domingo, 31 de março de 2013

Manuel Bola, aliás, Carlos Rodrigues, um actor em entrevista

Em 27 de Março, o actor setubalense Carlos Rodrigues, mais conhecido por "Manuel Bola", teve homenagem no Forum Municipal Luísa Todi, com sala cheia. De amigos, de colegas, de setubalenses. Dois dias depois, em 29, o jornal O Setubalense publicou a entrevista que se reproduz, assinada por Teodoro João. Peça a ler, com dicas sobre a cidadania, o teatro, a biografia, uma forma de estar no mundo.

terça-feira, 26 de março de 2013

sábado, 23 de março de 2013

Para a agenda - Setúbal no coleccionismo



Setúbal no coleccionismo. Uma actividade promovida pelo Centro de Investigação Manuel Medeiros, da UNISETI, com os contributos de muitos coleccionadores. Na busca de uma identidade. Para a agenda!

sexta-feira, 22 de março de 2013

Para a agenda - Setúbal, Pombal, o terramoto e Malagrida



Depois de, em Novembro, ter apresentado publicamente o título Padre Gabriel Malagrida: O último condenado ao fogo da Inquisição (Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos), Daniel Pires apresenta agora O Marquês de Pombal, o terramoto de 1755 em Setúbal e o Padre Malagrida, uma continuação da história. Mais uma actividade do Centro de Estudos Bocageanos, marcada para amanhã, 23. Para a agenda!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Rafael Bordalo Pinheiro, 167 anos - entre o Zé Povinho e o manguito (descrito por Camilo)


Lembra o "google" que passa hoje o 167º aniversário do nascimento de Rafael Bordalo Pinheiro, o criador dessa fabulosa figura que é o Zé Povinho. Aqui se evoca, pois, com o conhecido gesto da imortal figura, na companhia de uma citação sobre a utilidade do manguito, devida a Camilo Castelo Branco.


O manguito... “é um gesto anguloso que exprime mudamente todos os desdéns e ironias figuradas da retórica; não se acha assinalado como indecente nos compêndios de civilidade, mas ainda não está bastante usado em desavenças de deputados nas salas das sessões onde se fazem as leis e os manguitos para a nação; usa-se, todavia, nas aldeias como expressão de solércia e de fina velhacaria.” [Camilo Castelo Branco. O Senhor Ministro (ed. original: Narcóticos). Col. “Mnésis”. Lisboa: Vega, 1989, pg. 35] 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Lições do xadrez segundo Kenneth Rogoff

«Primeira: a importância de me manter calmo em situações difíceis, mesmo depois de se cometer um erro. Segunda: que, independentemente de se achar que compreende muito bem uma dada posição, deve ter sempre em conta que há vários níveis de complexidade, escondidos. Para os economistas, esta segunda lição implica que é importante ser humilde, e compreender bem a diferença entre ter uma opinião forte bem fundamentada e ser demasiado confiante em si próprio. Terceira lição: a importância de ter um plano estratégico de longo prazo e não se focalizar exclusivamente nos problemas de curto prazo.»
Kenneth Rogoff, professor da Universidade de Harvard (EUA)
(em entrevista a Jorge Nascimento Rodrigues, Expresso, 16.Março.2013 - supl. "Economia")

O futuro da austeridade na Europa segundo Kenneth Rogoff

«O meu prognóstico é simples: as atuais políticas na zona euro terão de ser modificadas. Posso estar enganado, é claro. Os alemães vão acabar por ter de concluir, de um modo lento e doloroso, que ou vão perder o dinheiro durante uma recessão continuada e com crises ou simplesmente terão de fazer uma assunção de perdas.»
Kenneth Rogoff, professor da Universidade de Harvard (EUA)
(em entrevista a Jorge Nascimento Rodrigues, no Expresso, 16.Março.2013 - supl. "Economia")

