lhe importava era estudar e ouvir música.
Estudava tudo, conhecia tudo.”
Recordo o
papel que teve na minha formação essa monumental História da Literatura Portuguesa que, desde 1955, tem inundado os
estudos, as leituras, as referências bibliográficas, devida também a António
José Saraiva. Bem cedo foi uma das obras que adquiri, ainda comprada com o que
de “mesada” (muito curta) ia recebendo, andava eu pelos estudos do Secundário. É
uma obra que me tem acompanhado sempre, referência superior neste domínio.
Relembro ensaios vários devidos a Óscar Lopes, estudados, alguns anotados e
sublinhados, e, sobretudo, os dois volumes há anos editados sobre literatura
portuguesa intitulados Entre Fialho e
Nemésio, obra que nos foi aconselhada por David Mourão-Ferreira, com
indicação de comentário a alguns dos textos nela contidos. Foi o
deslumbramento. Nunca a obra de Óscar Lopes esteve ausente do meu percurso de
estudante e também de professor. Talvez o que estou a dizer seja banal ou
repetição do que já muitos disseram e escreveram, mas, quando soube da notícia
do passamento de Óscar Lopes, foi-me impossível aceder a este espaço para
lembrar a sua importância para mim e, depois, achei ser fora de tempo. O gesto
do JL, onde Óscar Lopes também interveio, deu-me a “deixa”… Tenho de me sentir
grato a este homem da reflexão e do saber, que era também, como Maria Leonor
Nunes regista, “um homem da intervenção cívica e pedagógica” e uma referência
precisa para este tempo que tanto tem dado cabo das referências!
terça-feira, 2 de abril de 2013
Hoje é o Dia Internacional do Livro Infantil
Cartaz de Maria João Worm
Alegria dos livros à volta do mundo
Lemos juntos, tu e eu.
Vemos que as letras formam palavras
e as palavras se transformam em livros
que seguramos na mão.
Ouvimos murmúrios
e rios agitados correndo pelas páginas,
ursos que cantam à lua
melodias divertidas.
Entramos em castelos misteriosos
e das nossas mãos crescem árvores em
flor
até às nuvens. Vemos meninas corajosas
que voam
e rapazes que pescam estrelas
cintilantes.
Tu e eu lemos, dando voltas e mais
voltas,
alegria dos livros à volta do mundo.
Pat Mora (trad. Maria Carlos Loureiro)
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