O
JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias de hoje (nº 1109, pp. 14-16) destaca Óscar Lopes,
considerado “uma figura cimeira das letras portuguesas”.
No
texto de Maria Leonor Nunes, o retrato vem logo no início: “Um espírito ávido
de conhecimento, uma alma gentil, um homem de uma imensa cultura e de maior
coração, um humanista, um verdadeiro óscar
da literatura (…), o ensaísta, crítico, historiador literário e professor
jubilado da Faculdade de Letras do Porto, Óscar Lopes, morreu no passado dia 22
de Março, na sua casa, no Porto. Tinha 95 anos.”
Outra
evocação tem origem em Isabel Pires de Lima, que, também no início, esboça uma
tela que dá bem com a multiplicidade do homenageado: “Óscar Lopes na estação de
Campanhã, com bem mais de 60 anos, chegado de Lisboa, a descer o comboio ainda
em andamento para apanhar um dos escassos táxis disponíveis. Óscar Lopes
comodamente sentado de pantufas e manta nos joelhos na acolhedora saleta da sua
casa sita na rua com o simbólico nome dos
Belos Ares, envolto por pilhas de livros, jornais e flores ou vasos de
orquídeas. Óscar Lopes sempre apressado no seu passo miúdo pelos corredores da
Faculdade de Letras do Porto, vindo duma aula, regressando ao Conselho
Directivo, caminhando para uma assembleia ou para o Centro de Linguística que
ajudou a criar. Óscar Lopes na varanda traseira de sua casa, contemplando o
jardim, os gatos, as camélias.”
Uma
terceira lembrança parte de Maria Alzira Seixo, de tom mais pessoal: “Morreu o
Óscar! Morreu o Mestre. Todos foram seus discípulos, mesmo os que o não sabem.
(…) Não procurava glórias, o que lhe importava era estudar e ouvir música.
Estudava tudo, conhecia tudo.”
Recordo o
papel que teve na minha formação essa monumental História da Literatura Portuguesa que, desde 1955, tem inundado os
estudos, as leituras, as referências bibliográficas, devida também a António
José Saraiva. Bem cedo foi uma das obras que adquiri, ainda comprada com o que
de “mesada” (muito curta) ia recebendo, andava eu pelos estudos do Secundário. É
uma obra que me tem acompanhado sempre, referência superior neste domínio.
Relembro ensaios vários devidos a Óscar Lopes, estudados, alguns anotados e
sublinhados, e, sobretudo, os dois volumes há anos editados sobre literatura
portuguesa intitulados Entre Fialho e
Nemésio, obra que nos foi aconselhada por David Mourão-Ferreira, com
indicação de comentário a alguns dos textos nela contidos. Foi o
deslumbramento. Nunca a obra de Óscar Lopes esteve ausente do meu percurso de
estudante e também de professor. Talvez o que estou a dizer seja banal ou
repetição do que já muitos disseram e escreveram, mas, quando soube da notícia
do passamento de Óscar Lopes, foi-me impossível aceder a este espaço para
lembrar a sua importância para mim e, depois, achei ser fora de tempo. O gesto
do JL, onde Óscar Lopes também interveio, deu-me a “deixa”… Tenho de me sentir
grato a este homem da reflexão e do saber, que era também, como Maria Leonor
Nunes regista, “um homem da intervenção cívica e pedagógica” e uma referência
precisa para este tempo que tanto tem dado cabo das referências!
Sem comentários:
Enviar um comentário