Francisco, o Papa, e Francisco, o Santo

Francisco, o Papa, tem sido motivo de variadíssimos comentários, não fosse a importância da Igreja Católica hoje, não fosse tudo aquilo que tem acontecido de menos bom e de mau nessa mesma Igreja. Obviamente, os exageros nos comentários são muitos, com os fundamentalismos da praxe, mesmo que disfarçados de coisas que vestem roupagens das mais variadas.
Li duas crónicas sobre o Papa Francisco no Expresso de ontem que carregam muito daquilo que senti com esta escolha - deste Papa e deste nome. A primeira é devida a José Tolentino Mendonça, que, sob o título "O nome é um programa?", dá a resposta para a pergunta que lança. Depois de biografar a acção de Jorge Bergoglio, Tolentino Mendonça afirma: "O poverello de Assis foi o grande reformador da radicalidade evangélica, que impôs à Igreja uma cura de pobreza, de humanidade e de confiança vibrante em Deus. Sabe-se que na conversão de Inácio de Loiola, fundador dos Jesuítas, teve enorme importância a descoberta do seu exemplo. Inácio ter-se-á perguntado: 'E se eu fizesse o mesmo que Francisco?' Será isso que o Papa Bergoglio se pergunta?"
Na mesma linha se situa Fernando Madrinha, ao assinar a crónica "A importância de se chamar Francisco", dizendo que "o facto de terem passado oito séculos antes de um eleito escolher o seu nome, e com isso o apresentar como guia espiritual, diz alguma coisa sobre as referências dos Papas, sobre o modo como interpretam a função da Igreja e como encaram o luxuoso trono em que se sentam."
O que ressalta desta escolha, intensificado pelo que tem sido o discurso do novo Papa, é a vez da esperança, que corresponderá à vontade que existe no mundo católico de que a Igreja seja a proximidade, a fraternidade, a esperança ela mesma. A simpatia por este Papa advém daí: marca de esperança, pois.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Francisco Paula Borba - um benfeitor de Setúbal



Em 24 de Março de 1935 foi inaugurado, no jardim do então Asilo Bocage, em Setúbal, um monumento ao seu fundador, Dr. Francisco Paula Borba, médico açoriano que se radicou na cidade do Sado em 1898 e aí viria a terminar os seus dias em 1934. A escolha da data para a inauguração do monumento revestiu-se de elevada carga simbólica para os que conheceram Paula Borba, porquanto o seu falecimento, ocorrido seis meses antes (em 27 de Setembro), ainda não remetera o nome do clínico para o esquecimento e porque a data de 24 de Março era também a do seu nascimento, que ocorrera em 1872.
Para a homenagem a Paula Borba, a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal fez publicar na edição de O Setubalense de 21 de Março um convite dirigido à população para "assistir a esses actos, afirmando assim, mais uma vez, com a sua presença, a sua grande saudade por quem tão dedicadamente o serviu e a sua admiração e reconhecimento pela obra de assistência" que deixou.
O programa, publicado em outra página do mesmo jornal, abrangeria todo o dia de 24 de Março. Depois de a manhã ser ocupada com uma missa em S. Julião e com romagem ao cemitério, a tarde começaria com a aposição de uma placa toponímica naquela que, a partir dessa data, passaria a ser a rua Paula Borba (espaço que até aí pertencera à rua Serpa Pinto) e haveria ainda lugar para a inauguração do monumento e de uma exposição no Asilo Bocage e para a admissão de uma dezena de internados na mesma instituição.
Em 23 de Março, O Setubalense usou toda a primeira página para assinalar a homenagem ao Dr. Paula Borba, reproduzindo o quadro da autoria do pintor sadino Fernando Santos alusivo ao homenageado. O quadro passaria a figurar no Asilo Bocage, a fim de a presença do seu fundador ser ali sempre lembrada. Em jeito de legenda, o jornal evocava a personalidade de Paula Borba dizendo que em "cada dia que passa mais se agiganta a sua figura". Este gesto levado a cabo pelo jornal conduziu a que a edição se esgotasse no próprio dia da saída, acontecimento que obrigou o jornal a publicar reproduções do quadro alusivo a Paula Borba, cujo produto de venda reverteu a favor do asilo.
O busto, da autoria de Leopoldo de Almeida e assente em plinto arquitectado por Abel Pascoal, foi descerrado por João Borba, filho do homenageado. O Setubalense de 25 de Março referiu que a festa contou com "a assistência de muitas pessoas e com a colaboração das bandas das sociedades Capricho e União Setubalense". Presentes as mais altas individualidades, no busto foi colocada a medalha da cidade pelo representante da Câmara Municipal e, de entre os discursos proferidos, ganhou ênfase a expressão de Botelho Moniz, ao dizer que "a morte havia arrebatado o Dr. Paula Borba, mas o seu coração não morrera".

Luto sobre Setúbal

Várias páginas de diversas edições do jornal O Setubalense foram ocupadas com referências ao Dr. Paula Borba aquando do seu falecimento, ocorrido às 13h30 de 26 de Setembro de 1934. Logo nesse dia, o periódico fez sair uma edição, ocupando a primeira página com a reprodução de um retrato do benfeitor desaparecido e deixando perpassar uma sensação de perda para a cidade e para a população: "Os crepes dum luto rigoroso cobrem hoje a cidade de Setúbal. Morreu o ilustre médico Sr. Dr. Paula Borba, cidadão honorário da cidade e director da Assistência setubalense". O jornalista não escondia do seu público que estava a escrever "debaixo de uma formidável impressão de tristeza". O testemunho dado era comovente, ao mesmo tempo que homenageava as virtudes de Paula Borba. Foi através do jornal, aliás, que a notícia se espalhou, uma vez que, logo que foi sabido o passamento do médico benfeitor, a sede d' O Setubalense colocou bandeira a meia haste.
Instituições como a Santa Casa da Misericórdia, a Sociedade Musical União Setubalense e a Associação Comercial de Setúbal fizeram publicar notas lutuosas a convidar os seus associados a participar no funeral, sendo proposto aos comerciantes que encerrassem os estabelecimentos; o Liceu de Bocage e a Escola Comercial e Industrial João Vaz solicitaram aos alunos e à Academia que se concentrassem nos respectivos estabelecimentos para integrarem o cortejo fúnebre.
No dia do funeral, em 27 de Setembro, O Setubalense voltava a ser quase totalmente ocupado com referências a Paula Borba, fosse através de textos de autores setubalenses, fosse mediante a reprodução de testemunhos colhidos na imprensa de Lisboa. A impressão vivida na cidade pode ser avaliada pelo conteúdo de um parágrafo que funciona como subtítulo na primeira página dessa edição: "O luto da cidade de Setúbal, em homenagem ao distinto médico Dr. Francisco de Paula Borba, não só a enobrece como a dignifica". O jornal procurava tudo relatar, chegando mesmo ao ponto de referir quem tinha feito chegar mensagens de condolências à residência da família Borba, sita na Avenida 5 de Outubro, reproduzindo mesmo o conteúdo de algumas, como a do Presidente da República, Óscar Carmona: "Com a expressão sincera do meu maior pesar, envio a V. Exª as mais sentidas condolências".
Todas as instituições sadinas se fizeram representar nas exéquias de Paula Borba, integrando um cortejo que passou por pontos da cidade a que o extinto tinha estado ligado, com paragens frente ao Asilo Bocage, ao Hospital e ao Asilo Barradas.
As referências ao médico na imprensa prolongaram-se por várias edições e por vários jornais. A ideia de uma homenagem a Paula Borba começou a tomar corpo logo na edição d' O Setubalense de 29 de Setembro, onde era dito que se projectava para 26 de Outubro, quando decorreriam trinta dias sobre o falecimento, "uma grande sessão de homenagem". José Maria da Silva assinava nessa edição um soneto dedicado a Paula Borba, realçando-lhe as virtudes: "tu foste um bom, foste um santo / que a todos socorrias e o pranto / enxugavas ao pobre, dia a dia". No entanto, a grande homenagem viria a ter lugar mais tarde, quando, em Março seguinte, passasse a data de nascimento de Paula Borba.

Biografias

Quando, em 1947, Manuel Envia publicou o seu livro Coisas de Setúbal, o nome e a figura do Dr. Paula Borba tiveram aí direito a uma nota biográfica de cinco páginas. Chegado a Setúbal em 1898, Paula Borba começou por oferecer gratuitamente os seus serviços clínicos ao hospital da Misericórdia. Ao longo das quase quatro décadas que passou na cidade, distinguiu-se pelo apoio médico-sanitário e pela benemerência, tendo obtido o título de "cidadão honorário" de Setúbal em 1927, além de outras menções honoríficas que lhe foram atribuídas. Impulsionador de uma obra assistencial vasta, a sua vida ficaria para sempre ligada à Misericórdia de Setúbal, organismo de que foi, aliás, provedor desde 1917 até à sua morte.
O Asilo Bocage, assim denominado aquando da sua fundação em 1913 graças ao facto de os fundos existentes no Montepio resultantes do remanescente da verba das despesas do centenário de Bocage (ocorrido em 1905) terem revertido para a construção do Asilo (conforme acta que foi publicada em O Elmano, de 13 de Setembro de 1913), passaria, nos anos 40, a deter o nome do seu fundador Paula Borba.
A mais completa biografia deste médico que adoptou Setúbal até hoje publicada é da autoria de Rogério Claro e data de 1986. Dr. Francisco de Paula Borba - 1º Cidadão Honorário de Setúbal é uma narração de cerca de oitenta páginas sobre os feitos públicos do biografado, com referências à imprensa e algumas reproduções fotográficas de documentos alusivos a Paula Borba e à história da cidade. Do retrato traçado ressalta, além da benemerência, o valor da coragem, que na forma como o médico levou até final a sua doença, quer na maneira como se entregou à causa da saúde dos mais desprotegidos em Setúbal, quer na verticalidade com que assumiu as obras a que se meteu. Grande impulsionador do Congresso das Misericórdias que conseguiu trazer a Setúbal em 1932, ficou célebre o discurso feito na abertura, em que disse, referindo-se à obra do Asilo: "Nada se pediu ao Estado; seria perder a autonomia que queremos!" Para Rogério Claro, o nome de Francisco de Paula Borba é o de "um Homem que, não sendo de Setúbal, a serviu como raros, de si e dela deixando memória notável".

[Este texto foi originalmente publicado no Jornal da Região - Setúbal / Palmela, em Julho de 2000. Reproduzo-o hoje, depois de ter ouvido a excelente palestra sobre a figura de Paula Borba feita pelo seu neto, o eng. Francisco Borba, que, num discurso comedido, equilibrando a emoção de biografar um familiar e o rigor da investigação, apresentou muitas pistas para uma mais completa biografia deste açoriano que foi uma das figuras importantes do primeiro terço do século XX setubalense.]

quinta-feira, 14 de março de 2013

Para a agenda - Sobre Francisco Paula Borba


A figura do médico Francisco Paula Borba vai ser apresentada, em 15 de Março, na Biblioteca Municipal de Setúbal, por Francisco Borba, numa organização do Centro de Investigação Manuel Medeiros, da UNISETI. Para a agenda!

Arrábida no cartaz da Feira de Santiago 2013



A Arrábida, cuja candidatura a património mundial foi já apresentada, vai ser tema do cartaz da Feira de Santiago 2013. Deseja-se que a poesia da serra inunde a alegria da festa...


quarta-feira, 6 de março de 2013

Para a agenda - Gravuras de Maria Gabriel

A propósito do Dia Mundial da Mulher, "40 gravuras-memória", de Maria Gabriel, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, a partir de 9 de Março. Para a agenda.

terça-feira, 5 de março de 2013

Alexandre Castanheira: o espelho de Bocage



Este poema de Alexandre Castanheira (Nascemos para amar. Laranjeiro: Junta de Freguesia do Laranjeiro, 2013) corre sobre três partes, construídas sobre a estrutura de uma carta, longa carta, dirigida a Manuel Maria, “sem aviso de recepção”, qual missiva a um herói, por quem se confessa a admiração, o espanto e a identificação logo na frase inaugural – “foste meu herói na juventude”. O leitor entende desde início esse apego, não só porque a juventude é tempo de dedicação a heróis, mas também porque ela mesma é uma forma de heroísmo.
Manuel Maria, o destinatário, outro não é senão Bocage. E o facto de o poeta seleccionar esta figura é uma forma de metaforizar um percurso de vida, de anunciar, de imediato, que a navegação foi constante nas inconstâncias, apesar de não ter perdido nunca o rumo da liberdade. Por aqui passam as marés da vida como resposta a uma pergunta curta, mas eficaz, sobre a aventura que se escreve, tentando aproximar os trilhos seguidos – “Foste meu herói na juventude. Vida heróica?” A questão é também ponto de partida para retrospectiva, para balanço, necessariamente com implicações autobiográficas, porque a vida só é sujeita a balanço escrito justamente na dimensão do registo autobiográfico. A vida é, assim, apresentada mais nos seus resultados, em que cada ciclo se compôs de miscelânea de esplendor, dor, delação e traição, quatro partes como as das fases da lua ou das estações do ano, sugerindo repetições e contínuos caminhares e aprendizagens, recomeços e passagens pelos mesmos itinerários.
Da adolescência fica o aventureirismo bocagiano, o fascínio pela inconstância e pela incontinência da contínua descoberta, inclusivo a de que a paisagem configurada pelo Tejo e pelo Sado foi comum ao poeta de outrora e ao poeta de agora. Mas também o retrato dos desejos e do pensar foi semelhante: as deidades, a liberdade, a prisão… a corrida em decalque que fez dos dois poetas companheiros, afinal.
Esta reflexão leva a que sejam deixadas interrogações sobre a fortuna bocagiana e a forma como a memória a tratou – “Como foi possível?” –, outros tantos pontos de partida para que o poeta de hoje construa o compromisso com o conhecimento do vate, com o respeito por essa memória, no fim de contas outra forma de impor o respeito pela memória do seu próprio percurso, dois seres dotados de singularidade e de sonhos – “obriguei-me a lutar publicamente pela tua memória” e “espalhei por toda a parte o que outros escondiam” constituem versos de verdades compromissivas, reflectidas num trabalho militante, de tal forma comprometido que as palavras deste ícone da juventude do poeta foram “tão fácil e profundamente” memorizadas que acabaram por condicionar os “insignificantes versos pessoais” do poeta de agora. Diria Camões, ainda que num outro plano de emoções, que se transformou o amador na coisa amada…
As expressões de Bocage povoam, por isso, o final desta “carta” (e alimentarão todos os poemas), confessando que tais palavras, o estro de Elmano, constituíram código para preconização do futuro e denúncia de um presente, que foi o percurso sofrido, revoltado e cívico do poeta. E o mestre acaba por ouvir a genial confissão e fulgurante verdade: “percebes agora por que te desvendo alguns poemas!”, justificando-se de imediato com a devoção que orientou o que poderia ser um atrevimento: “Só queria fazer reviver a tua genial Poesia!”
Assim Alexandre Castanheira justifica o seu encetar na peregrinação poética deste Nascemos para amar, título que, sendo na primeira pessoa, pretende estabelecer, no uso do plural, um compromisso com a vida, a ser assumido por cada leitor, por cada poeta, numa mensagem forte e incondicionalmente resignada à fraternidade e a um destino que deve ser comum. O título é, de resto, o eco da questão lavrada no final do livro, quando ao leitor nada mais resta do que um desafio, enformado numa visão existencialista: “Que fazemos no mundo?” E a solução parece ser, afinal, a verdade crucial que veste o título, pois que, entre os dois poetas, correu o sentimento da fraternidade, mesmo que apenas demandada – “Ambos amamos a liberdade e lamentamos / a louca, cega, iludida Humanidade sem amor”.
Os poemas que dão corpo à carta, uma espécie de autobiografia, são fortemente caucionados por Manuel Maria, quer porque cada uma das duas partes toma para título versos bocagianos – “Reconheço que há vontade e não destino” e “Ludibrio, como tu, da sorte dura”, um e outro a deixarem a tónica sobre a vontade, sobre o ser que se confronta com o mundo –, quer porque quase todos eles são eivados de expressões ou versos do mesmo patrono, devidamente assinalados. E a reconstituição do percurso avança sobre mapas que se desdobram nos avanços e recuos, na esperança e no desespero, com momentos de afinco que se alicerçam no(s) rio(s), sejam eles pátrios e próximos ou “aristocráticos” e substituintes, símbolos de rotas e de esperanças. Os poemas cartografam a procura da liberdade, a luta contra a distância, a busca da conformidade do pensamento com a vida, até uma promissora manhã primaveril, “dia imortal” e libertador, num percurso de onde não estão ausentes os registos da preocupação cívica ou da voz que se levanta contra os despotismos, sejam eles ferrolhos das ideias, dos poderes, do amor.
Não tendo ficado tudo dito nos poemas que tecem o corpo desta carta, há lugar para um “Post scriptum”, poema que reavalia os tempos, as similitudes dos percursos, que assume o tom autobiográfico – “Aqui termino, caro Bocage, a invenção / de fragmentos de uma vida, totalmente adição / de mil vidas sofridas que vi a meu lado / e de outras tantas que a mim chegaram / relatadas a medo como se fossem imaginadas.” O poema reconstitui a vida, escreve-a, quase a esteando, buscando a reconstrução e alimentando a memória, levando-a aos leitores por um gesto de partilha, não para impor uma ou outra versão do que a vida é ou foi, antes para que o poeta se reveja numa unidade possível, mesmo que ela nos ocorra através do espelho de Bocage. É esta reconstrução do monumento da vida que Alexandre Castanheira nos propõe em Nascemos para amar.
[Prefácio à obra Nascemos para amar, de Alexandre Castanheira,
apresentada em 1 de Março no Laranjeiro e,
em 2 de Março, em Setúbal, na Biblioteca Municipal]

sábado, 2 de março de 2013

Para a agenda - Alexandre Castanheira


Alexandre Castanheira na Biblioteca Municipal de Setúbal, hoje, às 16h00. Nascemos para amar, um poema com recorte autobiográfico com Bocage por companhia e por motivação. A não perder. Para a agenda!